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Companhia prova que a dança também nasce do silêncio
Por Rení Tognoni
Da Redaçao
24/10/1999 | 17:15
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  É possível dançar toda a intensidade melódica da música de Johann Sebastian Bach sem que se possa ouvi-la? O Grupo de Dança Integrarte, de Sao Bernardo, formado em sua maioria por bailarinos com deficiência auditiva, provou, durante quase quatro anos, que sim. Neste período, a companhia apresentou diversos espetáculos - mais de 20 por ano - que mesclaram balé clássico, dança moderna, contemporânea e até popular, como o tango. Interrompido no início deste ano por falta de dinheiro, o trabalho artístico será retomado com uma estrutura mais adequada, promessa de sede própria e com ajuda de custo aos bailarinos, concedida pela Prefeitura de Sao Bernardo. A partir desta segunda estao abertas as inscriçoes para bailarinos - deficientes auditivos ou nao - interessados em participar do Integrarte.

Para tanto, os bailarinos devem ter mais de 15 anos de idade, comprovarem matrícula em algum curso regular, além de disponibilidade para comprometer cinco horas por dia, de segunda a sexta-feira, com os ensaios. As inscriçoes podem ser feitas desta segunda até quarta-feira, e de 3 a 5 de novembro, na Secretaria de Educaçao e Cultura de Sao Bernardo (av. Wallace Simonsen, 222, tel.: 7670-1138).

Até o ano passado, os componentes do Integrarte recebiam uniformes, auxílio-refeiçao e, pelo fato de serem alunos das escolas municipais de educaçao especial, também usavam o transporte coletivo gratuitamente. Mas muitos, que se iniciaram na dança ainda adolescentes, precisaram deixar o grupo em busca de atividades remuneradas (a maioria assumiu ocupaçoes informais) para contribuir financeiramente com a família.

"Cada um buscou o seu caminho e nós incentivamos. No início do ano, conversei com eles e decidimos parar. Eu ficava conseguindo migalhas para o grupo e resolvi tentar regularizar a situaçao para retomar as atividades", diz o bailarino e coordenador do Integrarte, Antônio Carlos Fontalva, fundador do grupo junto com Geisa Minzoni Dias, também bailarina.

O Integrarte só retorna agora por causa de um convênio firmado entre a Prefeitura e a Assite (Associaçao Santo Inácio para Integraçao do Trabalho Especial), situaçao que permite ao grupo de dança, além do direito de pertencer à instituiçao, receber verbas do município. O convênio foi assinado em setembro passado. "Nao tínhamos como fazer legalmente esse repasse de verba ao grupo. Ampliamos o nosso convênio com a Assite, que trabalha com a integraçao do deficiente em atividades industriais e rurais, e vamos reativar o Integrarte com força total", afirma o secretário de Educaçao e Cultura, Admir Ferro.

O convênio estabelece a contrataçao de 19 estagiários remunerados - 16 deficientes e três ouvintes - com salário de R$ 300 (25 horas semanais) ou R$ 500 (40 horas). Eles receberao treinamento adequado para que atuem como bailarinos e arte-educadores. "Este será o corpo de dança oficial do Integrarte", diz Ferro. Segundo ele, este grupo de 19 estagiários/bailarinos também ministrará cursos de dança para alunos, com ou sem deficiência auditiva, a partir de março do próximo ano, quando serao abertas 100 vagas.

"A base do nosso trabalho é a inclusao social. A integraçao com o ouvinte ajuda a nao segregar o deficiente na sociedade. Hoje existem muitos deficientes vendendo adesivos em faróis, e isto é mendicância, nao trabalho. A idéia é tirá-los das ruas e dar-lhes novas oportunidades", diz a chefe da Seçao de Educaçao Especial da Secretaria de Educaçao e Cultura, Tanya Cecília Bottas de Oliveira.

A sede do Integrarte será inaugurada em março de 2000, quando deve estar pronta a restauraçao da antiga Igreja Presbiteriana Independente de Sao Bernardo (localizada na r. Dr. Fláquer). O prédio, construído em 1944, foi tombado em 1984 pelo Patrimônio Histórico Municipal e está em reformas para abrigar o grupo. A obra, segundo o secretário, está orçada em R$ 147 mil. "Queremos transformar a antiga igreja em pólo de formaçao para o portador de deficiência", diz Ferro.




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