Uma estudante de 16 anos foi detida quarta-feira pela Polícia Militar acusada de tentar matar a dona-de-casa L.M.S., 45 anos, que a criou até os 14 anos. As duas não moravam mais juntas porque a mulher perdeu a guarda da garota após denúncias de agressão. No dia do crime, a jovem teria ido à casa da mãe adotiva tentar uma reconciliação, mas acabou atacando-a com uma facada no peito. A mulher está internada sem risco de morte no Hospital Nardini.

Desde que deixou a casa da mãe adotiva, a jovem passou por alguns orfanatos e há seis meses passou a morar com a família do pintor A.Q.S., 67 anos, seu curador. Ele afirma que, apesar do histórico de desavenças com L., a jovem queria uma reaproximação.

Quinta-feira, às 15h30, após sair do curso supletivo de uma escola no bairro, a garota foi até a casa de L., localizada na rua Dona Sebastiana Antônia da Silva, no Jardim Zaíra 4. A porta da casa estava fechada e a garota pediu para a mãe abri-la. No entanto, o pedido foi negado e as duas passaram a discutir. A garota então pulou o muro e conseguiu entrar na residência. De acordo com a polícia e testemunhas, a estudante partiu para cima da mãe, sacou uma faca de cortar pão que levava consigo e a enfiou no peito de L., que caiu no chão deitada de costas.

Um vizinho, primo da estudante, ouviu toda a briga, entrou no local e deteve a garota até a chegada da Polícia Militar. Os policiais levaram a mulher até o pronto-socorro do Hospital Nardini, onde ela está internada sem gravidade, apesar do ferimento profundo no peito. Segundo os policiais que atenderam a ocorrência, a garota confessou a tentativa de homicídio e a justificou dizendo que não tinha uma boa relação com a mãe.

A estudante foi encaminhada à Delegacia de Defesa da Mulher, autuada por ato infracional e conduzida até a Vara da Infância e Juventude de Mauá. Essa foi sua primeira infração. A jovem não tinha envolvimento com drogas, segundo seu curador e o Conselho Tutelar.

"Essa menina tem muitos traumas e mágoas que se arrastam desde a infância e que resultaram em diversos problemas familiares. Vamos realizar um trabalho para tentar melhorar sua condição", afirmou o conselheiro tutelar Márcio Araújo, responsável pelo atendimento da estudante.

"Ela é uma menina muito rebelde e revoltada. Conversamos diversas vezes e dei vários conselhos para ela, que me respeitava muito. Mas vejo que não adiantou", disse o curador, morador do Jardim Zaíra 6.

O pintor e sua mulher conheceram a adolescente quando ela buscava uma outra residência para morar. "A namorada de meu filho conhece umas pessoas do Conselho Tutelar e ela acabou sendo apresentada à menina. Recebemos um pedido feito por ela própria, se poderia ir morar conosco. Ficamos comovidos com a história dela e resolvemos aceitar. Fomos até o Conselho Tutelar e eu virei o curador dela", afirmou o pintor.

O curador conta que, durante o período em que abrigou a adolescente, não teve nenhum problema grave. "Só foi malcriada com a minha mulher umas duas vezes, nada mais, por causa de seu jeito rebelde. Nunca mexeu com drogas. Além de fazer o supletivo, ia para aulas de artesanato da Prefeitura", contou o pintor.

O curador reconheceu a faca de cortar pão utilizada pela adolescente para ferir a mãe. O objeto foi retirado de sua casa após o café da manhã.

"Talvez ela já tivesse algum pressentimento do que poderia ocorrer na visita que ia fazer à mãe. Acho que ficou muito nervosa quando a mãe não quis abrir a porta e, em um ato de desespero, pegou a faca e aplicou o golpe. É muito complicado saber como age a cabeça de uma menina que passou por tantos problemas", argumentou o curador.