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Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024

Turismo
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Guias são necessários
Manual para desbravar deserto mais árido da Terra
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
14/02/2019 | 07:24
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Soraia Abreu Pedrozo/DGABC


O primeiro passo para conhecer a região é escolher uma agência ou um guia para chamar de seu. Apesar de ter turista que se arrisca a explorar o local sozinho, de carro ou bicicleta, isso não é o recomendável, até porque, em alguns lugares, só funcionam os telefones satelitais. E se a internet falhar, apesar de muitos dos caminhos para os passeios serem bem sinalizados, com placas que contêm os dizeres ‘Ruta del Desierto’, ou ‘Rota do Deserto’, com uma estrela que é o símbolo do Chile, é um destino em que faz toda diferença ter esse apoio logístico e turístico. Sem contar que geralmente os tours têm piqueniques deliciosos cheios de iguarias locais – que incluem também vinhos, espumantes e cervejas para um brinde.

Decidi desbravar o deserto em tours semiprivados, com o guia indicado pela dona da casa que aluguei pelo Airbnb, a Carolina Arenas, e digo com todas as letras que foi a decisão mais acertada que tomei. Fez toda a diferença em alguns aspectos, que listo a seguir: sou sedentária, e alguns passeios exigem algum preparo físico, por menor que seja, o que fez com que ele montasse roteiro sob medida; tenho paúra de multidões de excursões, o que em muitos momentos foi fundamental ter essa liberdade, pois ele seguia sempre o contrafluxo, sem prejudicar os melhores momentos para cada atividade, e levava em locais pouco explorados turisticamente, o que rendeu experiências e fotos memoráveis; por ir explicando, tranquilamente, sobre os lugares e sua história, sem pressa, o que nos deu mais do que um guia, um amigo.

Eis Alexandre Toledano, que, após trabalhar para empresas maiores, decidiu abrir a Tolhuin Expeditions. Franco-espanhol, Alex, como gosta de ser chamado, se apaixonou por uma equatoriana que vivia no Chile, e então se mudou para o país há cinco anos, sendo dois deles em San Pedro, e aliou duas paixões, a mulher e o montanhismo. Tanto que ele é vice-presidente da Associação Chilena de Guias de Alta Montanha, ou seja, entende do que faz e é treinado para oferecer primeiros socorros. Ele fala espanhol, mas é muito paciente, entende o nosso ‘portunhol’ e ainda por cima sabe manejar câmeras profissionais e tira fotos lindas dos visitantes.

Embora já tivesse alguns pontos turísticos que sonhava em conhecer, como o Valle de la Luna, as Lagunas Altiplánicas e as Termas de Puritama, ele entendeu meu perfil, viu o que estava funcionando – o Salar de Tara, por exemplo, tinha sua principal área fechada por determinação da Conaf (Corporação Florestal Nacional do Chile), que considerou que a infraestrutura do local, um dos cartões-postais da região, não estava habilitada a receber visitantes no momento. E fez sugestões com base nele, a exemplo de Valle del Arcoiris, Laguna Lejía, Parada de las Vizcachas e Pozo 3. O que fez da experiência ainda mais inesquecível.

Todo dia de manhã, Alex fazia check list para ver se estávamos com as roupas necessárias – muitas vezes tínhamos de sair encapotados, e ao longo do dia íamos tirando as camadas de roupa, e, dependendo da duração do passeio, voltávamos a vestir blusa, gorro e cachecol, mesmo no verão. Também perguntava se havíamos passado protetor solar e levado água – é mais que fundamental se hidratar o tempo todo no Atacama. Tanto que na região são vendidas garrafas de três litros, ideais, pois a necessidade de beber água é iminente e, inclusive, evita enjoos gerados pela altitude e pelas curvas das estradas, assim como ingerir pouco álcool.

Vale lembrar que, tanto pela Tolhuin como por outras agências, o preço pago se refere ao serviço e ao transfer. As entradas dos locais turísticos, todos gerenciados pelas reservas indígenas e com regras severas, que são cumpridas à risca, a fim de preservar a natureza, são pagas à parte.

PARA DRIBLAR O CUSTO - Verdade seja dita, o Atacama não é dos destinos mais baratos. Embora o voo seja acessível, quase todo o resto pesa no bolso – é possível desembolsar em torno de R$ 400 na passagem ida e volta com mala despachada incluída pela aérea chilena low-cost Sky, desde Santiago, e para ir de São Paulo à capital chilena (não há voos diretos) os preços ficaram mais competitivos, também pela recente entrada da empresa no mercado brasileiro, e dá para gastar entre R$ 600 e R$ 800, dependendo da época do ano.

Por estar isolada no deserto, San Pedro pratica preços elevados de hospedagem e alimentação. Sua hotelaria, por exemplo, é de extremos, há opções baratas de hostels, que propõem quartos e banheiros compartilhados (a partir de R$ 200), mas quando se procura por algo privado, valores são altos para acomodações simplórias (em torno de R$ 400), ou exorbitantes para os que oferecem algum luxo, como piscina, all inclusive e tours particulares (a partir de R$ 5.000). Essa dificuldade, no entanto, poder ser driblada ao alugar casa e preparar seu café da manhã, caso não inclua no dia do passeio, e seu jantar em dias alternados. Há vendinhas que dispõem de alimentos a preços módicos – perto da casa que em fiquei, o Ecohostal (seis diárias para duas pessoas giram em torno de R$ 1.500, cerca de R$ 250 por dia, pelo Airbnb), distante dez minutos de caminhada do pueblo, havia três delas.

Dessa forma, é possível investir nos passeios, que são a vedete da viagem, e nos transportam a universo paralelo, tamanha beleza que comove até mesmo os mais céticos. Garanto, vale cada centavo.
 




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