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Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Obsessão cega
Por Rodolfo de Souza
26/07/2018 | 07:00
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 Sei que toda obsessão é cega, procure relevar. Uma delas, inclusive, diz respeito ao aspecto externo do corpo humano nesta época em que se cultua e se vende muito a estética perfeita. Perfeição segundo a ótica de quem negocia, logicamente. Revistas e demais publicações definem o perfil ideal que deve ser perseguido, porque é ele que coloca a imagem em destaque numa sociedade que privilegia somente as coisas, dentre as quais o físico, cuja silhueta nos devolve o espelho implacável e cheio de verdades. Malvado!

A tristeza por causa daquela sobra que faz parte do ser humano daqui e de qualquer lugar, sempre conduz a pessoa às academias, às dietas, às corridas, a um sem fim de dicas que certamente o levará a perder calorias e, consequentemente, peso. Sem falar das receitas milagrosas encontradas em revistas que se metem a falar sobre o assunto, justamente porque as editoras sabem que este vende, e muito. É o chá disso, é o chá daquilo, é a fruta que antes servia unicamente para repor as vitaminas e que agora serve para emagrecer... E tudo isso enlouquece quem tem uns algarismos a mais na balança e peleja para perdê-los.

E os milagres não param. Desde folhas verdes de qualquer planta repugnante ao paladar, a verduras exóticas que nem são encontradas no mercado, tudo é procurado obstinadamente para que se possa sonhar com aquele corpinho que só aparece nas fotos das revistas e na TV. Despreza-se, pois, esse físico, templo sobre o qual permanecemos de pé neste mundo de incertezas, simplesmente porque não é lindo como o que a mídia protagoniza. Parte-se, então, em busca dele, do mais belo, do mais saudável. E o vaidoso de qualquer sexo corre atrás de receita que possa fazer, dele ou dela, meio parecido com as pessoas que exibem perfeição nos apelos publicitários.

E, ainda, conhecedores que são desta febre que persegue gente que não é feliz com o próprio corpo, porque aprendeu que ele não lhe serve assim como é, tem os esteticistas do tipo cirurgiões, que promovem verdadeiras feiras de beleza em que as intervenções são os remédios que levam à conquista de um sonho.

Nem sempre, entretanto, fica feliz o cliente, com sua nova aparência, uma vez que nem todos os profissionais têm a formação adequada para o trabalho, ou sequer formação. O resultado, como já vi em várias reportagens, é uma sequência desastrosa de cicatrizes horrendas que levam o freguês a ter uma saudade imensa do bom e velho corpinho. Pior do que isso são as notícias sobre procedimentos que levaram e continuam a levar pessoas, sobretudo, mulheres, a perderem suas vidas. Todas em busca do milagre que a lipoescultura, e só ela, pode oferecer. O próprio nome da coisa, diga-se de passagem, já sugere picaretagem.

Conclui-se, pois, que o jeito é mesmo se conformar com aquela barriguinha, com o pneuzinho e com a ideia de que a lei da gravidade é implacável e tende a derrubar tudo neste corpo perfeito, inclusive o próprio. Sabe, amigo leitor ou leitora, desconfio que bom mesmo é gostar dele tal qual ele nos fora concebido e tal como se desenvolvera. Até porque, diante dos fatos e das evidências, só podemos concluir que, seja lá como for o nosso aspecto externo, o melhor é partir para o abraço e deixar de bobagem, solução definitiva para a conquista da beleza de verdade.




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