Política Titulo Contradição
Em Diadema, servidor fantasma afirma que assinou ponto sem ver

Assessor de Cida Ferreira, Aldevino Neto diz ser funcionário externo, admite ‘equívoco’ e garante que não foi à praia em horário de expediente

Por Daniel Macário
Especial para o Diário do Grande ABC
31/03/2015 | 07:00
Compartilhar notícia
Marina Brandão/DGABC


Assessor parlamentar da vereadora de Diadema Cida Ferreira (PMDB), Antonio Aldevino Neto revelou que assinou sem ver o espelho de ponto que registra sua frequência na Câmara. Ontem, o Diário mostrou documento em que o servidor, conhecido como Netinho, disse ter trabalhado em dias que não tinham chegado.

Suspeito de ser funcionário fantasma, Aldevino Neto foi encontrado ontem de manhã pela equipe do Diário fazendo vistorias na Rua das Cerejeiras, no Jardim ABC. E se contradisse diversas vezes ao tentar explicar a folha de registro com dados conflitantes e as acusações de que não aparecia no Legislativo há dois meses.

“Isso é uma folha de ponto. É como cartilha que vem do RH (Recursos Humanos). Não vem mensalmente, ela já chega do ano inteiro. Pode ser que foi equivocado e as assinaturas passaram despercebidas. Porque você vai seguindo uma sequência”, afirmou o servidor, assim que viu o espelho de ponto obtido pelo Diário.

Antes, Aldevino garantiu que não tinha assinado a presença até o dia 31 de março. Alegou que estava a serviço externo e que a foto publicada no Facebook no dia 24, durante horário de expediente, foi tirada num fim de semana. Ele argumentou ter passado os dias 21 e 22 em Paraty, no Rio de Janeiro, e retornado normalmente para trabalhar no dia 23, uma segunda-feira. “Não é porque trabalho na Câmara que não posso aproveitar meu fim de semana.”

Ao ser questionado como anota o horário de trabalho, o servidor novamente entrou em contradição e, desta vez, deixou claro que, ao contrário de outros funcionários, não recebe a folha de ponto anualmente. “Eu não recebi a do ano inteiro. Recebo mensalmente”. Irritado, o funcionário chegou a questionar a reportagem sobre qual a finalidade das perguntas. “Eu preenchi (a folha) completa, não lembro a data, e está aí. Eu só quero saber onde você quer chegar. Acho que está na profissão errada. Você deveria ser investigador. Afinal, quem pagou para você vir aqui?”

O assessor parlamentar informou que estava em atividade ontem, desde as 7h, contrariando seu preenchimento da folha de ponto, que mostra seu horário de entrada às 8h. “Não tenho como fazer esse controle. Vou à Câmara algumas vezes e não tenho anotado o horário que faço a cada dia. A Cida liga quinzenalmente para confirmar como esta minha frequência e eu relato para ela.”

Ontem, no gabinete da vereadora, a repercussão da matéria virou motivo de chacota. Colaboradores afirmaram que a equipe de reportagem estava procurando o funcionário fantasma, dando risada na sequência. Outro chegou a comentar que tinha visto Netinho pela manhã no prédio, informação que foi negada pelo próprio assessor.

Cida não retornou aos contatos do Diário.


Dourado evita investigação sobre o caso: ‘Não é minha função’

Caio dos Reis

O presidente da Câmara de Diadema, José Dourado (PSDB), negou ontem a possibilidade de abertura de sindicância interna para investigar a possível fraude ao sistema de marcação de ponto do Legislativo. “Não é minha função discutir isso”, sintetizou o parlamentar, ao ser questionado pela equipe do Diário quais medidas seriam adotadas pela presidência a respeito de Antonio Aldevino Neto, que diz ter trabalhado em dias que sequer chegaram.

O tucano argumentou que a mesa diretora debate há algum tempo a implantação de sistema biométrico, abandonando as folhas de ponto. “A gente já está trabalhando na modernização desse sistema há muito tempo”, declarou o vereador, sem conceder mais detalhes de como anda essa discussão.

Por ser assessor de vereador 1, Aldevino Neto recebe R$ 3.628,72 mensais. Sua carga horária é de oito horas diárias, com uma hora de almoço.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;