Cultura & Lazer Titulo Em São Bernardo
Três atores e um operário presidente
28/11/2009 | 07:00
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Os três são um só: o presidente. Correto? Representam diversos momentos da vida do homem, antes de virar presidente. Felipe Falanga interpreta Luiz Inácio aos 7 anos, Guilherme Tortolio faz Luiz Inácio da Silva aos 13, quando ele se forma como torneiro mecânico, e Rui Ricardo Dias encarna Luiz Inácio Lula da Silva, o metalúrgico. Nenhum deles é, de fato, o presidente, porque o personagem retratado em "Lula, o Filho do Brasil" termina o filme em 1980, antes das tentativas que o levaram ao cargo.

E justamente hoje será um dia importante para Felipe, Guilherme, Rui. Pela primeira vez, eles vão ver o filme com o homem, com o próprio Lula. A sessão da noite, em São Bernardo, promete ser emocionante. O presidente Lula vai ver o filme com a família, os amigos e correligionários que o acompanharam na sua trajetória de retirante e sindicalista ao Planalto.

Qual será a reação do homem? Mistério. O filme está sendo chamado de eleitoreiro, chapa branca. As acusações vão acompanhá-lo sempre. Para se defender, Lula, o Filho do Brasil só tem a si mesmo. Pode-se criticar muita coisa no filme, pode-se até negá-lo, mas sempre com uma ressalva - salvaguardando o elenco. Você poderá conferir só a partir de 1º de janeiro.

Glória Pires faz dona Lindu, a mãe de Lula, e Guilherme Tortolio diz que o filme é ela, sobre ela. Não se iludam. A mãe é fundamental. Prepara os filhos e o filho - aquele filho - para ser teimoso e se levantar não importa quantas vezes caia. Dona Lindu não sabia, mas talvez fosse, na vida, uma personagem felliniana - essa teimosia, o reerguer-se sempre, caracteriza a Guilietta Masina de As Noites de Cabíria.

A mãe pode ser metáfora da pátria, mas o filme é sobre o filho do Brasil. Todos os Lulas já conhecem o homem. Guilherme conversou uns 20 minutos com ele. Rui, 30 segundos, o tempo de um aperto de mão. Rui, o primeiro a ser escolhido para o papel, foi a matriz para os outros. Ele veio do teatro. Preparou-se física e emocionalmente, mas se você pedir que imite Lula ele vai dizer que não sabe. Seu segredo, em cena, não é a voz. É o olho marejado.

Quarta-feira, 16h. Dois dos Lulas, Felipe Falanga e Guilherme Tortolio, já estão no local em que vai se realizar a entrevista. Passam-se cinco minutos da hora marcada. O terceiro Lula, o adulto - Rui Ricardo Dias -, chega esbaforido, desculpando-se. A rigor, nem se trata de um atraso, numa cidade em que o trânsito relativiza os horários e 16h poderia virar 16h30 sem que ninguém reclamasse. Todos os Lulas. A entrevista pode começar:

Muita expectativa para a pré-estreia? Afinal, é a primeira com o próprio presidente...

RUI RICARDO DIAS - Acho que vai ser bacana, emocionante. Sou ator de teatro, acostumado a ver a cortina se levantar todo dia, mas é diferente. Na tela, a interpretação está ali definitiva, para sempre. Ainda não me acostumei. E, desta vez, o próprio personagem que represento estará presente. Mesmo que ele não fosse o presidente, seria uma responsabilidade. Aliás, mesmo que Lula não tivesse chegado a presidente e tivesse ficado só como sindicalista, em São Bernardo, acho que sua história já mereceria ser contada como um recorte possível do Brasil, da nossa força, da nossa tenacidade. O filme tem sofrido todas essas acusações de eleitoreiro, chapa branca, melodramático. O próprio esforço de vocês se arrisca a ir para o ralo, porque no afã de fixar posição contra o filme muita gente passa com o rolo compressor.

GUILHERME TORTOLIO - Acho que não entendem, ou não querem entender. Inventam muita m... O filme não é sobre ele, é sobre a mãe dele. É sobre a família. Não é sobre política, quer dizer, tudo é política, até respirar, estar aqui falando. Mas o filme é sobre a vida do brasileiro. Do meu ponto de vista, participar dessa experiência foi uma coisa muito rica. Sou competitivo. Gosto de ser o melhor no que faço e fui fundo para fazer o personagem com o máximo de verdade possível. Acho que conseguimos, agora não falo somente por mim.

RUI - Para o ralo não vai, não, porque tem gente séria que reconhece o esforço. Mas, por outro lado, não querendo ser ingênuo, as reações ao filme são muito interessantes de ser analisadas. As críticas terminam dizendo mais sobre os veículos do que sobre o filme. Ninguém é burro. Ninguém é obrigado a gostar de Lula, o Filho do Brasil. Mas os ataques que se fazem à obra, em nome de uma, digamos, isenção, revelam um comprometimento muito forte com o outro lado. Tem jornal que considera o longa um ato político e nem se dá ao trabalho de pedir aos críticos que o analisem. As análises têm sido feitas por profissionais de outras áreas. O filme já era criticado antes de ser visto. Ou seja, agem exatamente como acusam o filme de estar fazendo. Isso é estranho, no mínimo. Talvez um dia, a obra consiga ser olhada com outros olhos, passado esse momento, não sei. Mas gostaria que ele não fosse visto com tanta paixão e fosse encarado como filme - um filme que conta, aí sim, vamos ver se bem ou mal, uma história que merece ser contada.

Cada um de vocês tem sua grande cena no filme. A do Felipe é quando o Lula, pequeno, peita o próprio pai, que se opõe a que os filhos frequentem a escola e ameaça bater em dona Lindu. Embora pequenino, você berra com o Milhem Cortaz, um ator intenso, que faz o pai, gritando que homem não bate em mulher.

FELIPE - Essa frase veio do teste e foi mantida no filme. Acho até que me escolheram por ela, do jeito como eu disse. Quando conheci o Lula, foi sobre o que ele perguntou. Sobre a Glória como mãe dele. Acho que é o que ele está mais curioso, não sei, achando que vai reencontrar a mãe. Mãe é sempre importante, né?

A sua grande cena, Guilherme, é quando o jovem Luiz Inácio rouba um beijo da garota.

GUILHERME - Eu acho que as minhas cenas fortes são com a mãe, porque dona Lindu é a personagem principal. É o jeito como vejo o filme. Mas também acho essa cena bonita.

No seu caso, Rui, fica mais difícil dizer qual é a grande cena, mas pessoalmente acho que é a do estádio de Vila Euclides, quando o sindicalista Lula convoca os metalúrgicos para uma assembleia, surge aquela multidão, ele não tem microfone e fica pedindo aos colegas que vão transmitindo aos demais o que ele diz.

RUI - Aquela cena foi muito forte, muito bonita. Exigiu muita preparação e haviam muitos figurantes, entre eles metalúrgicos que haviam estado lá, na época, e reviviam aquele momento como se tivessem entrado num túnel do tempo. Eles choravam de emoção e eu também. Aquele é o momento em que o Lula começa realmente a fazer história. Aquilo é outra forma de recontar a história do Brasil, do ângulo dos trabalhadores. Mas a cena mais difícil para mim foi outra, quando o Lula perde a primeira mulher e o filho durante o parto. Foi o momento mais difícil de representar no filme. Chorei na cena, uma das mais marcantes.




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