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Números da pobreza se mantêm estáveis no ABC
Nicolas Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
08/12/2002 | 20:42
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Cerca de 51 mil crianças de até 6 anos do Grande ABC vivem em casas onde a renda é de no máximo R$ 400 por mês, quantia considerada insuficiente pelo IBGE para que possam ter uma vida digna. Os números são parte dos Indicadores Sociais Municipais do Censo 2000, divulgados pelo órgão no fim do mês passado.

Na comparação entre este e o Censo de 1991, quatro cidades da região se mantiveram estáveis neste quesito. São Caetano e Rio Grande da Serra conseguiram melhorar a condição das crianças e São Bernardo teve uma piora no quadro da pobreza.

O levantamento do IBGE não considera o número de crianças por domicílio – ou seja, entre essas 51 mil crianças, há casos em que menos de R$ 400 servem para alimentar mais de uma delas.

No Brasil, 40% das crianças com até 6 anos vivem nessas condições, contra 18% na região. Embora a situação no Grande ABC seja melhor do que a média nacional, passada uma década, em cinco cidades não houve redução do problema. “O IBGE utiliza o limite de 6 anos porque acreditamos que esta fase inicial do desenvolvimento da criança requer estrutura sólida em termos de renda adequada do chefe de família e saneamento na moradia”, disse a técnica do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE Bárbara Cobo.

Segundo o órgão, 14,3 mil crianças com até 6 anos de São Bernardo viviam, em 2000, em casa onde a renda máxima era de R$ 400. Em Santo André, eram 11,6 mil crianças; Mauá, 10,7 mil crianças; Diadema, 9,6 mil; Ribeirão Pires, 2,4 mil; e Rio Grande da Serra, 1,5 mil. São Caetano, com os menores números absolutos e percentuais, tinha 790 crianças.

Para a professora do Departamento de Geografia Urbana da USP Amália Inês Geraigef de Lemos, a desindustrialização da região na década de 90 pode explicar o alto nível de desemprego e a atual situação de pobreza. “A região sempre teve uma alta concentração de indústrias. Nas últimas décadas, muitas delas deixaram o ABC, dando lugar a novas indústrias e comércios que exigem maior especialização do funcionário”, disse Amélia.

Além disso, existe a migração de famílias de baixa renda que moravam nas periferias da capital e, para deixarem de pagar aluguel, ocuparam áreas de mananciais na região.

De acordo com a Fundação Seade, 19% da população economicamente ativa do Grande ABC estava desempregada no último mês de outubro – 246 mil pessoas.

Cesta básica – Pesquisa realizada pela Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André (Craisa) mostrou que o valor médio da cesta básica no Grande ABC na última semana de novembro era de R$ 232,38. Realizado em 32 supermercados da região, o levantamento inclui 34 produtos, baseado no consumo de uma família de quatro pessoas, por um período de 30 dias.

A desempregada de Rio Grande da Serra Márcia Maria dos Santos, 22 anos, tira, em média, R$ 250 por mês. Mesmo grávida de nove meses, Márcia sobrevive recolhendo sucata – o material é vendido, para o sustento da filha Tamires. Na última sexta-feira, segundo a desempregada, o pacote de arroz que restava estava pela metade. “Ainda tem de sobrar um pouco para dividir com meu marido. Eu levo para ele na cadeia”, disse Márcia. O pai de Tamires e da criança que está por nascer está detido na Cadeia Pública de Ribeirão desde o mês passado.




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