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Primeiro semestre de 2021 tem 47% mais mortes que em 2020

No mesmo período, nascimentos na região caíram 8,6%, indicam dados do Portal da Transparência do Registro Civil

Aline Melo
18/07/2021 | 08:36
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DGABC


O número de óbitos entre janeiro e junho deste ano foi 46,6% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado no Grande ABC. Foram 9.851 mortes por motivos diversos no ano passado e 14.444 este ano. Já com relação aos nascimentos, ocorreu o oposto. Foram 14.187 novos bebês na região. No mesmo período de 2020 foram registrados 15.530 nascimentos, queda de 8,6%. Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil, administrado pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).

Entre os municípios, São Caetano foi o que registrou a maior alta percentual no número de mortes, passando de 836 perdas no primeiro semestre de 2020 para 1.553 de janeiro a junho deste ano, acréscimo de 85,7%. Com relação à queda no número de nascimentos, a maior diferença percentual foi observada em Santo André. Em 2020, 4.242 bebês nasceram na cidade, 17% a menos do que os 3.518 nascidos em 2021. Apenas Rio Grande da Serra teve aumento no número de nascimentos no período analisado, passando de 226 no ano passado para 146 neste primeiro semestre.

Em todas as cidades, este foi o semestre de maior letalidade da história, desde 2003, e também os seis meses com a menor diferença entre o número de pessoas que nasceram e o número de pessoas que morreram. O segundo, de acordo com a Arpen, é o menor crescimento vegetativo da região dos últimos 18 anos. Segundo informações das sete prefeituras da região, das mais de 14,4 mil mortes registradas no primeiro semestre, ao menos 5.496 pessoas foram vítimas da Covid-19, 38% do total.

“Com o portal da transparência, podemos visualizar a real condição que a sociedade está passando”, comentou o presidente da Arpen/SP, Luis Carlos Vendramin Junior. “Por meio da plataforma, o poder público pode fazer uma análise dos impactos da doença e trabalhar as políticas necessárias para atendimento a esta nova realidade populacional”, complementou ele.

Diretora da Arpen-SP, Kareen Zanotti De Munno destacou que normalmente o Brasil tem um número maior de nascimentos do que de mortes a cada ano. Se o aumento nos óbitos é explicado pela pandemia, a queda no número de bebês que chegaram possui diferentes motivos. “O fato de muitas pessoas terem adiado casamentos já impacta na natalidade. Gestações planejadas também foram adiadas, então tudo isso contribui”, afirmou.

Kareen ainda disse que o impacto dessa situação a médio e longo prazos ainda é imprevisível, mas pode significar o envelhecimento da população, fenômeno que já está em curso e pode ser acelerado. “O brasileiro já vinha tendo menos filhos, mas ainda nascia mais do que morria. Com essa mudança, a média de idade do brasileiro vai ser elevada”, afirmou. A diretora lembrou que sem a realização do Censo, as prefeituras e Estados devem estar atentos a esses dados para poder decidir sobre politicas públicas. “Mas acredito que nos próximos meses, com um número maior de pessoas vacinadas, a tendência é voltar à normalidade.”

Mudança demográfica pode ter efeitos

O coordenador de estudos do Observatório Econômico da Umesp (Universidade Metodista da São Paulo), Sandro Maskio, afirmou que, para que haja efeitos a médio e longo prazo por conta dessa mudança demográfica demonstrada pelos dados do Portal da Transparência do Registro Civil, administrado pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), mais mortes e menos nascimentos, é preciso que essa tendência se confirme e não se reverta após a pandemia de Covid-19.

“Isso se confirmando, haverá grandes desafios de ordens diversas, como a questão da assistência a idosos que têm um ou nenhum filho e não terão quem cuide deles”, citou. “Hoje, existe uma grande demanda por investimentos em creches. Uma queda persistente na natalidade vai fazer com que isso não seja mais tão urgente, mas o Estado vai ter que pensar em unidades de acolhimento para idosos”, completou.

O envelhecimento da população e uma queda acentuada na natalidade, fenômeno que é esperado para o Brasil apenas para meados de 2040 e 2050, podem também trazer situações já vivenciadas por países como Canadá, Portugal entre outros: falta de mão de obra qualificada pela chegada insuficiente de jovens trabalhadores ao mercado de trabalho. “Também vamos ter que lidar com questões relacionadas à Previdência, uma vez que são os trabalhadores formais ativos quem mantêm as aposentadorias, entre outros”, opinou o especialista.

Para Maskio, a grande questão é saber como vai ser o comportamento das pessoas especialmente no período pós-pandemia, sobretudo com relação à natalidade. “Acho um pouco cedo para imaginar que o atual momento vai trazer uma mudança crônica na estrutura do comportamento da sociedade”, afirmou. “Mas a mudança no padrão demográfico traz impactos econômicos e sociais bem grandes, é preciso que os governos estejam atentos”, concluiu. 




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