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Juntar trecos é doença e atinge mais idosos
Por Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
09/12/2006 | 19:36
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O quintal no fundo de uma antiga residência no jardim Helena, em Santo André, está abarrotado de entulho e lixo. Desde 1999, V.M., de 56 anos, acumula em casa papéis, garrafas, latas, sacos plásticos, placas de ferro, madeiras e até pedras em formato de paralelepípedo trazidos da rua. Os materiais que não têm serventia são empilhados com o pretexto de que alguém pode precisar um dia.

Desde agosto de 2005, a Prefeitura de Santo André registrou a existência de 12 casos de acúmulo de lixo em grande quantidade em residências do município. De acordo com o agente de saúde de Zoonose e Vigilância da Saúde da Prefeitura, Aguinaldo Rubens de Souza, o acúmulo de lixo pode causar diversos malefícios à saúde, não só dos moradores da residência, mas também da população vizinha. “Infestação de ratos, baratas e moscas são conseqüências óbvias desse acúmulo”, explica.

V.M. sofre de um transtorno mental chamado Síndrome de Diógenes, que atinge mais idosos e tem como principal característica a mania de guardar lixo e entulho por achar que podem ter alguma utilidade futura.

“Normalmente, somos comunicados sobre casos como este através de denúncias de moradores, que não agüentam o mau cheiro, e por agentes de saúde, que durante campanhas como desratização e de dengue notam algumas anormalidades. Em casos como este, é necessária a participação de vários departamentos da prefeitura, como o Naps (Núcleo de Assistência Psicossocial), no tratamento do doente, do Semasa e da Defesa Civil, para a retirada do lixo.

Nada do que V.M. guarda é vendido a ferros-velhos ou empresas de reciclagem e o lixo já chegou a ocupar outros cômodos da casa que divide com duas irmãs. O quarto de V.M., que fica nos fundos, entre a cozinha e o quintal, é escuro, úmido e permanece trancado. A cama fica imprensada entre pilhas de papel e papelão que começam próximo ao batente da porta e têm a altura do teto.

“Eu saía para trabalhar e quando voltava via a casa cheia de lixo”, revela M.M, 62, uma das irmãs de V.M. Durante as discussões, V.M. alegava que acumulava lixo para vender. “Mas ele nunca vendeu”, reclama a irmã. Junto com o lixo, vieram as baratas, os ratos e o mau cheiro. No quintal dos fundos, as fezes da criação de galinhas – que vivem soltas – ficam esparramadas sobre garrafas e entulho.

A retirada do lixo está sendo negociada entre a prefeitura e V.M., que discorda da necessidade da limpeza da casa e não admite estar doente. “Eu guardo essas coisinhas aqui e não incomodo ninguém”, resmunga.

De acordo com a psicóloga e diretora do DVS (Departamento de Vigilância e Saúde) da prefeitura, Maria Luiza Salermo, a não aceitação da doença e o fato de se sentir cheio de razão são comuns neste tipo de caso. Já M.M. desconhecia a existência da doença e acreditava que o irmão juntava lixo somente por pirraça. A Prefeitura está agendando a retirada de entulho da casa.




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