Política Titulo Ribeirão Pires
OSSPUB fecha e
dono abre outras ONGs

Presidente da entidade, Edison Dias Júnior, que comprou
carro com dinheiro público de Ribeirão Pires volta à ativa

Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
16/12/2012 | 07:00
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Após a Prefeitura de Ribeirão Pires romper o contrato com a OSSPUB, a entidade encerrou suas atividades e fechou a sede localizada no município. Mas, o presidente, Edison Dias Júnior, ativou outras duas organizações e agora presta serviço no Interior. A OSPUB gerenciava o Hospital e Maternidade São Lucas e as oito residências terapêuticas de Ribeirão. O valor da licitação era R$ 29,5 milhões pelo período de 12 meses. O serviço foi prestado entre julho de 2011 e março deste ano.

O rompimento do acordo entre Prefeitura e ONG ocorreu após o Diário revelar que Edison Dias Júnior comprou um carro de luxo com dinheiro público. Na ocasião, ele utilizou R$ 20 mil que deveriam ser destinados para o pagamento de médicos e deu como entrada em um Toyota Corolla modelo 2011/2012, cujo valor total é R$ 72 mil. A Justiça investiga a irregularidade.

A situação não abalou o empresário, que atua no Interior com o mesmo modus operandi feito no Grande ABC. Após fechar a OSSPUB, Dias ativou a ABBC (Associação Brasileira de Beneficência Comunitária) e o IAPP (Instituto de Apoio a Políticas Públicas). Os escritórios das organizações funcionam em um prédio comercial na Avenida Pereira Barreto, em Santo André. O IAPP, inclusive, encontra-se dentro da corretora de seguros Red Life, empresa de Angélica Dias, mulher de Edison.

A equipe do Diário esteve no local e comprovou que Edison administra as duas entidades. Funcionários afirmaram que o empresário visita as salas comerciais uma vez por semana, no mínimo. "Eu o vejo sempre no prédio", garantiu uma recepcionista. Acerca da ligação entre IAPP e corretora de seguros, a funcionária confirmou que as duas empresas estão no mesmo local. "No caso, é a sala 165, onde funciona a Red Life. Ele fica nessa sala também", declarou.

A reportagem ligou para o número que aparece no site do IAPP e constatou que ali funciona a Red Life. Ao procurar por Edison, a telefonista declarou que ele não estava e somente a secretária dele poderia informar a agenda, mas que o ramal dela estava ocupado.

O prédio comercial onde as empresas funcionam oferece infraestrutura como restaurantes, salão de beleza e cafeteria no piso térreo. O esquema de segurança é reforçado. Para ter acesso às salas comerciais - que podem ocupar até um andar inteiro - é preciso apresentar documento e fazer um cadastro com foto. Quatro recepcionistas e seguranças ficam na entrada do prédio e nas catracas que dão acesso aos elevadores.

 

NOVOS RUMOS

O maior contrato da ABBC é em Itatiba (SP) - licitação foi vencida em julho. A ONG receberá R$ 12,9 milhões para prestar serviço de atendimento à UPA (Unidade de Pronto Atendimento 24 horas). Assim como ocorreu em Ribeirão com a OSSPUB, esse é o único serviço prestado pela organização.

Em termos orçamentários e de população, Ribeirão e Itatiba são parecidas. A cidade do interior paulista possui 101.471 habitantes e tem Orçamento de R$ 270 milhões para este ano. O município do Grande ABC tem 113.068 moradores e R$ 231 milhões previstos para 2012. Apesar disso, o contrato em Itatiba é 56% menor do que da OSSPUB em Ribeirão(R$ 29,5 milhões).

Em dezembro de 2011, o IAPP ganhou seu primeiro e também único certame. A cidade é de Casa Branca, que fica a 215 km da Capital. A parceria foi firmada para "colaborar e potencializar ações na área da Saúde", segundo o edital. A organização venceu a licitação por ter o melhor projeto pelo valor de R$ 433 mil. A Prefeitura foi questionada sobre as ações previstas no edital, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

O contrato teve dois aditamentos em junho. O aporte de R$ 108 mil refere-se aos plantões médicos de 12 horas no Posto de Pronto Atendimento. Segundo a Prefeitura publicou no Diário Oficial do Estado, o número oferecido pela entidade subiu de 93 para 105 plantões. O segundo aporte foi de R$ 53 mil por conta do material e medicamento disponibilizado na unidade de Saúde.

Edison foi procurado no prédio onde a ABCC e o IAPP estão localizadas, mas a reportagem foi informada que ele estava em Itatiba. Posteriormente, houve tentativa de contato por telefone, mas ele também não se encontrava nas organizações. O empresário também não foi localizado pelo celular. O Diário tentou contato com ele entre quarta e sexta-feira da semana passada sempre no período da tarde por inúmeras vezes. O celular estava fora de área e a secretária dele sempre estava com ramal ocupado.

 

 

Ex-diretor financeiro da entidade representa ABBC

 

Ex-diretor financeiro da OSSPUB, Luiz Mauro Comissário aparece como representante da ABCC, de acordo com o edital publicado pela Prefeitura de Itatiba em julho.

Comissário e Edison são investigados na Ação Civil Pública pela compra do carro com dinheiro público. Além de romper o contrato, a Prefeitura exige o ressarcimento do valor supostamente desviado.

Em setembro de 2011, o empresário solicitou à Assist - Cooperativa de Trabalho dos Auxiliares e Assistentes na Área de Saúde, R$ 20 mil para pagamento de médicos subcontratados pela entidade.

De acordo com a presidente da Assist, Fabiane Peçanha, Edison pediu o dinheiro em caráter de urgência e passou a conta bancária de uma concessionária em São Bernardo. A administradora da Cooperativa realizou o pagamento no dia 29 de setembro de 2011.

A gerente da loja, Luciana Guelere, confirmou a operação e garantiu que o carro só foi liberado após a transação bancária - que se resumiu a entrada de R$ 25,3 mil, R$ 20 mil à vista e o financiamento a ser pago em 12 parcelas de R$ 2.611. Edison disse, naquela ocasião, que desconhecia como o dinheiro tinha ido parar na conta da concessionária,

O carro foi liberado no dia 5 de outubro e Comissário buscou o veículo na loja que vende veículos.

Após 20 dias, Edison depositou R$ 20 mil na conta bancária de loja - indício de que o empresário tentou consertar o repasse do dinheiro público. Segundo Luciana, o ex-diretor financeiro da OSSPUB ligou na concessionária e pediu que os R$ 20 mil da Assist fossem devolvidos, pois teria ocorrido um engano. A gerência se negou a devolver o dinheiro.

Com a negativa, Angélica Dias, mulher de Edison, foi à concessionária pedindo novamente a devolução do primeiro depósito. "Ela até comentou comigo que era para ajudá-la porque (a transação) poderia caracterizar lavagem de dinheiro, pois era um dinheiro público", declarou Luciana, na época.

O dinheiro não foi devolvido, pois não houve comprovação do suposto equívoco.

 




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