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As várias verdades e uma mentira

Houve um acordo entre o Brasil, a Turquia e o Irã, é verdade; o acordo é positivo, um passo no caminho correto

Carlos Brickmann
19/05/2010 | 00:00
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Houve um acordo entre o Brasil, a Turquia e o Irã, é verdade; o acordo é positivo, um passo no caminho correto, é verdade. Boa parte do estoque de urânio do Irã, 1.200 quilos, deve ser encaminhada à Turquia, é verdade; e, é verdade, trocado em um ano por 120 quilos de urânio enriquecido na Rússia.
Mas também é verdade que, segundo disse o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o Irã continuará enriquecendo urânio em seu território. Também é verdade que o acordo não obriga o Irã a permitir as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica previstas no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares - inspeções que até agora o Irã se negou a permitir. Ou seja, estamos enxugando gelo: uma parte do urânio tem seu destino conhecido, outra parte continua clandestina, sendo clandestinamente enriquecida, sabe-se lá para quê.
Imaginemos uma situação semelhante. Digamos que as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (que, segundo a diplomacia brasileira, devem ser vistas como "força combatente", e não como traficantes de drogas), proponham um acordo ao governo colombiano: em troca da suspensão das ações militares governamentais, entregam uma parte de seu estoque de armas a um país neutro, que ficará responsável por sua guarda. Mas mantêm parte de suas armas, sabe-se lá quanto, e continuam com o direito de comprar mais armas. Funciona?
Lula conseguiu, é verdade, realizar uma ação diplomática que parece espetacular. Mas a história principal, de que não haverá bomba iraniana, essa é mentira.

O GENERAL QUE NÃO SE LEMBRA
A entrevista do general Maynard Santa Rosa à Folha é terrível: famoso por ter-se oposto, em nome da segurança nacional, à criação de uma reserva indígena contínua na Raposa - Serra do Sol, preferiu usar o espaço que teve para negar o passado - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1705201013.htm. O general disse, entre outras bobagens sobre a ditadura militar, que:
1 - "Nenhum militar torturou ninguém. Se houve, foi no Dops" (Departamento de Ordem Política e Social, oficialmente vinculado à polícia).
Este colunista teve um parente assassinado sob tortura por militares. O presidente Ernesto Geisel demitiu o comandante do 2º Exército, general Ednardo d'Ávila Mello, após mortes por tortura. Por que o general-presidente demitiu o comandante do 2º Exército se não havia militares envolvidos na tortura?
2 - "Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Ou chinês? Não existe, porque não se deixava sair".
Todos conhecem ex-torturados cubanos, russos, chineses - menos o general Maynard. Alexander Soljenitsin é um deles; Anatoly Scharanski é outro; Armando Valladares, mais um. Se o general quiser mais nomes, é só olhar no Google.
3 - "A imprensa, por exemplo, foi amplamente livre".
Este colunista foi um dos que tiveram matérias censuradas. Houve época em que o Jornal da Tarde não podia publicar o nome ‘Leonardo'. Era o nome de um dos censores, que temia ser vítima de alguma piada que passasse batida por ele. O governo queria prender o repórter Fernando Morais por ter ido a Cuba, antes mesmo que tivesse escrito qualquer linha de A Ilha.
4 - "Sinceramente, não sei de nenhum caso (de tortura a moças grávidas). O que existe é produto de imaginação".
Converse com a jornalista Rose Nogueira, general. Ela sabe, ela foi vítima. Se o sr. não conseguir encontrá-la, este colunista o levará até ela.
É triste. Por que esconder os fatos, tantos anos depois de ocorridos? E o general que não se lembra deve criticar o presidente Lula por dizer que não sabia.

O TROVADOR
Está no Twitter do próprio José Serra: em sua visita ao Crato, no Ceará, aproveitou para cantar, de Luiz Gonzaga, Último Pau de Arara. O senador Tasso Jereissati, do PSDB cearense, também cantou.
Será que não bastam os problemas que a população local já enfrenta?




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