A arte que costuma ficar à margem toma a área central de São Paulo. Nunca isso foi tão realidade quanto agora, quando o projeto Radiografia Cultural - Periferia e Underground em SP ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil de amanhã a dezembro.

Com curadoria da jornalista e dramaturga Beatriz Carolina Gonçalves e do produtor teatral Luiz Nunes, a extensa programação reúne uma variedade de linguagens artísticas, que apesar de nem sempre atingir grandes camadas, são produzidas de maneira intensa. As atividades ocorrem mensalmente (programação em www.bb.com.br/cultura).

Segundo Nunes, a organização em coletivos e nos pontos de cultura aumentou a qualidade das produções. "Apesar disso, os artistas e suas obras não eram conhecidos do grande público. Algumas instituições pinçavam um ou outro evento - caso dos saraus - para apresentações isoladas. O mesmo acontecia e acontece com a mídia, que ainda não reconheceu essa produção", explica. "Pensamos num projeto que discutisse, avaliasse e também mostrasse, em um único ciclo, os mais significativos movimentos culturais da periferia", afirma.

Diadema, reconhecido celeiro do movimento hip hop no País, participa com destaque, incluindo na abertura, às 18h de amanhã. Depois de apresentações de Rappin Hood e do b-boy Nelson Triunfo, um dos principais expoentes hip hoppers, o debate Periferia e Cultura de Resistência terá King Nino Brown, um dos idealizadores da Casa do Hip Hop e o primeiro integrante do País da ONG Zulu Nation, de Afrika Bambaataa. Mediação do jornalista José Arbex Jr.

"É importantíssimo ocuparmos um espaço privilegiado bem no Centro. Demorou para isso acontecer. Nossa cultura é jovem e é a que vai levar o Brasil adiante", afirma Brown, que tomou contato com o hip hop no fim dos anos 1970, durante bailes em São Bernardo, onde mora e onde trabalhava como metalúrgico.

"Eu passei a montar um acervo com tudo o que acontecia e a estudar sobre o assunto". O mergulho foi transformador e o transformou em historiador do movimento. É essa experiência que ele deve dividir com o público no debate.

A região volta à programação em 31 de agosto, quando a Orquestra Jazz Sinfônica de Diadema faz concerto com participação especial do trombonista Boccato, de São Bernardo. No debate da noite, também um representante do Grande ABC: o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, de Ribeirão Pires, debate com o poeta Allan da Rosa o tema Erudito Popular. A mediação é do jornalista Daniel Piza.

"Nosso objetivo também é fazer com que as realidade culturais da Periferia e do Centro dialoguem. Assim, na maior parte dos debates e também nas atrações do programa, estamos mesclando artistas e intelectuais da periferia e do Centro de São Paulo, estimulando esse diálogo", explica Nunes sobre a curadoria.

O grafiteiro Thiago Vaz (responsável pelos diversos sacis espalhados por muros de Santo André e São Paulo) dará oficinas para crianças junto com o colega 6emeia. As aulas serão realizadas ao ar livre todos os domingos de julho. A cada mês a programação se concentra em novos temas.

Radiografia Cultural - Periferia e Underground em SP. De amanhã a dezembro. No Centro Cultural Banco do Brasil - Rua Álvares Penteado, 112. Tel.: 3113-3651. Entrada franca. (os ingressos podem ser retirados no dia dos eventos, a partir das 10h)