Deborah entrou para a TV de maneira inusitada. Ela prestava vestibular para o Instituto de Artes Dramáticas, da USP, em São Paulo, e não sabia que o falecido diretor Walter Avancini acompanhava o teste na surdina. Seis meses depois, Avancini a convocou para a minissérie Moinhos de Vento, produzida pela Globo em 1983. No entanto, foi com o diretor Dennis Carvalho, com quem Deborah é casada há 15 anos, que a atriz trabalhou mais. “Nós separamos muito bem o pessoal do profissional”.
TV PRESS - Como é viver uma personagem que foge do estilo das heroínas que você estava acostumada a interpretar?
DÉBORAH EVELYN - Por um lado é mais fácil. Porque é o primeiro personagem que tem pouquíssimas coisas a ver comigo. A Beatriz é completamente uma criação, porque ela é fútil, tem uma relação obsessiva com o marido, trata mal o filho. Nem nas coisas boas, como gostar de fazer compras, sou parecida com ela. Então me inspiro no figurino, no cabelo, na maquiagem. É uma composição de fora para dentro. A Beatriz tem uma moral dúbia e não é uma vilã óbvia, que sai matando. Algumas pessoas devem falar até que ela toma as atitudes por amor. Mas é muito tênue a linha que a separa do mau-caratismo para uma pessoa que age por amor.
TV PRESS - Você é o do tipo de atriz que leva o personagem para casa?
DEBORAH - Não. Deixo a Beatriz com o figurino e vou embora. Quando é distante da gente é mais fácil separar. Ao mesmo tempo, o ator usa o personagem em alguns momentos. Um dia em que tenho cinco cenas de choro, por exemplo, chego mais leve em casa. Descarrego tudo ali. Mas estou me divertindo e acho muito engraçado falar aquelas frases politicamente incorretas da Beatriz.
TV PRESS - Esta é a décima produção que você trabalha ao lado do Dennis. Como é ser dirigida pelo próprio marido?
DEBORAH - A gente consegue separar bastante. Diretor para mim é importante. Não sou autodidata e preciso da direção. Eu e o Dennis vivemos situações bem diferentes. Na vida real, a gente briga. Já profissionalmente, raramente brigamos. É claro que conservamos sobre o trabalho, mas não passamos cena, por exemplo. Falamos sobre coisas gerais e não específico sobre o meu trabalho, como: “Sabe aquela cena? Como é que faço?”. Deixo isso para a hora da gravação. Em casa, conversamos como marido e mulher. A gente também não abre muito a nossa vida pessoal, tipo chamar a imprensa para o aniversário da nossa filha. Tentamos ser bem discretos.
TV PRESS - Você acha que mudou a relação entre atores e a imprensa?
DEBORAH - Acho que mudou esta busca de parte da imprensa pela intimidade das pessoas. Mas é um fenômeno mundial. Não sei se não lembro, mas acho que quando eu comecei não era assim. O interesse era mais realmente pelo lado profissional de cada um.
TV PRESS - Mas você concorda que aumentou o número de atores que também estão mais interessados em falar da vida pessoal do que profissional?
DEBORAH - Também tem este lado e não sei como parar ou mudar isso. Particularmente, se acontecer algo que me incomode ou que não seja verdadeiro, acho que tem de processar mesmo, porque é o único jeito de obter respeito. Ao mesmo tempo, é necessário uma relação de confiança mútua com a imprensa. Nunca aconteceu nada demais comigo e sempre fui respeitada. Mas acho que todos os envolvidos são responsáveis. O ator que permite, a revista que vende e o leitor que compra.
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