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Morre a violeira Helena Meirelles
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
30/09/2005 | 08:48
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A violeira Helena Meirelles viveu 81 anos, os últimos 13 como a grande dama da viola. Quinta-feira, por volta de 0h30, a instrumentista analfabeta e autodidata morreu em casa, em Campo Grande (MS), devido a uma pneumonia crônica, que a levou para internação pela terceira vez este ano. Ela estava na UTI da Santa Casa da cidade desde o dia 14 deste mês. Apresentou melhora e recebeu autorização para continuar o tratamento em casa. Morreu dois dias depois da alta médica.

A doença a perseguia desde 1989, quando foi reencontrada pela família depois de 32 anos de sumiço – era dada como assassinada. Sua irmã, Natália de Araújo, moradora em Santo André, seguiu uma pista. Numa visita a parentes em Piquerobi (SP), oeste paulista, avisaram-na que Helena tinha sido vista na cidade. Natália saiu a sua procura e a encontrou sentada numa praça com um saco nas costas, viajando para tentar encontrar a família que moraria em São Paulo, segundo tinha ouvido dizer. Natália a trouxe para Santo André, onde ela viveu alguns anos com a irmã, no Parque Jaçatuba.

Quem conta essa história é Mário de Araújo, sobrinho de Helena e também músico, atualmente morador de Praia Grande. Sabendo da fama da tia de boa violeira, deu-lhe uma viola e perguntou se ela ainda sabia tocar. "Ela disse ‘Sei um pouquinho’. E mostrou todo o seu talento. Eu fiquei encantado", diz. Depois que ela se recuperou, Araújo produziu seu primeiro show, em fevereiro de 1992, no Teatro Elis Regina, em São Bernardo. "Fizemos um boca a boca e conseguimos vender uns 300 ingressos", afirma.

Vieram entrevistas em programas culturais de rádio e até no Jô Soares Onze e Meia, então no SBT. Em 1993, a revista norte-americana Guitar Player elegeu-a em novembro artista do mês, graças a Araújo, que mandou uma fita com músicas da tia e uma carta para o editor da revista na época, Jas Obrecht. "Ele é um especialista em blues e disse que seu sonho, quando for para o céu, era ouvir Jimi Hendrix e Helena Meirelles", conta o músico. A partir desta publicação, Helena tornou-se conhecida nacionalmente. A Guitar Player lançou um pôster comemorativo com as 101 palhetas dos maiores guitarristas do século e a violeira analfabeta é a única brasileira representada.

A palheta mostrada no pôster foi feita por Helena, esculpida em uma lasca de chifre de boi com uma faca, debaixo de uma figueira numa Sexta-feira Santa, antes do sol nascer, para evitar perigo, pois segundo ela "tudo que toca tem parte com o capeta, menos o violino, que é em forma de cruz". O perigo era levar tiro, tocando em rincões onde revólver é parte do vestuário.

Araújo produziu o primeiro disco de sua tia Helena em 1994 pelo selo Eldorado, chamado Helena Meirelles, subtitulado "a grande dama da viola". Seguiram-se mais três álbuns, Flor de Guavira (1996), Raiz Pantaneira (1997) e De Volta ao Pantanal (2003). Também foram produzidos dois documentários sobre ela. A Dama da Viola, do diretor Francisco de Paula, para o cinema, e Dona Helena, de Dainara Tófoli, ainda em negociação com emissoras de TV.




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