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Ribeirão em cartaz

Primeiro festival de cinema da cidade nasce ousado por agregar mostra de obras nacionais, oficinas e curtas

Por Luís Felipe Soares e Nelson Albuquerque
28/02/2010 | 07:16
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Ribeirão Pires dá um passo importante para abrir espaço a quem produz ou apenas gosta de assistir filmes. Está com tudo encaminhado para a realização de seu 1º Festival de Cinema, a partir do dia 21. A atitude é ousada por agregar mostra popular de obras nacionais, com presenças de atores, oficinas e mostra competitiva de curtas-metragens.

No País, têm surgido vários festivais do gênero - como os de Paulínia e Ceará - e muitos deles revelam-se como espaço onde surgem novos talentos. Além disso, como tendência de sair do grande eixo de Rio e São Paulo, ainda servem como ferramenta de popularização da sétima arte, principalmente em áreas com poucas opções. Os eventos brasileiros consagrados são os realizados em Brasília (DF) e Gramado (RS).

O festival de Ribeirão torna-se promissor para todo o Grande ABC. Apresenta-se como uma vitrine que deve servir de incentivo para a produção local. O tema desta primeira edição é Um Novo Olhar, que, segundo os organizadores, pretende provocar no público uma reflexão. "Seria um novo olhar sobre nós mesmos, sobre o que fazemos e o que será exibido", diz o diretor do evento, Emerson Muzeli.

A divulgação do festival contará com comercial de TV dirigido pelo próprio Muzeli, que é cineasta e trabalha atualmente em programas da Globo. O material foi gravado na Vila do Doce, em Ribeirão. Um casal, interpretado por Larissa Vereza e Emiliano Ruschel, se depara com ambiente de guerra, que remete à Paris dos anos 1950. Captada em película, a peça terá 30 segundos em versão para TV, sendo que para outras mídias será apresentada em quatro minutos. "Nosso plano é inserir essa mídia tanto nos canais fechados quanto nos abertos", afirma Muzeli.

Nova opção para fãs da sétima arte
Em uma sala no Centro de Ribeirão Pires começam a borbulhar ideias que prometem agitar o calendário cultural do Grande ABC. A porta não poderia estar melhor localizada, entre uma livraria e uma locadora. Repleto de pôsteres de filmes e cartazes de mostras de cinema, o espaço funciona como quartel general da produtora Super-Câmera, que se prepara para apresentar seu mais novo e ousado projeto: o 1º Festival de Cinema de Ribeirão Pires. Para divulgação, teve inclusive gravação de um comercial de 30 segundos para veiculação em TV.

"O festival surge da necessidade de haver algo para o público relativo a cinema", explica Emerson Muzeli, diretor do evento. "Ficamos órfãos desta questão cinematográfica e não conseguimos montar uma sala de cinema para o público. O festival chega com o compromisso de possibilitar uma infraestrutura para que o público consiga sentar em uma cadeira, olhar para a tela e ver um filme sem ter de pagar nada", diz.

Natural de Ribeirão, Muzeli atua na televisão e no meio audiovisual desde os 13 anos. Atualmente, trabalha em um longa-metragem e dirige uma nova série policial especial na TV Globo, além de comandar a organização do festival. Dado à atarefada rotina, o último trabalho do cineasta na terra natal foi há cinco anos.

O tema deste primeiro festival é Um Novo Olhar. A escolha foi feita com o intuito de fazer com que todos os envolvidos e o futuro público observem o mundo e o cinema de forma diferenciada. "Seria um novo olhar sobre nós mesmos, sobre o que fazemos e o que será exibido. O novo olhar é não tentar definir o festival, que será uma constante mutação de várias coisas em favor do cinema".

As atividades começam no dia 21 e seguem até 8 de maio. Durante as três semanas, o projeto segue em três frentes: a mostra popular, a escolar e a competitiva.

A primeira irá exibir gratuitamente longas-metragens nacionais em sessões abertas ao público no Paço Municipal. No espaço, serão disponibilizadas 600 cadeiras, além do público estimado de 4.000 pessoas poder se espalhar pelo local. As projeções ocorrerão todos os domingos, com os filmes sendo apresentados pelo ator protagonista. A programação conta com títulos que marcaram os últimos dez anos do cinema brasileiro, casos de Bicho de Sete Cabeças (2001), Cidade de Deus (2002), Deus é Brasileiro (2003) e Bezerra de Menezes: O Diário de Um Espírito (2008).

Escolar e competitiva - A mostra escolar é destinada para que alunos de colégios locais possam conhecer mais sobre o mundo do cinema. As sessões, que começam no dia 22, ocorrem no Teatro Euclides Menato, com capacidade para 200 pessoas. Será uma exibição pela manhã e outra no período da tarde. À noite, o público adulto poderá escolher filmes com aspecto mais ligados ao conceito de festival e sem o apelo popularesco.

A partir do dia 3 de maio, será iniciada a mostra competitiva. Do total de 300 curtas-metragens inscritos de diversos locais do Brasil, 160 foram selecionados para o festival. "O grande barato deste momento será falar exclusivamente de cinema", diz Muzeli. O festival contará com a presença de diretores e representantes dos filmes.

As produções terão exibições em dois locais distintos. Um deles é o espaço do Teatro Euclides Menato, que passará a ser chamado de Sala Carlos Vereza de Cinema, em relação ao grande homenageado do festival, o veterano ator Carlos Vereza. As outras sessões ocorrerão em uma espécie de sala circulante, com a ideia de que ela seja em uma tenda e que esteja em um local diferente da cidade a cada semana.

"Na competição, o que chama a atenção é a diversidade dos competidores. Temos grande variedade de documentários e animações. Começamos a assistir a esses filmes e não conseguimos parar, pois todos são únicos. E temos muita gente nova", comenta o organizador.

Teia - Muzeli conta caso interessante sobre um curta de Recife, cuja trilha sonora, ele descobriu, tem a participação de um rapaz de Santo André. "É uma grande teia de aranha que une pessoas de todos os lugares com gente aqui do Grande ABC", afirma.

A escolha dos vencedores das dez categorias - filme, diretor, roteiro/argumento, fotografia, atriz, ator, montagem, arte, desenho de som e música original - será feita pelo próprio público. A opção de não usar júri especializado é para que, nesta primeira edição, a presença dos espectadores seja essencial para o sucesso da festa. A ideia de um corpo de júri pode ser utilizada nos próximos anos.

Além da apresentação de filmes, o 1º Festival de Cinema de Ribeirão Pires também oferecerá série de oficinas especiais com temáticas cinematográficas para os moradores da região. Os amantes da sétima arte poderão aprender sobre fotografia, música e roteiro para o cinema. As oficinas são gratuitas e as inscrições ocorrem por meio do site do festival (www.festivaldecurtas.com.br), mas os participantes precisam ter certo pré-requisito técnico para serem selecionados.

A iniciativa pioneira surge como uma grande oportunidade para que artistas locais e de outros lugares encontrem mais espaço e demonstrem seus trabalhos. As palavras de Muzeli definem bem o que os fãs da sétima arte, principalmente de Ribeirão Pires, exemplificam: "Em qualquer lugar existe público para o cinema".

Acesso à cidade é obstáculo
A infraestrutura e a localização da cidade são algumas das dificuldades a serem superadas pelo 1º Festival de Cinema de Ribeirão Pires. A aposta é que a paixão dos cinéfilos seja maior que os obstáculos apresentados, o que motiva a organização a pensar alto na receptividade do público não só local, mas das outras cidades da região e da Capital.

"O que falta é empenho, e é um empenho que temos de aprender a desenvolver. Precisamos criar circunstâncias para que as pessoas cheguem aqui e achem tudo isso bem interessante", explica Emerson Muzeli, diretor do festival. "Queremos fazer com que esse evento cresça de acordo com as demandas da região. Hoje é um evento apenas de curtas-metragens, mas daqui a cinco anos ele pode ser um festival de longas. Até lá, pretendemos que as coisas evoluam, e não só o festival, mas toda a estrutura em torno dele, incluindo a cidade. Queremos que a demanda faça esse tipo de coisas surgirem ao longo do tempo", afirma Muzeli.

Um dos principais gargalos a ser resolvido é a dificuldade em relação ao acesso à cidade. O fato de Ribeirão Pires não estar em um local de passagem metropolitana faz com que seja necessário um forte atrativo para trazer as pessoas. "É bem complicada essa logística e é preciso ter esse tipo de valor cultural para alguém dizer: ‘Eu vou a Ribeirão Pires por conta disso'. Queremos fazer com que a pessoa possa sair de São Paulo e das outras cidades da região para vir assistir a um bom filme", diz.

Acostumado a comandar grandes projetos, entre eles a última edição do Criança Esperança, da Globo, Muzeli sabe da importância do festival para sua terra natal e como ele pode influenciar as coisas a seu redor. O sucesso da primeira edição é essencial para que se crie um estímulo na área cinematográfica local e na rotina cultural da cidade. "Temos de ter a responsabilidade e o carinho para que esse festival não se torne apenas um evento que foi feito graças a dinheiro gasto e não passou disso. É necessário que se torne um programa forte dentro do calendário de Ribeirão e da área do cinema", diz.

Antes que surjam quaisquer tipos de comentários, sejam eles positivos ou negativos, o importante é que um novo - e promissor - evento começa a tomar forma. O primeiro passo foi dado.




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