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Calor recorde e rede insuficiente fazem S.Bernardo ficar sem água
Por Bruno Ribeiro
Especial para o Diário
26/01/2006 | 08:07
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As altas temperaturas estão expondo um sério problema estrutural no fornecimento de água em São Bernardo. As redes de abastecimento não acompanharam o crescimento dos bairros e estão fazendo com que milhares de pessoas sofram desabastecimento. Nesta semana, pelo menos cinco bairros ficaram com as torneiras secas. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o mês de janeiro deste ano está quase 3 graus mais quente. A média das temperaturas máximas este mês está em 30,2 graus, enquanto a média histórica das máximas é de 27,6 graus.

No Parque Selecta, moradores da rua Francisco Toniceli afirmaram que desde as festas de Natal o fornecimento está irregular. “Vai fazer dois meses que não lavo meu quintal. A Sabesp diz que o problema é que consumimos água demais. Na verdade, a caixa d‘água do bairro é que é pequena”, diz a dona-de-casa Hilda Piedade Blaya de Almeida, moradora da rua.

No Parque Los Angeles, região do bairro Batistini, os moradores precisam compartilhar a água das caixas para evitar o desabastecimento total. “Ficamos sem água de terça até domingo”, afirma a esteticista Rosângela Oliveira.

A falta d‘água não escolhe classe social. Vila São Pedro e Jardim Andreia Demarchi são bairros bem distintos. No primeiro, região de periferia, a maior parte das casas não tem abastecimento de água regularizado, e as ligações são feitas por meio de gatos na rede de água. Lá, os moradores estão com as torneiras secas. Além dos vazamentos causados pelas ligações irregulares, a Sabesp aponta o alto consumo – que caminha junto com o desperdício – como um dos motivos para a seca no bairro. Já no Jardim Andreia Demarchi, bairro de classe média, os moradores dizem que há dez anos, diariamente, a água acaba no início da manhã e só volta durante a madrugada, faça calor ou frio.

Vazamentos – A lei aprovada pela Câmara Municipal de São Bernardo em 15 de dezembro de 2003, que passou para a Sabesp a responsabilidade de abastecimento no município, obrigava a empresa a viabilizar o fornecimento de água e o tratamento de esgoto para 100% da população até 2008. A Sabesp afirma que muitos serviços já foram realizados no ano passado para a melhoria da rede de distribuição, e aponta projetos para serem realizados até o início do próximo verão. Um deles é o Reservatório Alvarenga, com capacidade de armazenamento de 10 mil m³ de água, deve começar a ser construído no primeiro semestre de 2006, no bairro Cooperativa.

Outra obra é uma nova adutora para o bairro Batistini, que terá 800 mm de diâmetro – o padrão é 50 mm –, e beneficiará 220 mil famílias.

A Sabesp explica que o dasabastecimento em São Bernardo é diferente do que havia na capital até 1998. Lá, o problema era na geração de água tratada para a população. Por isso, foi necessário o rodízio. Aqui, há capacidade de tratamento de água para abastecer toda a população. O problema está na distribuição.  

Além de incompatíveis com a demanda, as redes são acometidas de vazamentos, que demoram para ser consertados. A Sabesp ainda espera o início do trabalho – em fevereiro – de 50 agentes de serviços contratados por uma empresa terceirizada para auxiliar os 60 agentes que a empresa possui para reparos na rede. Um dos bairros mais insatisfeitos com os vazamentos não solucionados dos é o Jardim Bartira, região do bairro Demarchi. Na rua Francisco Tolloti, o vazamento de um registro seria a causa do desabastecimento. “Como essa parte do bairro é muito alta, sempre tivemos problemas com a falta d‘água, que seriam resolvidos com uma obra que tinham prometido. Mas o fato é que eles fizeram um registro no meio da rua, que fica vazando o dia inteiro. Dois meses se passaram, e até agora não fizeram esse serviço. Vivemos com o que sobra na caixa d‘água”, diz a agente escolar Catarina Aparecida Macedo, moradora da rua há 43 anos. A Sabesp afirma que a obra nessa rua já foi finalizada, e o problema deverá ser sanado no próximo mês.

O prazo ideal para o conserto de vazamentos é de 24 horas, segundo a Sabesp. Até a contratação de novos agentes, os casos que trazem desabastecimento para alguma casa ou rua, ou os que expõem as construções ao risco de desabamento estão tendo prioridade no atendimento.

Zaíra – Em Mauá, os moradores do Jardim Zaíra – bairro mais populoso da cidade – também enfrentam problemas com o abastecimento. Desde o início do verão, o fluxo de água nas torneiras oscila. “Se existe um racionamento, nós temos que ser informados, pelo menos assim poderíamos nos programar. O problema é que a água acaba de repente”, afirma a professora Ionete Soares, 35 anos.

O Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) admite que há problemas no sistema de bombeamento que leva água para bairros altos da cidade, como o Zaíra, e diz que está sendo feito um estudo para substituição dos equipamentos, mas não há previsão de quando ocorrerá a troca.

Represas – Apesar das altas temperaturas, os níveis nos reservatórios que abastecem as cidades do Grande ABC são considerados normais. Com exceção do Sistema Cantareira, que abastece São Caetano e parte de Santo André, todos estão com o limite de armazenamento acima de 90%. O percentual de 45,7% no Cantareira não compromete o fornecimento regular.



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