Tiago Santiago quer tornar natural algo que, definitivamente, é extraordinário. Em sua novela Caminhos do Coração, exibida pela Record, o autor embute no texto a visão que tem defendido em todas as entrevistas que concede à imprensa: Qualquer um pode se identificar com seres considerados diferentes do comum, pois cada pessoa é única e tem algo que nenhuma outra tem.

A comprovação disso é que, recentemente, a personagem Mulher Elétrica exclamou em cena: “Todo mundo é mutante. Viver é um processo de mutação contínua.” Soou artificial demais.

É necessário estabelecer uma diferenciação básica: crescer e se desenvolver física e psicologicamente – o que realmente acontece com todo mundo – é bem diferente de voar sem aparelhos ou de se transformar em lobisomem. E não adianta o autor negar.

Tiago propôs uma ousadia no tema da novela e Alexandre Avancini cria cenas com efeitos especiais que tentam reproduzir de modo competente essas novas idéias. Nem sempre são uma obra-prima tecnológica, é verdade. Mas o mais destoante é o texto do folhetim, que está ficando quadradinho demais. E até didático.

A novela não começou assim. Os mutantes se resumiam a um núcleo da trama. Mas a história colou, a população aumentou e ganhou até uma ilha ao melhor estilo A Ilha do Dr. Moreau, de H.G. Wells, ou Lost, para citar uma referência mais atual e conhecida das crianças e adolescentes.

É nesse público que a Record apostava quando investiu na idéia. E com os 13 pontos de média conquistados até o momento, a avaliação é de que o objetivo está sendo alcançado. Com igual número de capítulos no ar, a antecessora Vidas Opostas mantinha média de 12 e era considerada um sucesso.

Agora, na tentativa de abocanhar mais telespectadores, as mães de família e até as vovós, Tiago parece frear na ousadia ao criar diálogos de alguns personagens.