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Mulheres são a maioria nos programas de alfabetização
Por Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
13/09/2003 | 16:57
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Os indicadores nacionais apontam que as mulheres são maioria nos bancos das salas de aulas dos programas de alfabetização de adultos. No Grande ABC, dos 9.834 adultos que buscam se alfabetizar nos Movas (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos) e no Proalfa (Programa de Alfabetização de Adultos) de São Caetano, 64,47% (6.340) são mulheres. Em Diadema, elas são maioria absoluta: 1.269 dos 1.902 alunos. No Mova de Rio Grande da Serra, as mulheres ocupam 70% das cadeiras nas salas de aula: dos 670 matriculados, 469 são alunas. No Brasil, a maior presença das mulheres foi apontada pelo 3º Inaf (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional) realizado pelo Instituto Paulo Montenegro, o braço social do Ibope, e a ONG Ação Educativa.

Segundo os coordenadores dos cursos, esta realidade pode ser explicada pelas mudanças que passa a sociedade. “O Mova é o reflexo disso. Antes, a mulher tinha uma participação pequena na sociedade. Hoje, tem maior responsabilidade pelos (por prover o sustento dos) filhos. Precisa buscar o mercado de trabalho porque o companheiro está desempregado. Para isso, necessitam ser alfabetizadas”, disse a coordenadora do Mova de São Bernardo, Márcia Couto Manzzi Rotta. Em São Bernardo, as mulheres representam 67,03% dos 1.395 alunos dos Movas.

A busca por aprender a ler e escrever pode representar uma conquista pessoal, mesmo que tardia. “Não são somente as mulheres que trabalham (que procuram os programas de alfabetização). Tem também as donas de casa que sentem vontade de buscar um novo ambiente social, porque hoje perceberam que têm direitos também, como o de saber ler e escrever”, disse a coordenadora de Santo André, Ana Maria Gouveia Colombo.

As mulheres são maioria especialmente nas salas vespertinas. “O horário das aulas à tarde ajuda a ter mais mulheres, porque à noite muitas não podem vir”, avaliou a coordenadora do Mova de Diadema, Elizabete Marques.

Oportunidade – A presença maior de mulheres pode ser comprovada em salas como a do Jardim Paineiras, em Diadema, onde, dos 23 alunos, há apenas um homem. “As mulheres são mais interessadas, os homens só vêm quando precisa”, disse o único aluno da turma, o operador de empilhadeira Edvaldo Lázaro de Pina, 44 anos. Pina afirmou que a empresa em que trabalha cobra pelo término dos estudos. Ele deixou a escola ainda em Brejo Grande, interior do Sergipe.

Entre as mulheres que procuram o Mova, histórias de vida que se repetem: a falta de oportunidade de estudar quando crianças. Os motivos também são semelhantes: o trabalho precoce na roça, imposto pelos pais “daquela época”, a moradia em cidades pequenas, onde a escola mais próxima ficava a horas de distância.

“Nunca pude estudar, tinha de trabalhar na roça”, disse a dona de casa Custódia Barbosa, 65 anos, que antes de ingressar no Mova de Diadema, nunca havia pisado em uma sala de aula. Da infância de trabalho em Taiomin, interior de Minas, até a vida de mãe de quatro filhos, em Diadema, Custódia adiou o estudo várias vezes. Há três anos, ingressou no Mova. “Sentia muita vergonha, mas agora é uma alegria só”, disse.

Baiana da cidade de Licindo de Almeida, interior da Bahia, Terezinha Pereira de Santana, 44 anos, também venceu a barreira das letras. “Era como viver na escuridão, não sabia assinar nem meu nome”, disse. Terezinha ficou sabendo do Mova e decidiu que iria começar a estudar, o que nunca pôde fazer. “Meu marido me deu força e eu vim. Hoje leio tudo que vejo pela frente”, disse, com um largo sorriso.

Mesmo pertencendo a uma geração mais nova, Giselda Maria de Jesus, 21 anos, repete a trajetória de suas colegas de turma. Nasceu em Pedro Alexandre, interior da Bahia, onde pôde cursar apenas a 1ª série primária, mas abandonou. Chegou em Diadema, mas, sem leitura, não consegue emprego o que a fez procurar ajuda. “Acredito que no ano que vem ela já consiga entrar na 5ª série”, disse a professora Maria Clarice Clarindo Gonçalves.

Persistência – O coordenador do Mova em Mauá, Rubens Alves Ferreira, também acredita que as mulheres são mais persistentes que os homens e, por isso, freqüentam por mais anos as aulas. Na fase final do Mova, o EJA (Educação de Jovens e Adultos), a evasão entre as mulheres é de 35%, enquanto de homens é de 65%. “A mulher supera as dificuldades, já o homem desiste fácil”, disse. “As mulheres são mais perseverantes, se esforçam para recuperar o estudo que não puderam ter”, disse a coordenadora do Mova de Rio Grande da Serra, Valéria Santos.




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