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Remédios milagrosos ludibriam internautas
Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
26/09/2010 | 07:06
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A cura de doenças crônicas, impotência sexual e obesidade, entre outros tratamentos nada convencionais, é oferecida livremente em páginas na internet. O Diário levantou dezenas de produtos que prometem fazer o usuário perder peso dormindo, aumentar o pênis em duas semanas e até combater o câncer de próstata.

Segundo especialistas, as promessas são todas ilusórias e não existe comprovação científica para essas terapias não convencionais. Mas, em todos os sites havia sempre depoimentos de clientes anônimos e frases publicitárias que garantiam a eficácia dos respectivos tratamentos.

Em um dos casos, a atendente do site Aumente Natural confirmou que o método de aumento peniano não foi elaborado por médicos, mas garante que o resultado é "sensacional". "Até hoje nenhum cliente pediu o dinheiro de volta. Já vendemos milhares de cartilhas."

Segundo as informações da funcionária, não há efeitos colaterais na utilização do método para aumentar o órgão genital masculino "porque não se trata de remédio, e sim de um tipo de fisioterapia. São apenas exercícios. O interessado usa somente as mãos", frisou. Os "exercícios" são disponibilizados por um manual que pode ser impresso na casa do comprador, apenas após o pagamento.

Segundo Roberto Vaz Juliano, professor de urologia da Faculdade de Medicina do ABC, é absurda a venda desse tipo de produto. "Não existem medicamentos ou terapias para aumentar o pênis. Principalmente essas que falam de alongamento não têm a menor base científica."

Os remédios para melhor desempenho sexual são as ‘estrelas' dos sites de vendas, seguidos por pílulas, xaropes e chás que prometem emagrecimento rápido sem qualquer atividade física. "As pessoas vão atrás de uma cura pela crença e mais rápida. Muitas vezes estão distantes da realidade", disse Vera Barros de Oliveira, professora de psicologia da saúde da Metodista.

É possível comprar drogas para depressão, ansiedade, diabete e colesterol, entre outros problemas de saúde. Além de melhorar o desempenho sexual, elas oferecem outras funções, como engrossar o pênis, ereção prolongada, aumento em 1.000% na produção de espermatozoides, combate à frigidez feminina e mais algumas proezas. "Não há medicamentos sem efeitos colaterais. O papel da internet é maravilhoso, mas as pessoas precisam aprender a filtrar. O charlatanismo é muito comum nestes locais", conta Juliano.

O portal que comercializa o Kit Emagrecer Dormindo anuncia que 200 mil clientes estão satisfeitos. Quem compra não precisa ir à academia. Basta tomar duas cápsulas por dia para perder até nove quilos em um mês. A empresa não respondeu ao Diário.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) criou em 2009 uma resolução para controlar a comercialização de medicamentos na internet. As pessoas que estiverem com dúvidas sobre o registro e a procedência do remédio podem consultar o site do órgão federal (www.anvisa.gov.br) ou ligar para 0800-642-9782.

Uso contínuo de ervas pode agravar problemas de saúde
Antes da comercialização banal de medicamentos pela internet, as pessoas buscavam a cura para alguns problemas de saúde nas casas do norte e em lojas de ervas. Elas ainda existem, mas perderam espaço no mercado de medicação natural.

Nesses locais ainda é possível encontrar bebidas alcoólicas que, segundo a crendice popular, melhoram o desempenho sexual de homens e mulheres, assim como as plantas pau-de-tenente, nó-de-cachorro, pra-tudo, guaraná, catuaba e outras utilizadas na produção das famosas "garrafadas".

O piauiense Eduardo Vieira da Silva, 60 anos, mais conhecido como Coalhada, é dono de uma tradicional casa do norte no centro de São Bernardo. Ele já vendeu muitas sementes para todo tipo de doença.

Agora, com a venda do Viagra e o aumento da fiscalização por parte da Vigilância Sanitária, caiu a procura por esse tipo de automedicação. Mas ainda sobraram as cachaças e a conhecida Jurubeba, entre os queijos, amendoins e outros produtos da cultura nordestina.

"As pessoas tomam para melhorar, mas isso é coisa da cabeça. Se o cabra não estiver bem, não é o um mé (bebida) que vai ajudar. Mas, como as pessoas falam, vou fazer o que?", brinca Coalhada.

Quando a reportagem chegou ao estabelecimento, havia um grupo de homens batendo papo. Ao serem questionados sobre se já haviam experimentado algum dos "coquetéis energizantes", todos negaram. Quando o dono do local começou a explicar, no entanto, eles pararam a conversa para prestar atenção. "Olha! Isso deve ser bom, hein? E, pelo jeito, não dá dor de cabeça", disse um dos homens.

O comerciante José Edilson Pereira, 50, é dono há 13 anos de uma casa de ervas em São Bernardo. Ele vende dezenas de espécies e ainda prepara as conhecidas "garrafadas" para alguns clientes. Mas quem pensa que Edilson faz as vezes de curandeiro está enganado. Autodidata no preparo dos chás e das vitaminas, ele ainda dá conselhos. "Dias desses chegou um rapaz de 20 anos querendo uma garrafada porque as coisas não estavam andando bem. Olhei na cara dele e falei: Rapaz, vai procurar um médico. Não é casca de pau nem semente que vai resolver o seu problema", disse orgulhoso.

Entre outras histórias, há a de um homem mais velho que queria ingredientes para fazer um chá que aliviasse a dor no peito. "Falei para ele ir correndo ao hospital que a coisa era séria", lembra.

Para Irene Videiras de Lima, professora de toxicologia da Faculdade de Medicina do ABC, o consumo de chás e ervas pode ser usado para aliviar doenças de baixa gravidade. Mas o uso contínuo pode provocar problemas sérios de saúde. "O que diferencia entre a droga e o remédio é a dose. As pessoas precisam tomar cuidado com esses tipos de tratamento."




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