Apesar de o Grande ABC possuir área predominantemente urbanizada – 98,3% do território de 828,7 km² –, é possível observar a presença de atividades típicas das zonas rurais entre as sete cidades. Sejam fontes de sustento para famílias da classe média baixa ou apenas oportunidades de melhorar a paisagem do entorno, práticas como a plantação de árvores frutíferas, construção de hortas e até mesmo a criação de animais como galinhas ganham destaque.

Quando se pensa em agricultura, é possível associar a atividade à presença de maquinário, responsável pelo plantio e pela colheita dos vegetais. No entanto, na horta situada na Rua Buri, na Vila Pires, em Santo André, a família Gomes faz uso de recursos rudimentares para manter a produção de verduras, legumes e temperos diversos em terreno cedido pela AES Eletropaulo.

A agricultora Jaqueline Gomes de Almeida, 19 anos, atua na horta há três anos. Nesse período, ela conta que aprendeu sobre como cultivar os vegetais. Com agilidade surpreendente, ela fura a terra e planta as pequenas mudas. “É um trabalho bem cansativo. Só aguenta quem gosta de verdade. Nos dias mais frescos é mais tranquilo, mas no calor é bem complicado”, destaca.

Jaqueline faz questão de cuidar de todos os processos agrícolas, desde a preparação do solo até a comercialização dos vegetais. Para o trabalho, ela conta com a ajuda da mãe e do marido. Apesar de estar próxima da tecnologia, a jovem diz que o único recurso mecânico utilizado no espaço é a tobata, equipamento responsável por remexer a terra. “Só usamos máquina para arar, porque é um processo que dá muito trabalho. De resto, fazemos tudo manualmente e sem agrotóxicos”, detalha.

Ambientada com paisagem interiorana, a horta se torna refúgio para os moradores da metrópole. “Muitos dos que vêm aqui inclusive tiram fotos no meio dos vegetais. As pessoas gostam desses lugares com mais verde”, comenta Jaqueline.

POMAR

Outra ação comumente realizada em cidades do Interior, mas que foi adotada por moradores do Grande ABC é o plantio de árvores frutíferas. Na Avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Melo, na Vila Homero Thon, moradores decidiram que a melhor maneira de revitalizar as margens do Córrego Cassaquera seria transformar o matagal, ponto de descarte irregular de lixo e entulho, em pomar.

Cansados de ver a sujeira acumulada e a falta de iniciativa por parte do poder público para resolver o problema, alguns moradores do bairro decidiram que o trabalho ambiental seria a melhor solução. “Um comerciante daqui começou a plantar árvores e a usar madeiras descartadas para fazer placas com mensagens de conscientização. Minha vizinha gostou dessa atitude e, desde então, a vizinhança tem plantado as árvores. Utilizamos pneus velhos como canteiros”, ressalta a dona de casa Elizabeth Helena Barbosa, 59.

Cerca de um mês depois do início do plantio, a moradora revela que a incidência de ratos e baratas na área diminuiu consideravelmente. “Muitos deixaram de jogar lixo aqui. Estamos cultivando pés de limão, laranja, mexerica e algumas flores. A comunidade está muito feliz com o resultado. Tivemos um pouco de medo no começo, pois achamos que o pessoal não compraria a ideia, mas a verdade é que está todo mundo adorando e ajudando como pode.”