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Terapia literária

Lourenço Mutarelli lança 'A Arte de Produzir Efeito sem Causa', mais uma sessão pública de auto-análise

Julio Ibelli
Especial para o Diário
02/09/2008 | 07:00
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Lourenço Mutarelli está lançando novo livro, A Arte de Produzir Efeito sem Causa (Companhia das Letras). Não é exagero dizer que a obra é mais uma das sessões públicas de auto-análise que o autor de O Cheiro do Ralo e O Natimorto realiza para exorcizar alguns de seus próprios demônios, além das regulares visitas ao divã dos consultórios.

Também, pudera. Seus livros têm feito sucesso no ramo psiquiátrico e a ‘terapia' também tem valido a pena por outros motivos. "A literatura gera um retorno maior, seja de prestígio ou financeiro", admite ele, na comparação feita com seu trabalho como quadrinista, que o colocou no mapa.

Mutarelli, no entanto, impede a reedição de um de seus primeiros trabalhos do gênero, chamado de Os Desgraçados.

"É um quadrinho pesado, de uma época difícil na minha vida", revela. O gosto que tomou pelas letras já lhe permite ter bloqueios criativos como desculpa pelo atraso na entrega de material. "Eu não tinha coragem de ser escritor, para mim era algo muito sagrado - apesar de minha religião ser a música".

Enredo - A Arte de Produzir... segue à risca o padrão Mutarelli de (des)construir histórias e personagens. "É a minha maldição, não consigo escapar das temáticas pesadas quando me fecho no trabalho".

Nem da linha entre ficção e autobiografia. A começar pela capa do novo livro, sucessão de letras rabiscadas que se tornam a fixação do protagonista Júnior, mas também do próprio Mutarelli, acometido pelo transtorno durante a escrita do livro. "Tento não me importar de misturar a realidade com ficção", disse.

Na trama, o anti-herói em crise conjugal larga o emprego e vai morar na casa do pai, que subloca um quarto para uma estudante de arte. Ao mesmo tempo, pacotes sem remetente começam a chegar pelo correio, e o leitor é transportado para o labirinto em que se transforma a mente atormentada do protagonista.

Herança dos quadrinhos, a escrita sintética e fragmentada de Mutarelli (ainda que menos presente em A Arte...) deve facilitar a transposição do livro para o cinema, a exemplo de O Cheiro do Ralo, que foi êxito de crítica, e da adaptação para O Natimorto, depois de uma temporada no teatro, e que deve ganhar as telas em 2009 (uma edição de cenas do que parece ser o trailer da produção já está na internet).

O autor possui acordo com uma produtora que pretende adaptar todas as suas obras para o cinema, o que lhe assusta um pouco. Escritor, quadrinista e ator (Mutarelli interpretará o protagonista no filme de O Natimorto), ele não se dá bem com a internet. "Disseram que era uma vitrine para o mundo, mas eu não vendo roupa", brinca.




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