Para muitos uma casa é sinônimo de segurança e proteção. Porém, é lá que podem estar escondidas algumas armadilhas, principalmente para os mais velhos. Infelizmente, a maior parte dos acidentes com pessoas idosas acontece dentro das moradias, como em escadas, brinquedos espalhados pelos cômodos, tapete da sala que fica no meio do chão, quintal ou no banheiro.

Tudo isso significa perigo de tombo para qualquer pessoa. No entanto, no caso dos mais velhos o risco é ainda maior. Com o passar dos anos os músculos perdem a elasticidade, os reflexos neurológicos ficam mais lentos e os ossos mais frágeis, o que pode provocar lesões sérias.

Segundo o SUS (Sistema Único de Saúde), um terço dos atendimentos por lesões traumáticas nos hospitais do País ocorre com pessoas com mais de 60 anos, sendo que 75% dessas lesões acontecem dentro das casas. Na maioria das vezes, essas quedas ocorrem no trajeto entre o banheiro e o quarto, principalmente à noite.

Zelinda Gimenez, 80 anos, mora com o marido e o filho em sobrado da Zona Sul de São Paulo. Há cinco anos ela sofreu uma queda dentro de casa. Por pouco não teve lesão mais séria.

"Estava chovendo. Fui até o quintal de chinelos para retirar as roupas que estavam no varal. Corri e acabei escorregando no piso molhado. Acabei batendo as costas e a cabeça no chão. Graças a Deus não tive nada sério", disse Zelinda.

Depois do susto, ela passou a ter mais cuidados. "Tem que ter muita atenção, porque senão a gente se esborracha mesmo. Agora, só uso chinelo antiderrapante dentro de casa. Também tirei todos os tapetes, pois já cheguei quase a escorregar neles", afirmou Zelinda.

A dona de casa seguiu algumas dicas fundamentais para evitar quedas em casa. Erguer um pouco mais a cama, para que a pessoa possa se levantar com mais facilidade. No corredor, deve-se retirar móveis baixos, para evitar tropeções.

No banheiro, uma série de pequenas adaptações aumenta a segurança para o idoso. A iluminação pode ser do tipo automático. No piso, usar tapetes antiderrapantes, além das barras de apoio tanto no vaso sanitário como dentro do box para prevenir quedas ou escorregões.

Outro aspecto muito importante é manter móveis com quinas arredondadas. Os sofás devem ter braços largos para facilitar os movimentos de se levantar e se sentar do idoso. As tomadas de luz devem ficar na altura dos interruptores para evitar que as pessoas tenham que se abaixar muito para alcançá-las.

Não usar camisolas ou robes de banho muito compridos para evitar tropeços, principalmente no meio da noite.

Praticar alguma atividade física também é importante para prevenir sérias lesões em caso de quedas. Segundo o geriatra do Programa de Saúde da Família de São Caetano Maurílio Pompilio, fazer caminhada, hidroginástica, alongamento e musculação ajuda a ter uma velhice mais saudável.

"Praticar uma dessas atividades por pelo menos duas vezes por semana é essencial para uma vida sem lesões", afirmou Pompilio.

Construtora lança imóvel com adaptações para idosos

Rosineide Prata*

Com o aumento da expectativa de vida, a proporção de idosos na sociedade brasileira cresce. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 19 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa mais de 10% da população brasileira. Em 2025, poderá atingir 32 milhões, o que tornará o País o sexto em número de idosos no mundo.

Com o envelhecimento da população, é normal também o surgimento de mais pessoas com problemas de saúde ou lesões por pequenos acidentes domésticos. Envelhecer significa transformação. Passar por alterações no corpo, na saúde, na vida familiar, e também em casa. Para que a moradia assuma de fato seu papel de ‘porto seguro' ela deve garantir conforto e segurança, em qualquer fase da vida.

Deve ser adaptada facilmente quando necessário, permitindo ajustes dos ambientes.

A designer de interiores Samantha Fernandes faz consultorias e projetos para quem já tem seu imóvel e só precisa fazer algumas mudanças. Trocar pisos, maçanetas de portas, disposições de móveis, pintar a casa com cores claras, luzes de emergência, iluminação são itens que podem garantir mais conforto e segurança. "Sensor de presença ou luz de presença, nos corredores, escadas. Essa luz acende automaticamente quando alguém entra no ambiente." exemplificou a designer.

Samantha avalia que, apesar dos anos se passarem, as pessoas querem manter sua independência dentro da própria casa. Daí a razão para se adaptar o imóvel e criar ambientes que facilitem a vida do morador de terceira idade.

A construção civil também está de olho nesse mercado. A construtora Tecnisa lançou prédio, a ser entregue neste semestre, cujo projeto teve a parceria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com a supervisão da gerontóloga Naíra Dutra Lemos.

A gerontologia é a ciência que estuda o processo de envelhecimento do ser humano e as formas de promover uma melhor qualidade de vida. O projeto da Tecnisa incorpora algumas características para facilitar a mobilidade e a inclusão da terceira idade. As adaptações incluem áreas de lazer para idosos, rampas no lugar de escadas, pisos antiderrapantes.

A arquiteta Patrícia Valadares explica que a área interna dos apartamentos só será modificada se o cliente optar por isso. É o caso das barras nos banheiros, corredores mais largos e tomadas posicionadas em local mais alto que o convencional. Será o primeiro edifício brasileiro preocupado com a terceira idade. Mas esse tipo de imóvel ainda é privilégio para poucos. A empresa não informou o valor do apartamento nem o custo das adaptações.

Conteúdo editorial destapágina é de responsabilidade da Universidade MetodistadeSão Paulo, com supervisão editorial da jornalista Margarete Vieira Pedro.