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MP identifica co-autor de site racista
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
04/06/2005 | 08:17
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O Ministério Público identificou nesta sexta mais um adolescente como autor de comunidades racistas no Orkut, o site mundial de relacionamentos acessado por cerca de 4 milhões de brasileiros. O jovem de 17 anos mora na capital, é estudante de um cursinho pré-vestibular e amigo do rapaz de 18 anos que confessou quinta-feira ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) promover a incitação contra negros e afro-descendentes via internet. A dupla é responsável pela criação da comunidade "Sou Contra Cota Pra Pretos na Universidade", que traz mensagens agressivas e se refere aos estudantes negros e pardos como "macacos". O menor, que também colocou no ar o grupo neonazista "White Máfia", prestará depoimento na segunda-feira.

Pelo menos mais duas pessoas estão na mira do rastreamento eletrônico, segundo o promotor da Gaeco, Christiano Jorge dos Santos. Ele não quis dar detalhes para não prejudicar as investigações, mas sabe-se que se trata de uma mulher e um jovem do sexo masculino, cuja idade ainda não foi descoberta. "Devemos concluir a investigação sobre essas duas outras pessoas nos próximos dias. E elas, se maiores de idade, serão indiciadas pelo crime de racismo, que prevê pena de dois a cinco anos de reclusão mais o pagamento de multa", explica o promotor.

Desde janeiro, o Gaeco investiga as comunidades de cunho racista no Orkut, depois da denúncia feita pela ONG ABC Sem Racismo, que tem sede em São Bernardo. Na época, o estudante C., de 13 anos, teve sua página bombardeada por mensagens que agrediam a ele e a sua família pelo fato de serem negros. Em pelos menos dois grupos, o "Proibida a Entrada de Macacos" e "Anti-Heróis", um link sugeria "descarregue toda sua fúria nesse pobre pretinho inocente", remetendo ao site pessoal do garoto.

Nesta quinta, num fato inédito em todo país, um jovem de 18 anos foi identificado pela promotoria como autor de grupo on line que estimulava o preconceito contra negros. O rapaz é um estudante de 18 anos da Universidade Presbiteriana Mackenzie e criou a comunidade quando ainda era menor de idade. O promotor do Gaeco acredita que ele responderá, no mínimo, pelo ato infracional. Mas o Ministério Público tentará responsabilizá-lo criminalmente pelo ato racista. "Ele criou a comunidade quando tinha 17 anos. E ela continuou no ar até depois de o jovem completar 18 anos, ou seja, no meu entender continuou cometendo o crime", avalia Santos.

Alerta aos pais - Segundo o promotor, o racismo pela internet é crime com grande incidência entre jovens de classe média, que tem acesso à informática. E faz um alerta aos pais. "Os adolescentes que navegam pela internet estão suscetível a todos os tipos de influência. Há grupos neonazistas, por exemplo, que tem à frente gente muito bem preparada para arrebatar seguidores. É preciso ter cuidado com a formação destes jovens, porque racismo é crime inafiançável. Não é só o jovem que rouba que deve ser punido."

O presidente da ONG ABC Sem Racismo, Dojival Vieira, elogiou a atuação do Ministério Público e defende a aplicação de medidas socioeducativas para os jovens e adolescentes que cometem crimes de racismo. "Eles deveriam ser encaminhados para prestar serviço voluntário em associações que realizam trabalho de combate à discriminação e ao preconceito. A atitude do Ministério Público foi exemplar, porque mostra que o racismo não vai mais se esconder atrás do anonimato da internet." Vieira acha que a identificação dos autores de grupos racistas no Orkut pode inibir a proliferação de mensagens preconceituosas na rede.




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