Vinte e oito anos depois do fim da ditadura militar (1964-1985), período no qual apenas dois partidos existiam oficialmente (Arena e MDB), o Congresso passa por nova transformação política, a despeito da existência de 32 legendas. Deputados e senadores estão mais afinados com interesses próprios, construindo bancadas segmentadas e ignorando o conteúdo programático das siglas pelas quais foram eleitos.

Muitos parlamentares se unem pelas causas do grupo de atuação de antes do mandato. Não à toa há, dentro do Congresso, a bancada ruralista – formada por lideranças ligadas à atividade no campo –, sindical e até evangélica.

Especialistas ouvidos pelo Diário consideram que essa alteração de relações ocorre pelo crescimento do descrédito da população com a classe política, que resulta no fortalecimento desses grupos.

O cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira afirma que tais segmentos ganharam notoriedade justamente por cauda do distanciamento dos partidos políticos de seus eleitores. “O discurso dos partidos ficou pragmático e o cidadão enxerga aproximação maior com esses grupos”, disse o especialista.

O descontentamento com a classe política, evidenciado pelas manifestações populares desencadeadas no Brasil em junho e retomadas recentemente, reforça a tese de que os partidos políticos estão ficando em segundo plano em comparação com determinados blocos.

Para o professor e historiador Mário Sérgio de Moraes, da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), a consolidação de bancadas segmentadas têm forçado as legendas a, muitas vezes, rasgar o estatuto partidário para abrigar políticos com alta votação em determinados grupos, mas que não possuem a linha de pensamento da agremiação. “Por conta dos interesses eleitorais, os partidos políticos se afastaram das pessoas e passaram a agregar tanto políticos conservadores como progressistas.”

Há pelo menos 30 partidos esperando a validação da Justiça Eleitoral para ingressar no cenário político nacional. Dentre as siglas em construção estão as que defendem a bandeira de funcionários públicos, militares, ecologistas, mulheres e camelôs.