O ex-piloto de motocross, Paulo Polido, 26 anos, ficou paraplégico, sem os movimentos das pernas, em um acidente de moto, aos 19. Há cinco anos ele faz parte do Estudo Protocolar de Células-tronco do Hospital das Clínicas, na Capital. Um implante na sua coluna de células tiradas de sua própria medula óssea o fez voltar a ter esperança de um dia voltar a andar de cadeiras de rodas. “Antes eu ficava mais na cadeira de rodas. Com o tratamento, já tenho caminhado com ajuda de um andador”, diz Polido, que voltou a competir em provas de velocidade. Desta vez, ele pilota uma caminhonete adapatada com a qual participa do Rally dos Sertões, trajeto de 3.878 km entre Goiânia (GO) e Porto Seguro (BA).

Polido é um exemplo bem-sucedido de um grupo com 29 pessoas com traumas que participam de pesquisas com células-tronco no Instituto de Ortopedia do HC (Hospital das Clínicas), na Capital. O tratamento com os voluntários já dura dois anos e o ex-piloto foi o que teve desempenho mais satisfatório até agora. Por esse motivo Alexandre Fogaça, um dos médicos que desenvolve as pesquisas no Instituto de Ortopedia, é cuidadoso ao falar desta evolução. Após dois anos e meio de tratamento, 18 apresentaram sensibilidade ao toque em partes do corpo que eram insensíveis antes do tratamento, mas apenas Polido deu sinais de retorno dos movimentos. “Não é um dado objetivo, não é certeza de que esta melhora está relacionada ao tratamento. Seria precipitado afirmar isto.”

Mesmo assim, as pesquisas trazem esperança a outros pacientes. É o caso de Ronaldo Denardo, 31 anos, morador de Santo André que também faz parte do grupo. Há nove anos, ele sofreu um acidente de carro e fraturou a coluna em três lugares diferentes. Apesar de ainda não ter mostrado evolução do seu quadro, acredita que o uso de outro tipo de célula-tronco, as embrionárias, cujas pesquisas ainda estão começando, pode trazer benefícios no futuro. “Elas têm grande potencial e acredito que através delas posso voltar a andar um dia.”

O uso de células-tronco é considerado a principal esperança para o tratamento de diversos tipos de doenças incuráveis, como traumas de coluna, mal de Alzheimer entre outras. Os médicos são cautelosos ao falar dos resultados de seus trabalhos na área, mas admitem que num futuro próximo pode haver avanços. Ao se multiplicarem, as células-tronco têm capacidade de gerar outros tecidos substituindo os mortos ou em processo de degeneração.

Esta modalidade de célula é encontrada em embriões humanos e têm a capacidade de originar qualquer tipo de tecido. As utilizadas nos voluntários do estudo do Hospital das Clínicas são células adultas, encontradas tanto na medula óssea quanto nos cordões umbilicais.

Entenda mais

O que é célula-tronco
São células primitivas ou imaturas que ao se multiplicarem são capazes de dar origem a outros tecidos.

Principais tipos
Embrionárias – Capazes de se multiplicar rapidamente dando origem a todas a variedades de tecidos.
Adultas – Maduras, comumente encontradas na medula óssea ou no cordão umbilical. Tem capacidade de geração de tecidos limitada.

Para que servem
Por causa da capacidade de originar outros tecidos, as células-troco podem ser usadas em tratamentos e até levar à cura de doenças degenerativas, cardíacas, traumas de medula, entre outros.

No Grande ABC
A Faculdade de Medicina do ABC trabalha com pesquisa desde fevereiro. O programa ainda é testado apenas em animais e os resultados devem ser divulgados no ano que vem. Há possibilidade de a faculdade iniciar os primeiros testes com seres humanos em 2007. O projeto abrange três áreas de atuação: cardiologia, oftalmologia e reprodução humana.