Setecidades Titulo
Professor é acusado de humilhar alunos
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
15/06/2006 | 10:24
Compartilhar notícia


As discussões entre um professor de Matemática e os alunos de uma escola estadual de São Caetano viraram caso de polícia. Inúmeras queixas contra Adonis Vieira de Souza, 44 anos, foram registradas no 2º DP da cidade. Souza é acusado de coagir e agredir os estudantes da EE Professora Maria da Conceição Moura Branco, no bairro Olímpico. Pais contam que os filhos têm medo de ir para a escola e enfrentam sérias dificuldades de aprendizado.

Estudantes da 7ª série afirmam viver momentos de terror durante as aulas. Eles contam que o professor se refere aos alunos como “vagabundos”, “inúteis” e “débeis mentais”, e se recusa a tirar as dúvidas da classe; ao ser questionado, costuma devolver uma lista interminável de palavrões. Segundo relatos ouvidos pela reportagem, o professor chega à escola muitas vezes exalando forte cheiro de bebida alcoólica. Com um dos adolescentes, Souza foi além dos xingamentos: retirou-o da sala apertando-o pelo braço. A família do garoto registrou boletim de ocorrência por agressão, e o aluno foi submetido a exame de corpo de delito.

A perfomance agressiva do professor não é novidade na EE Moura Branco. Há dois anos os alunos reclamam junto à diretoria da escola, sem sucesso. Nas reuniões, os pais contam que costumam protestar contra os abusos de Souza, e que ele, descontrolado, encerra as conversas com o mesmo argumento: “Sou funcionário concursado. Ninguém me tira daqui”, esbraveja pelos corredores.

A Secretaria de Estado da Educação informou que realizou investigações preliminares e constatou que as atitudes de Souza são “inadequadas”. Um processo administrativo deve ser aberto na sexta ou segunda-feira, para que as acusações de pais e alunos sejam ouvidas formalmente. Há possibilidade de o professor ser afastado das salas de aula. Os pedidos de entrevista com a diretora de ensino de São Bernardo, responsável também pelas EEs de São Caetano, não foram atendidos.

“Burra” – A estudante Nathalia de Carvalho Kazlauskas Valdo, 13 anos, foi uma das primeiras a procurar a delegacia para denunciar os maus-tratos do professor. Ela se diz alvo da perseguição de Souza desde agosto de 2004, quando ainda estava na 5ª série. Na época, não entendeu algumas explicações durante a aula de Matemática e apresentou as dúvidas.

“Atendeu com muita má vontade e me chamou de burra. E de outros nomes que tenho até vergonha de dizer. Ele disse que nem o sobrinho dele, que era doente mental, tinha tanta dificuldade para aprender”, lembra a garota. Depois da agressão, os pais de Nathalia reclamaram à diretoria. Adonis ficou sabendo e tirou a aluna da aula de educação física para cobrar satisfações. “Ele disse que queria marcar uma reunião com a minha mãe pessoalmente. E que era para ela reclamar na cara dele se tivesse coragem.”

No ano seguinte, Nathalia se livrou do professor. Na 6ª série, conseguiu recuperar-se em Matemática, que nunca foi sua matéria preferida. “Nunca fui muito bem. Mas comecei a me sair bem melhor. O Adonis se recusava a explicar.” Na 7ª série, Souza voltou a lecionar para a turma da garota. O pai de Nathalia, Luiz Carlos Kazlauskas Valdo, 40, diz que tentou conversar com Souza diversas vezes e nunca foi ouvido. “Queremos que ele seja exonerado do cargo. Uma pessoa desse nível de agressividade não pode dar aulas em nenhuma outra escola.”

Outros alunos engrossam a lista de nomes que denunciaram a postura do professor. E contam que Souza passou a coagi-los em sala de aula depois da acusação. A maioria dos estudantes não conseguiu nota superior ao conceito D no último bimestre. “Ele não tem paciência nenhuma. Uma vez, fiz uma conta de cabeça e ele não acreditou. Disse que alunos mais inteligentes conseguiriam, mas eu não. Ele é estúpido com todo mundo. Tenho medo desse homem”, conta a colega de classe de Nathalia, Letícia Menegon, 13 anos.

A mãe de outra da mesma turma, Marli Ferreira de Souza, 31, diz que o quadro de saúde da filha piorou graças às pressões do professor de Matemática. “Minha filha Talita sofre de diabetes. Ela tem pânico do Adonis. Outro dia, foi colocada para fora da sala, sem motivo. Ficou tão nervosa que passou mal. Hoje, tem de tomar mais insulina do que antes, pela instabilidade emocional. Ele não pode ser professor. Temos medo de uma tragédia”, diz.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;