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Indústria demite no Grande ABC 22 por dia de janeiro a setembro

Com setor automotivo impactado pela crise na Argentina, dispensas chegaram a 6.100; somente no mês passado, fábricas cortaram 1.250

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
17/10/2019 | 07:08
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ABR


O número de demissões na indústria do Grande ABC chegou a 6.100 de janeiro a setembro. Ou seja, a média atingiu, aproximadamente, 22 dispensas por dia neste ano. A queda nos empregos do setor ainda é impactada pelos cortes na fábrica da Ford em São Bernardo, pela severa crise argentina e também devido à fraca atividade econômica nacional.

Os números são do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e foram divulgados ontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na pesquisa mensal que mensura o emprego na indústria.

Somente no mês passado, as fábricas instaladas nas sete cidades eliminaram 1.250 postos de trabalho. O número despencou se comparado com agosto, quando foram geradas 160 vagas. Trata-se do pior setembro em três anos.

A regional do Ciesp que mais registrou demissões foi Santo André – que inclui Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – com 600 cortes. Porém, neste ano, a maior queda foi em São Bernardo, que já perdeu 3.000 trabalhadores.

Entre as principais razões para os números negativos, está a dependência da indústria da região do setor automotivo, que sofre com a crise na Argentina, o principal parceiro comercial das montadoras. Das seis presentes no Grande ABC, a Volkswagen anunciou férias coletivas e lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho); a Scania, férias coletivas; e a GM (General Motors) negocia esses mecanismos com o sindicato por causa da queda na produção, além de reduzir a jornada de trabalho de 42 para 40 horas em novembro.

“A economia está parada e tanto a indústria automobilística como a de autopeças estão vendendo pouco internamente. O que puxava o setor antes, quando isso acontecia, eram as exportações, mas o nosso país vizinho enfrenta uma forte crise, ainda sem perspectiva de melhora”, afirmou o diretor do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior.

Conforme o diretor do Ciesp Diadema, Anuar Dequech Júnior, a queda na movimentação por causa dos hermanos também impacta as empresas da cidade. “As montadoras estão bem devagar por conta da Argentina e a questão do emprego pode ser consequência dessa redução.”

Além disso, a Ford em São Bernardo vai encerrar, definitivamente, as atividades em 31 de outubro. Atualmente, a planta só preserva 1.450 funcionários, ou 55,7% do total do efetivo do início do ano, composto por 2.600 colaboradores. As demissões também acabam repercutindo nas fábricas menores que fazem parte da cadeia.

“Vai diminuindo aos poucos o número de empregos na Ford e isso se reflete em queda na produção das autopeças, por exemplo, que também vai reduzindo aos poucos o quadro de funcionários até fechar as portas”, disse Barberini. A expectativa é de absorção de parte desses empregos pela Caoa, uma das interessadas na aquisição. “Apesar (de a Caoa) não empregar a mesma quantidade que a Ford, também vai gerar empregos diretos, e isso acaba puxando os indiretos. Um galpão fechado é sempre ruim.” A expectativa é a de que a empresa que comprar a planta da Ford empregue 850 profissionais.

Mesmo assim, ainda há otimismo em relação aos próximos meses, principalmente por causa do mercado interno. “Há pequeno sinal de retomada de mercado e vemos sinais na economia, como a inflação controlada e redução da taxa básica de juros”, afirmou o diretor do Ciesp Santo André Norberto Perrella.


Região demitiu mais do que Estado

Com 1.250 demissões em setembro, o saldo do emprego na indústria no Grande ABC foi pior do que os números do Estado, que fechou o último mês com 1.000 cortes no saldo total. Considerando as regiões paulistas, a que mais demitiu foi a das sete cidades, com queda de 0,75%. A Grande São Paulo caiu 0,09% e, o Interior, 0,01%.

Na avaliação da Fiesp, o resultado para o mês só não foi pior por causa das exportações de carnes para a China, impulsionadas pela peste suína no país asiático. Mas o setor automotivo continua apresentando perdas substanciais nas exportações, em especial por causa da crise na Argentina.

No acumulado do ano, o saldo do trabalho formal nas indústrias é negativo em 9.000 postos de trabalho. “Devemos encerrar o ano com saldo muito próximo ao fechamento de 2018, com crescimento zero”, afirma o segundo vice-presidente da Fiesp e do Ciesp, José Ricardo Roriz.

Entre os 22 setores que participam da pesquisa, dez contrataram mais do que demitiram, oito fecharam postos e quatro ficaram estáveis. O principal ramo positivo foi o ramo de produtos alimentícios (1.580) e, negativo, veículos automotores, reboques e carroceria (-1.427).

(com Estadão Conteúdo) 




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