Há 21 anos, a irmã Indiana Marques Carraro, católica salesiana, chegou a Santo André vinda de Belo Horizonte (MG) e observou: "Há crianças carentes demais nas ruas dessa cidade". Assustada com aquela realidade – ainda hoje presente no cenário do município – Indiana contatou setores assistenciais da Prefeitura e descobriu que "ninguém fazia nada". "Resolvi então falar com o pessoal da catedral do Carmo e também com alunos e professores do então Colégio Coração de Jesus para sensibilizar o grupo para a causa", conta a pedagoga Indiana, referindo-se ao processo de criação do Jeda (Associação Civil Projeto Juventude Esperança do Amanhã), ONG que hoje têm matriculadas 300 crianças e adolescentes na sede em Santo André.

Os esforços de irmã Indiana a partir de 1984 renderam resultados acima do esperado. Desde a criação do Jeda, cerca de 10 mil jovens foram atendidos. Tiveram a chance de sair das ruas e passaram a vislumbrar um futuro melhor.

A entidade tem como primeira preocupação a alimentação dos menores. O Jeda serve duas refeições para cada turma diariamente – café-da-manhã ou lanche da tarde e almoço. "No período em que as crianças não estão aqui, vão para a escola", diz Indiana. A comida é preparada de maneira a se tornar um alimento muito nutritivo, com legumes doados pela rede de supermercados Coop e vários itens do banco de alimentos da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André).

Mas a ação do Jeda não cessa com as iniciativas contra a fome. Um médico cedido pela Prefeitura e cinco dentistas voluntários atendem às crianças e aos adolescentes, com ações de prevenção e tratamento. Também é oferecido acompanhamento psicológico, de acordo com a necessidade. Além desses trabalhos prioritários relativos à alimentação e à saúde, o Jeda não esquece que educar para o trabalho é fundamental. "Quando o jovem completa 16 anos, começamos a dar orientação profissional. Deixamos que cada um escolha o que quer fazer", explica Irmã Indiana, responsável pelo Jeda.

Entre as oficinas oferecidas aos menores, opções como informática, cabeleireiro, música, esportes e expressão corporal. "Há casos de meninos que freqüentaram nossa escola de futebol e acabaram convidados para grupos infantil e juvenil de grandes clubes", diz orgulhosa Indiana.

Enfim, todos os trabalhos do Jeda convergem no objetivo de reintegrar o jovem em situação de risco à sociedade e avaliar a possibilidade de também levá-lo de volta ao convívio da família, quando isso é possível. Para tanto, não há como fugir – é preciso verba. E a comunidade parece louvar o trabalho do Jeda, visto que 80% dos custos são financiados por pessoas físicas, comerciantes e empresários, numa bem-sucedida ação comunitária. Os 20% restantes são provenientes da administração municipal. Na lista das instituições educacionais que participam ativamente do trabalho, constam os colégios Gradual e Etip e a Umesp (Universidade Metodista de São Paulo).

Vale-refeição – O Jeda – em parceria com a Acisa e o apoio do Diário – está relançando o tíquete do Projeto Futuro Melhor, um vale-refeição que pretende combater o hábito de oferecer esmolas nos faróis e nas ruas de maneira geral. Com o vale, o cidadão pode convencer o menor carente a procurar o Jeda em troca de um prato de comida e, a partir de então, ser integrado nas atividades do projeto. Pessoas que já contribuem com o Jeda podem retirar talões de vales gratuitamente. A Acisa estuda agora a distribuição dos talonários em postos de gasolina, estacionamentos e shoppings. Também está em análise a possibilidade de contribuição simbólica em troca dos vales. Mais informações pelo telefone 4994-8884.