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Cinema nacional toma a telinha
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
30/12/2001 | 17:29
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Chega ao fim um ano cicatrizado por cansativos rounds que opunham emissoras de TV e a comunidade cinematográfica. A razão do desafeto foi a medida provisória que, entre outras coisas, determinava uma injeção de recursos no cinema nacional advinda da receita bruta das empresas de TV e a exibição obrigatória de produções brasileiras na programação semanal. O duelo ainda continua e não há qualquer aceno, seja do lado das emissoras ou dos cineastas e produtores, de que alguém jogará a toalha.

Com ou sem entendimento, a Rede Globo estréia amanhã seu já tradicional Festival de Cinema Nacional, com seis filmes inéditos do pós-retomada – termo cunhado para designar tudo aquilo que foi filmado na ressaca da extinção da Embrafilme e do lançamento de Carlota Joaquina – Princesa do Brazil, em 1994.

Nesta terça, depois de O Clone, a Globo exibe com orgulho a versão para telonas de Auto da Compadecida, produto final de uma manobra curiosa e lucrativa da emissora. Dirigido por Guel Arraes, o longa-metragem conquistou nos cinemas mais de 2 milhões de espectadores no ano passado e é o modelo compacto da minissérie que manteve boas médias de audiência em 1999.

Diagnosticada como a comédia brasileira por natureza, Auto da Compadecida é uma adaptação operada sobre a peça homônima de Ariano Suassuna. É uma seqüência de quiproquós maquinados por João Grilo (o irretocável Matheus Nachtergaele) e Chicó (o igualmente competente Selton Mello), sertanejos miseráveis apesar de esbanjarem perspicácia para dobrar a vizinhança. O modus vivendi de Chicó o leva ao encontro direto com Nossa Senhora da Compadecida (Fernanda Montenegro), Jesus (Maurício Gonçalves) e o Diabo (Luís Melo), que comandam o julgamento de sua alma.

A sessão de quarta-feira preserva o riso com a exibição de Como Ser Solteiro, de Rosane Svartman. O humor desbotado, apesar de pretensamente ágil, do filme de Rosane se presta a ser a cartilha do flerte para os corações solitários, defendida pelos personagens de Heitor Martinez Mello, Marcos Palmeira e Cássia Linhares.

No dia seguinte, vai ao ar Mauá – O Imperador e o Rei, o segundo elefante branco do cineasta Sérgio Rezende, diretor também de Guerra dos Canudos. Na sexta, Guilherme de Almeida Prado voltará a ser assunto assim que for mostrado seu Perfume de Gardênia, sobre mãe de família que se transforma em atriz pornô.

A noite de sábado pede fidelidade pois a tela será tomada por Os Matadores, o trabalho de estréia do incipiente e promissor Beto Brant, que armou seu circo na fronteira entre Brasil e Paraguai para retratar o tenso desenrolar do ofício de dois matadores de aluguel. Murilo Benício e Chico Diaz despontam no elenco. Por fim, Villa-Lobos, Uma Vida de Paixão é a atração de domingo e a evidência do desequilíbrio entre solenidade e humanização adotados pelo diretor Zelito Vianna para retomar vida e obra do controverso compositor brasileiro.




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