Autos de fé, missas, procissões, espetáculos que revivem os momentos derradeiros do Cristo e, claro, muito chocolate: celebrações de fé e de gula tomam conta dos quatro cantos do mundo durante a Semana Santa. No exterior, rotas de peregrinação em diversos países da Europa e, principalmente, em Israel – palco real da Paixão e Ressurreição de Jesus – atraem fiéis das mais variadas línguas e crenças. Outros seguem para São Fernando, ao Norte das Filipinas, onde devotos atingem os limites do sacrifício em cerimônias de autoflagelação. Alguns chegam a ter pés e mãos pregados em cruzes de madeira! Já em território nacional, a devoção ganha toques profanos que delineiam múltiplas facetas, seja na forma de procissões – como as do Fogaréu em Paraty (RJ) e Goiás Velho (GO) –; da popular tradição paulista de malhar o Judas; de festivais em que a devoção se rende de vez aos prazeres da gula por chocolate, como o Chocofest de Canela (RS); ou, ainda, na forma de grandiosos espetáculos que resgatam a Paixão de Cristo, a exemplo das famosas encenações de Nova Jerusalém (PE) e Santana de Parnaíba (SP).

Por isso, se você assistir a uma cena semelhante à das Filipinas em território verde-amarelo, não se aflija: é provável que você esteja diante de uma das várias encenações do Drama da Paixão que se espalham Brasil afora nesta época do ano. Tudo, é claro, de mentirinha, mas com emoção de verdade. O mais famoso deles acontece em um pequeno vilarejo do agreste nordestino, que vem chamando cada vez mais a atenção de devotos e turistas devido à fidelidade com que reconstitui a antiga Jerusalém dos tempos de Jesus. Trata-se da cidade cenográfica de Nova Jerusalém, em Pernambuco.

Tudo começou quando Seu Epaminondas Mendonça, comerciante esperto, leu em uma revista como os alemães celebravam a Paixão de Cristo na cidade de Oberammergau. Resolveu, então, dar uma esquentada nos negócios de Fazenda Nova – distrito do município de Brejo Madre de Deus, a 180 km de Recife – promovendo também uma encenação de Páscoa. Isso foi em 1951. Cinco anos mais tarde, Plínio Pacheco – um gaúcho com espírito empreendedor que morava por ali – teve a idéia de construir Nova Jerusalém. E deu no que deu: em meio à paisagem agreste, muralhas monumentais erguem-se para abrigar a cidade-teatro, que tem área total de 100 mil metros quadrados e vai realizar a 38ª temporada da Paixão de Cristo. A celebração se popularizou a tal ponto que, este ano, os globais Henri Castelli, Camila Morgado, Maurício Mattar e Raul Gazzola vão assumir ares de solenidade como Jesus, Maria, Pilatos e Herodes, respectivamente. Quase uma novela das oito.

Considerada o maior teatro ao ar livre do mundo, a encenação pernambucana conta com nove palcos monumentais e os mais modernos recursos tecnológicos de som, luz e efeitos especiais. Tudo para fazer até o mais ateu dos espectadores comover-se com a sensação de estar em plena Jerusalém de 33 d.C., acompanhando de perto toda a trajetória de Jesus, desde o famoso Sermão da Montanha até a Ressurreição. O detalhe interessante é que as apresentações são móveis: o público acompanha a peça caminhando pelas 60 cenas diferentes que vão se sucedendo nos palcos.

Este ano, as apresentações vão de 8 a 15 de abril, a partir das 18h, com duração de aproximadamente duas horas e público estimado em 8 mil espectadores por noite. Os preços dos ingressos variam de R$ 30 a R$ 40.

Pousada – Como parte do Projeto de Turismo Interativo da Pousada da Paixão, que funciona dentro da cidade-teatro de Nova Jerusalém, quem se hospedar no estabelecimento durante os dias de espetáculo terá a chance de participar da encenação como figurante especial. Os privilegiados turistas deverão assistir à peça no dia da chegada, ensaiar na manhã seguinte e, à noite, estrear devidamente trajados e maquiados. O pacote de duas noites, com pensão completa e traslado de Recife a Jerusalém, ainda inclui ensaio e participação nos coquetéis oferecidos a atores e patrocinadores do evento, além de uma credencial que garante acesso aos mesmos ambientes dos artistas. Os preços saem a partir de R$ 1,2 mil por casal.

Goiás – Em Planaltina, a Sexta-feira da Paixão é o ponto alto da programação religiosa. É quando acontece a encenação da via-crúcis, no Morro da Capelinha, e a via-sacra da criança, com quase 200 pequenos de até 13 anos. Uma graça. Já em Goiás Velho, o momento mais marcante fica por conta da Procissão do Fogaréu, em que Cristo é perseguido por homens com capuzes carregando tochas de fogo. De arrepiar.

Informações:

Planaltina: (0xx61) 3389-2243.