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‘Racha’ dos metalúrgicos faz 10 anos
Por Frederico Rebello Nehme e
Marcelo Moreira
Do Diário do Grande ABC
12/02/2006 | 08:31
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O fracasso do evento sindical mais importante do Grande ABC desde 1980 está completando dez anos. O sonho de unificar os metalúrgicos do ABC em um único sindicato, sob a bandeira da CUT (Central Única dos Trabalhadores), para fortalecer ainda mais uma categoria que já era muito forte terminou de forma rancorosa e violenta, com acusações mútuas e disputas judiciais entre duas entidades que se consideravam “irmãs”.

A idéia de juntar os sindicatos de São Bernardo e Diadema (por causa de Lula, o que tinha mais prestígio no país) e o de Santo André, um dos mais antigos em atividade no Brasil, ganhou força quando da criação da CUT, em 1983. Os dois logo se filiaram à central e suas diretorias sempre foram muito próximas, devido às semelhanças programáticas e ideológicas.

O fracasso da união possibilitou o crescimento da Força Sindical e o surgimento de uma verdadeira zona de conflito de representação sindical na base de Santo André. A entidade unificada, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, hoje não tem nem o A nem o C (o sindicato de São Caetano nunca cogitou a unificação e sempre rechaçou a CUT, filiando-se à Força Sindical).

Com grande empenho pessoal de Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, que presidia os metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC foi criado em julho de 1993 com a união com Santo André, reunindo uma base que possuía cerca de 125 mil trabalhadores.

O primeiro ano de existência da entidade unificada foi tranqüilo. As divergências eram discutidas e contornadas em reuniões plenárias da diretoria.

  

Na esfera nacional, viu o prestígio político-sindical subir ainda mais, a ponto de catapultar seus líderes a posições de destaque – Lula virou Presidente da República, Jair Meneguelli e Vicentinho, deputados federais, e Luiz Marinho tornou-se ministro do Trabalho.

  

No segundo semestre de 1995, porém, começaram os problemas. para evitar perda de espaço, os dirigentes da então sede regional de Santo André começaram a se proteger do que acreditavam ser uma estratégia do chamado grupo de São Bernardo de alijá-los das diretorias executiva e plena nas eleições do ano seguinte.

  

Realmente havia restrições entre os diretores de São Bernardo em relação a alguns procedimentos administrativo-sindicais na sede regional de Santo André. As divergências eram explícitas e irreconciliáveis ao final do segundo ano de união. O rompimento ocorreu em março de 1996, com episódios lamentáveis, como brigas e intervenções policiais para garantir a posse de prédios.

  

Racha – O processo de separação foi encabeçado pelo hoje presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André (filiado à Força Sindical), Cícero Firmino da Silva, o Martinha, que decretou o fim da unidade tomando a sede de Santo André após uma derrota política num processo eleitoral na Cofap, em março de 1996.

O sindicalista não conseguiu eleger os diretores ligados ao seu grupo, perdendo para trabalhadores ligados a Carlos Alberto Grana – então secretário-geral do sindicato unificado e hoje presidente da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), da CUT. Martinha afirmou haver fraudes no pleito com o objetivo de enfraquecê-lo. O descontentamento com a nova estrutura, entretanto, tinha motivações maiores.

“Com a unificação, começamos a ter muitas dificuldades. Toda a estrutura ficou centralizada em São Bernardo. Os mesmos diretores ficaram nas suas bases, e na prática ficamos como antes da unificação, só que com menos dinamismo, com movimentação restrita”, afirmou Martinha.

Para Grana, no entanto, a crise teve motivações exclusivamente políticas. “O problema estava na origem. Havia disputas internas no sindicato de Santo André antes da unificação. Quando criamos um único sindicato, a divisão continuou.”

Além da redução da força política dos diretores ligados à Martinha, a saída de Vicentinho da presidência do sindicato unificado, em 1994, para assumir a presidência da CUT nacional, fragilizou ainda mais a situação.

Heiguiberto Della Bella Navarro, o Guiba – hoje delegado regional do Trabalho em São Paulo e na época presidente da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), da CUT –, assumiu a presidência do sindicato para um mandato tampão, com o compromisso de deixar o posto ao final do exercício. Em julho de 1996, Luiz Marinho – hoje ministro do Trabalho – foi eleito presidente já com a entidade rachada.

Força – Depois da divisão, o sindicato de Santo André, filiado à CUT desde o surgimento da central, em 1983, aderiu à Força Sindical em 1998. Martinha garante que tentou manter sua ligação com a CUT, mas foi rechaçado: a central não reconheceu a separação e deu todo o apoio ao grupo de São Bernardo. Não bastasse isso, perdeu o cargo de coordenador regional da CUT e passou também a ser hostilizado dentro do PT, ao qual era filiado. Hoje Martinha é o coordenador da Força no Grande ABC e é filiado ao PDT.

“Para a Força Sindical, a rejeição da CUT foi boa, porque conseguimos ampliar a nossa base no Grande ABC, uma região muito importante para o movimento sindical”, afirmou Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força.

  

Vicentinho, hoje deputado federal pelo PT de São Paulo, acredita, no entanto, que a CUT não perdeu força no Grande ABC. “Acho que isso não enfraqueceu a CUT na região, a central continua muito ativa. É óbvio que a divisão foi ruim, mas a CUT aprendeu a conviver com a diversidade.”

Justiça – A separação dos sindicatos ainda hoje é discutida na Justiça, apesar de uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), de setembro de 2004, favorável à separação do sindicato de Santo André, ter praticamente encerrado a questão.

Hoje, o processo tramita no TST (Tribunal Superior do Trabalho), devido a um embargo de declaração movido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O objetivo do recurso é pedir um esclarecimento mais detalhado da decisão.



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