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Longe das urnas, mas perto da religião, Masiero deixa legado
Por Flávia Braz
Especial para o Diário do Grande ABC
12/02/2006 | 09:32
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Há quem diga que na política não tem santo. Pode ser. Mas será que tem padre? Franco Masiero, ou Padre Franco, “eu não ligo, podem me chamar como quiserem”, fez parte da vida política de Santo André por 18 anos. Cumpriu três mandatos como vereador, foi presidente da Câmara por quatro anos e participante ativo na Constituinte Municipal, aquela que ajudou na elaboração da Constituição (promulgada em 88) no município. Mas o plenário ou a tribuna, até então, nunca haviam feito parte da vida de Masiero, que durante 16 anos viu no sacerdócio a sua real vocação. “Construí uma igreja, terminei outra. E pensei: agora vou fazer o quê?” Adivinha? Virou político.   

Vigário aos 26 anos, o mais novo do Brasil na época, Franco Masiero conta que sempre foi um padre “engajado em causas sociais”. Sua popularidade se originou do contato com a comunidade em que exercia o sacerdócio. O resultado foi o convite para entrar para a política. “Já estava sendo sondado há muito tempo, mas eu sempre relutei, nunca me envolvi. Sempre dizia: Não quero, não quero.” Sua resistência durou até 1982, período em que, filiado ao PMDB, concorreu ao cargo de vereador. “Nessa época eu tinha vergonha de ser político, acredita?”  

A timidez e a falta de traquejo político afastaram o então padre dos comícios e dos calorosos discursos de palanque. “As pessoas que estavam ao meu redor distribuíam papel, falavam de mim. Mas eu fazer reunião para pedir voto, fazer promessa? Nada disso, eu tinha vergonha, não estava em mim.” O problema, segundo Masiero, era que nenhuma das pessoas que o ajudavam na “discreta campanha” tinha qualquer experiência no meio.   

A solução veio de um dos companheiros de Masiero, que durante uma reunião sugeriu: “A gente precisa badalar essa campanha. Badalar.” As últimas palavras ficaram na cabeça do candidato. “Espera aí gente! Vamos badalar. Vamos colocar um sino em cima de um caminhão e sair por aí.” A badalação resultou em cerca de 3 mil votos e fez de Masiero o terceiro vereador mais votado. “A gente percorreu a cidade toda tocando aquela música do Gil (Gilberto Gil, atual ministro da Cultura): andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar.” E não falhou.  

Seu primeiro mandato durou seis anos e foi marcado por uma derrota quando, em 1986, concorreu ao cargo de deputado estadual e perdeu. Concluiu seu mandato como vereador e em 88, já filiado ao PTB,  candidatou-se e venceu novamente. Dessa vez foi o vereador mais votado do município. Em 91 venceu as eleições para a presidência da Câmara e  manteve-se no cargo até 94. Franco continuou reelegendo-se até que, em 2000, perdeu por cerca de 100 votos de desvantagem. “Nesse ano eu tive problemas pessoais que prejudicaram a campanha e meu desempenho nela. Aí eu parei.”   

Neste domingo, Franco Masiero, que está com 66 anos, é viúvo e tem uma filha de 24, a quem pretende apoiar politicamente em um futuro breve. “Se me perguntarem por que eu optei pela política eu não vou saber responder. Há determinadas coisas que a gente não sabe porque faz.” O ex-padre ainda é filiado ao PTB, mas garante que não tem pretensão de voltar para a política. “Democracia é alternância de poder. O que não dá pra falar é: eu sou o bom, eu sou o santo.” Dono de um estacionamento no centro de Santo André, Masiero diz que, além de ser sua fonte de renda, é o local onde reencontra os amigos. Arrependimentos? “Se eu voltasse atrás eu faria tudo exatamente igual. Não me arrependo de nada.” A não ser de ter deixado a xícara de café de lado durante a entrevista: “Falei demais. Espere um minuto que o café está esfriando...”.



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