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Grande ABC concentra 24% das mortes no trânsito da Grande SP

Dados da SSP mostram que desde 2015 quase um quarto dos acidentes com vítimas ocorre nas sete cidades da região

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
09/10/2020 | 00:01
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Dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado de São Paulo compilados pelo Diário mostram que o Grande ABC concentrou, em 2019, 23,8% do total de mortes ocorridas no trânsito das 38 cidades da Região Metropolitana de São Paulo (exceto a Capital). Foram 440 óbitos no total, sendo 105 nas sete cidades da região. Os casos são classificados como homicídios culposos, quando não há intenção, e dolosos, quando há intenção de matar.

Com três das mais importantes rodovias do Estado passando pela região – o Sistema Anchieta-Imigrantes, além dos trechos Sul e Leste do Rodoanel Mário Covas –, as cidades do Grande ABC registraram total de 3.310 vítimas fatais ou feridas no ano passado. O número representa 30,7% das pessoas que se acidentaram na Região Metropolitana em 2019, que somou ao todo 10.768 ocorrências.

Advogado especialista em gestão e direito de trânsito e consultor de segurança do trânsito, André Garcia compara a tolerância que se tem com a violência cotidiana da sociedade àquela que é vivenciada em meio ao tráfego. “Se alguém mata uma pessoa com arma de fogo, é considerado homicídio doloso. Se um indivíduo bebe e dirige alcoolizado (e causa a morte), é considerado acidente”, pondera. “Você tem a lei, todo um ordenamento jurídico para proteger o cidadão, mas não funciona. Porque as pessoas ainda têm comportamento que beira a conivência com estas questões”, completa.

Para o especialista, o Brasil tem um problema sério com relação à falta de educação no trânsito e, na sua avaliação, o atual governo federal não incentiva nem prioriza a questão. Garcia também afirma que o sistema judiciário é “fraco, moroso, caro e que não funciona. Costumo dizer que punição tem efeito pedagógico na sociedade”, pontua. “Se o indivíduo tiver a certeza de que o sistema não funciona e que se ele não agir corretamente não haverá impacto, vai continuar cometendo erros”, conclui.

Para o consultor, as mudanças promovidas no CTB (Código de Trânsito Brasileiro), recentemente aprovadas pelo Congresso Nacional e dependendo apenas da promulgação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como a dilatação da pontuação máxima para a perda da carteira de habilitação de 20 para 40 pontos, vão incentivar o comportamento de maus motoristas, com consequente aumento no número de vítimas em um futuro próximo.

“A partir do momento em que se permite que o motorista chegue até 40 pontos, desde que não tenha cometido nenhuma infração gravíssima, está passando a mensagem de que infrações menores não são grandes problemas”, explica. “Mas mesmo cometendo pequenos erros, o condutor pode se envolver em acidentes graves e causar a morte de alguém”, completou.

Garcia finaliza avaliando que as mudanças podem ter impactos ainda maiores em cidades menores, que contam com menos recursos tecnológicos e humanos para fiscalização e controle. “O efeito pedagógico destas mudanças vai ser irreversível, porque passam a mensagem que pequenas infrações são toleráveis”, finaliza.

Motoristas admitem excesso de velocidade

Levantamento inédito feito pela Escola de Trânsito do Detran-SP revelou que 46% dos motoristas que tiveram a carta suspensa admitem ter cometido a infração por excesso de velocidade. Destes, 43% estão na faixa etária entre 25 e 39 anos e 72% possuem habilitação há mais de dez anos, ou seja, considerados condutores experientes. Os dados fazem parte da pesquisa de perfil da escola, aplicada no curso de reciclagem de condutor infrator, que envolveu 18.171 alunos de 2017 até 2020.

O levantamento aponta ainda que 32% dos alunos do curso de reciclagem que responderam à pesquisa possuem ensino superior completo. Quando perguntado qual infração de trânsito o aluno sabe que mais comete, 7.084 admitiram excesso de velocidade (46,2%), 2.092 por estacionar ou parar em local proibido (13,6%), 404 por avançar o sinal vermelho (2,6%) e 395 por usar o celular enquanto dirige (2,5%).

Segundo o diretor-presidente do Detran-SP, Ernesto Mascellani Neto, a falta de respeito à sinalização e, consequentemente, com o próximo, é a principal causa de acidentes e mortes nas vias.

“A pesquisa ressalta a importância de atuarmos na conscientização e educação dos motoristas, inclusive junto aos reincidentes, medida esta que estamos intensificando com nossas campanhas de prevenção”, afirma. “Para se ter uma ideia, 94% das vítimas fatais no trânsito são fruto de falha humana. Se todos conduzirem seus veículos com responsabilidade, respeitando a sinalização e pensando também no direito do outro, certamente teremos um ambiente muito mais seguro”, conclui.  




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