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'Casa do Olhar' é esquecida pelo poder público
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
19/03/2005 | 14:30
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A casa está caindo, literalmente. A Casa do Olhar Luiz Sacilotto, espaço cultural de Santo André voltado à divulgação da arte contemporânea, sobretudo a regional, sofreu um duro golpe da chuva cujo resultado foi visto na sexta-feir pela manhã. Telhas, calhas, consideráveis pedaços de concreto e madeiramento vieram abaixo – ninguém se feriu. Como o estado físico desse prédio datado de meados dos anos 1920 é péssimo, característica que vem se agravando principalmente a partir de 2000, o fato já era de se esperar.

O poder público municipal, responsável pela manutenção do espaço, mais uma vez falha no quesito conservação do patrimônio: a situação do Teatro Conchita de Moraes e do Cine-Teatro Carlos Gomes são outros exemplos. A omissão da Prefeitura é a responsável pelo que ocorreu na Casa do Olhar, e não o fenômeno natural. Afinal, se o prédio fosse bem cuidado, não se deterioraria tão facilmente. “O que aconteceu não é surpresa nenhuma”, diz o diretor do Departamento de Cultura da cidade, Alberto Alves de Souza, no cargo desde o início do ano.

Com essa afirmação, ele confirma o que era sabido de todos: que a qualquer momento o lastimável estado físico do edifício seria agravado. “Não há fórmula mágica para resolver isso. Eu não conseguiria acabar com esse problema em dois meses e meio de trabalho”, afirma.

Souza assumiu o cargo este ano, mas Acylino Bellisomi responde pela Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer desde 2001. “Não estive ainda na Casa do Olhar, mas fiquei sabendo que a situação é feia. É um drama. Mas tenho certeza que a restauração do prédio vai sair. Deve sair logo”, diz.

De 2001 para cá, nenhuma manutenção estrutural foi realizada na Casa. Falta de tempo para fazer algo, então, não é desculpa a se considerar. “Foram feitos reparos, mas obra mesmo não teve. Reforma não houve”, afirma Bellisomi.

A Casa localizada na rua Campos Sales não apresenta exposições desde o início de 2003, devido à má conservação do espaço. O que ocorria ultimamente no local eram as reuniões dos grupos de discussão dos núcleos de artes plásticas e de fotografia. Agora o prédio está fechado. Funcionários e atividades serão transferidos para a Casa da Palavra, na praça do Carmo, próxima da Casa do Olhar.

O espaço cultural foi inaugurado em 1990, após um restauro do prédio, mas de 1992 a 1996 teve as atividades paralisadas, durante a gestão municipal de Newton Brandão. Entre 1997 e 1998, a Casa do Olhar funcionou no mesmo edifício da Casa da Palavra. Após novos restauros no prédio em questão, a instituição reabriu em setembro de 1998 no local original.

Um amplo projeto de restauro da Casa do Olhar está engavetado desde 1990. “Ele está sendo atualizado pela Secretaria de Obras e Serviços Públicos. Paralelamente, está em andamento um edital de chamamento, que permitirá ao poder público trabalhar em parceria com terceiros para recuperar o prédio, isso por meio de captação de recursos”, diz o diretor de Cultura.

Sobre data para o início da restauração: “Prefiro não me comprometer agora em relação a isso. Mas em uma semana procuro o Diário para passar novas informações”, afirma Souza.

Quando colocaram o nome de Luiz Sacilotto (1924-2003) junto ao da Casa do Olhar, a intenção era prestar uma homenagem a este andreense que é figura fundamental da arte brasileira do século XX. Está soando como ofensa.




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