A Uesp (União das Escolas de Samba de São Paulo) vai avaliar a legitimidade das notas dos jurados do desfile das 17 escolas de samba que participaram do Carnaval de São Bernardo deste ano. O pedido foi feito pela Federação das Escolas de Samba da cidade após a confirmação de que as súmulas dos jurados continham as notas, mas não a justificativa exigida pelo regulamento para cada uma delas. Federação e diretoria da Uesp se encontram na próxima quarta-feira. A Federação também deve solicitar a inclusão de pelo menos mais um jurado para cada quesito a partir do ano que vem. No Carnaval deste ano, cada quesito teve apenas um jurado.

"Levarei todas as fitas dos desfiles e as pastas que as escolas entregaram para a organização do Carnaval para a Uesp", disse a assessora da Federação, Renata Aranha. A Uesp deve então convocar os jurados para que o critério técnico utilizado na avaliação seja explicado à Federação e depois, às agremiações. As escolas de samba da cidade questionam a legitimidade das notas, uma vez que duas das três escolas apontadas como favoritas tiveram baixa colocação, em quinto e sexto lugar do ranking.

"Queremos entender quais motivos levaram os jurados a darem notas baixas a essas escolas, como cores diferentes de sapatilhas, uso de acessórios não permitidos e até o fato de alguns integrantes estarem com calça e outros com bermuda, por exemplo", explica Renata, que também deve pedir explicações sobre a comparação ou não entre os croquis das fantasias apresentados dentro da pasta de inscrição e as levadas para a avenida.

Natalina Paronetti, presidente da escola de samba Terceira Idade Brilha São Bernardo, campeã do Carnaval 2005, considerou ética a decisão da Federação. "Trata-se de uma entidade conceituada que tem o direito de questionar. Se os jurados não justificaram as notas, agiram errado, mas também não está certo sermos apontados como privilegiados pelas outras escolas só porque nos sagramos campeões", afirmou.

A mágoa da sambista, que está à frente dos 420 componentes da escola, é por conta das acusações de favoritismo político levantadas anteontem pelas diretorias das escolas concorrentes, após o resultado da apuração. "Ela pode dizer o que quiser para se defender, mas confirmo a reclamação das outras escolas. A Terceira Idade tem privilégios sim", afirma o presidente da Império do Jardim Lavínia, José Cláudio Santos Nunes.

Integrantes da escola campeã dizem que há regalias. "Por se tratar de uma escola ligada aos programas da Prefeitura nem deveria concorrer. Se é da Prefeitura, bastava desfilar como participação especial. Recebemos subsídio indireto e levamos para a avenida poucos idosos. Quando foi criada (há cinco anos), a proposta da escola era que a terceira idade fosse para a avenida, mas isso vem se perdendo a cada ano", conta um integrante da campeã que preferiu não ter seu nome publicado.

Sobre essa acusação, a presidente da Terceira Idade, Natalina Paronetti, não quis se pronunciar. O coordenador do Carnaval de São Bernardo, Osmar Cussiol, foi procurado durante toda a tarde de ontem para comentar a discussão a respeito do resultado do Carnaval, mas não foi encontrado. Segundo informações da Prefeitura, os jurados que trabalharam no Carnaval deste ano foram contratados por meio da Uesp.

Enxerto – Outra questão que gerou polêmica entre as escolas de samba de São Bernardo é o que os sambistas chamam de enxerto. "Boa parte das grandes escolas desfilam com fantasias de escolas de São Paulo", conta um integrante da Estação Primeira de Baeta Neves. O regulamento do Carnaval também não prevê punição para esse tipo de prática.

O vice-presidente da Acadêmicos do Taí, Alexandre Alves, é um dos que aponta a prática como comum. Neste ano, a escola que ele dirige passou pela avenida Aldino Pinotti com as mesmas fantasias, alegorias e samba-enredo apresentados pela Seci, campeã do Carnaval de Santo André e que havia desfilado na noite anterior. "O povo nem deveria sair daqui para ir para o Anhembi porque em São Bernardo desfilam Vai-Vai (Terceira Idade Brilha São Bernardo), Acadêmicos do Tucuruvi (Camisa Vermelha e Branca) e Imperador do Ipiranga, pelo menos", acusa.