Catherine Deneuve completa 68 anos em outubro. Mas ainda é difícil não enxergá-la como uma versão madura d'"A Bela da Tarde" que protagonizou, esplêndida, aos 24. Por mais que seus diretores a tenham feito passar por escala de mulheres sofridas e comuns, seu olhar blasé mantinha-se impávido. Ela nunca conseguiu parecer simples. Em "Potiche - Mulher Troféu", que estreia apenas em São Paulo, François Ozon conseguiu fazer com que ela entregasse enfim um personagem que pode ser classificado de ‘gente como a gente'.

No longa, a diva francesa encarna Suzanne Pujol, uma dona de casa. Rica e linda, é claro. Mesmo assim, é totalmente apagada pelo desprezo do marido, um empresário de caráter odiável.

Ambientado nos anos 1970, o filme traduz em película enredo que é velho conhecido dos franceses e ainda funciona, sem pesar, como bem-humorado manifesto feminista. Originalmente escrito para o teatro, "Potiche" já havia sido adaptado para a TV de lá na década de 1980. É, como frisou Deneuve durante passagem por São Paulo no início do mês, um olhar sobre injustiças de gênero que ainda ocorrem.
 
Pois sua Suzanne consegue a virada depois que o marido é sequestrado. Assume a empresa e mostra um tino impressionante para a administração. Junto com os negócios, ela desabrocha e abandona o rótulo de objeto decorativo que o título sugere.
 
O jovem Ozon, que já havia dirigido a veterana em "8 Mulheres" (2002), produz de novo um título adorável, totalmente digerível até pelos que abominam o rótulo ‘cinema francês'.

CIGARRO
A estreia coincide com a polêmica que restou da passagem de Catherine Deneuve pelo País. O hotel no qual a atriz concedeu entrevista coletiva em São Paulo foi multado em R$ 872 por desrespeito à lei antifumo. Enquanto respondia aos jornalistas paulistas, a loura acendeu um cigarro. Fez o mesmo no Rio e lamentou que sua fuga do que considera "politicamente correto" tenha se sobreposto ao filme.