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Moradores vivem com
medo da violência

Bairro da Matriz, em Mauá, é residencial e de classe média;
os comerciantes são alvo semanalmente da onda de assaltos

Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
05/12/2011 | 07:00
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O bairro da Matriz, situado próximo à estação de trem de Mauá, tem localização privilegiada, segundo moradores. É próximo do transporte público, tem grandes mercados, fácil acesso ao centro comercial, abriga a Igreja Matriz e é formado principalmente por residências - muitas de alto valor, se comparadas com imóveis de outras regiões do município.

A realidade dos moradores do bairro contrasta com a onda de assaltos que tem colocado medo na população e em comerciantes, alvo de ladrões semanalmente. A violência não isenta os escritórios de advocacia, consultórios odontológicos e clínicas médicas, que são maioria nas vias onde não prevalecem casas e prédios. As reclamações foram feitas por populares da Rua da Matriz, Sorocaba, Jundiaí, Santa Cecília e Avenida Dom José Gaspar.

Na semana passada, uma clínica dentária foi assaltada de madrugada e os vidros do segundo andar foram estourados. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, o 1º Distrito Policial da cidade, referência para o bairro, registrou 101 ocorrências de roubos gerais e 63 de veículos em outubro. Em março, por exemplo, os números foram de 79 e 46, respectivamente. Os dados não são relativos apenas às ocorrências do bairro da Matriz, mas de toda a região central de Mauá.

"Muitos clientes reclamam dos roubos de carros que acontecem até durante o dia. Sempre ouvimos falar de casos próximos, e tem aumentado", disse a dona de pet shop na Rua da Matriz, Aline Brilhante, 28 anos, que trabalha há três anos na mesma área. "Piorou bastante de dois anos para cá", relata.

Outra comerciante, já acostumada à frequência de assaltos, dispara. "Onde você conversar, todos já foram assaltados", diz Elaine Trajano, 46. A última vez que sua gráfica foi assaltada foi há três meses.

Os moradores informaram que o patrulhamento de policiais na área não é rotineiro. Quem caminha pelas ruas do bairro poderia desconfiar dos relatos dos moradores. A aparência é tranquila e as casas parecem seguras. Mas as abordagens são realizadas também durante o dia, o que preocupa até quem trabalha ao ar livre. "Presenciamos muitos roubos de carro", diz a vendedora de cachorro-quente Andréia Martins, 30, que trabalha em frente à Igreja Matriz desde 2008.

A Polícia Militar informou que irá intensificar as rondas na região, mas pede para que a população colabore e faça Boletim de Ocorrência. A PM destacou ainda que a região recebeu reforço recente de mais de 320 policiais recém-formados, bem como nova remessa de viaturas e motocicletas.


Início da cobrança de Zona Azul revolta comerciantes

O início da cobrança dos estacionamentos rotativos no bairro da Matriz tem revoltado a população. Máquinas e placas indicam que o pagamento deve começar hoje. Como o local tem características residenciais, os moradores e outros comerciantes contestam a necessidade de ter de pagar para deixar os veículos na rua - hábito comum por ali. O início da cobrança também abrange o Jardim Zaíra e a Vila Assis. Com a ampliação, a Zona Azul chega a 2.951 vagas na cidade.

No bairro da Matriz a novidade foi rejeitada de imediato entre populares. "É injustiça com quem deixa o carro o dia todo na rua. Aqui não tem rotatividade. Para mim, isso é assalto. Agora teremos de trocar o tíquete o dia inteiro? Eles (a Prefeitura) demoram meses para arrumar alguma calçada ou tampar buracos, mas fizeram as sinalizações nas ruas em um mês", critica a comerciante Elaine Trajano, 46.

A funcionária de uma ótica deixou de trabalhar de carro há quatro anos e hoje utiliza o transporte ferroviário. "Para estacionar, só chegando às 7h", disse Carla Rodrigues, 38.

Para deixar o carro na rua, o valor cobrado será de R$ 0,75 para cada meia hora, maior que a taxa aplicada em Santo André, de R$ 0,60. O período máximo é de até duas horas.

O desrespeito à norma gera multa de R$ 53,20. Os motoristas deverão ter moedas para comprar o tíquete nos parquímetros. Outra opção é o cartão recarregável.

As vagas demarcadas também estão distribuídas no Centro, Vila Bocaina e Parque das Américas. Questionada, a Prefeitura de Mauá não se manifestou a respeito das queixas da população.


Loteamento de Mariquinha Pedroso surgiu após 2ª Guerra

O bairro da Matriz foi planejado no fim da década de 1940, poucos anos após terminar a Segunda Guerra Mundial. Ganhou consistência urbanística no início da década de 1950. Foi oficializado em 1952, conforme o processo de número 8.061/52 da Prefeitura de Santo André - de quem Mauá era distrito. E criou vida própria depois da emancipação de Mauá, em 1954.

Historicamente, o loteamento foi aberto em terras da família Pedroso. Situa-se no ponto mais central da cidade alta. E a referência é, de fato, a Matriz da Imaculada Conceição - daí o nome bairro da Matriz. À testa do loteamento esteve Carlos de Campos Povoa, marido de Odila Pedroso, uma das filhas de Maria Pedroso, a dona Mariquinha, herdeira de todas as terras dos Pedroso em Mauá.

Na década de 1970 ouvimos Américo Andreozzi. Ele trabalhou para as famílias Pedroso e Povoa e fez análise muito interessante. Lembrou que em todas as cidades os loteamentos começam no Centro e vão, gradativamente, atingindo os pontos mais periféricos. No caso de Mauá, esta regra não se registrou fielmente, em função das propriedades dos Pedroso.

Dizia-nos Andreozzi que por vários motivos as terras centrais de Mauá pertencentes aos Pedroso foram sobrando. Uma das causas: desentendimentos familiares. Daí porque vários outros bairros da cidade, longe do Centro Alto, formaram-se anteriormente.

Com o crescimento de Mauá, os Pedroso decidem, enfim, lotear suas terras. Fazem bons loteamentos, com ruas largas, lotes grandes, no começo de 400 e 500 m². Mesmo os lotes mais recentes, de 250 m², superavam as metragens dos atuais loteamentos populares.

"No total dos loteamentos da família Pedroso foram abertos e vendidos uns 10 mil lotes no Centro de Mauá", revelava Américo Andreozzi.

Os Pedroso tinham uma olaria em suas terras. Ela forneceu praticamente todos os tijolos para a construção da Igreja Matriz. Já as ruas do bairro foram abertas a partir da Rua Jundiaí. Entre os primeiros moradores estava Antonio Damo, pai do ex-prefeito Leonel Damo e avô da atual deputada Vanessa Damo; a família morava na Avenida Brasil.

Outros moradores pioneiros: Tércio Montanari (que veio de Minas Gerais), José Passini, José Galego, Marta Schefemberg, José Marcelino da Silva, família Polisel, Elio Bernardi (que foi prefeito e deputado estadual), Alberto Ratti e Luiz Bruzamolino.

SETOR 2
Na organização fiscal da Prefeitura de Mauá, o bairro da Matriz faz parte do Setor 2, juntamente com o Jardim Santa Lydia (de 1954), Vila Augusto (1954), Jardim Haydée (1955 e 1960) e Jardim Guapituba (1974 e 1981). (Ademir Medici)




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