Uma das mais interessantes criações da mitologia grega é a hubris - aquilo que ocorre quando o ser humano, levado pelo orgulho, perde a medida das coisas e pensa que é igual ou superior aos deuses.
Acontece muito: há gente achando que, com seu papo aranha, vai convencer os aiatolás do Irã a fazer a paz com Israel. O presidente Ahmadinejad, bem conversado, desiste de produzir a bomba atômica (ou, se chegar a produzi-la, será só para estimular o orgulho nacional, não para fins guerreiros). Uma conversa olhos nos olhos com o presidente da Coréia do Norte, Kim Jong Il, também conhecido por Estimado Líder, fará com que ele desmonte seu armamento nuclear. As demais potências nucleares só esperam a contaminação pelo vírus da paz, tão brasileiro quanto a jabuticaba, para desarmar-se. E a Secretaria Geral da ONU, em dezembro de 2011, será seu passo seguinte, para disseminar o vírus da paz.
Já há gente anunciando que Dilma Rousseff vai ganhar as eleições no primeiro turno. Nem Lula, que é Lula, conseguiu bater Alckmin, que é Alckmin, no primeiro turno; mas Dilma, ela sim, vai acabar com Serra e todos seus tucanos.
Garantiam os antigos que, quando um ser humano era tomado pela hubris e queria comparar-se aos deuses, transformava-se em alvo da deusa Nêmesis, instrumento da divina vingança. Os persas, orgulhosos de seu exército invencível, foram batidos pelos gregos, com a ajuda de Nêmesis (e de Rodrigo Santoro). Dizem que Nêmesis continua agindo. Collor não caiu, e ainda teve de virar lulista?

A VÍTIMA...
Já que Ciro Gomes, do PSB, não quis disputar o governo paulista, Lula escalou Aloizio Mercadante para enfrentar o candidato tucano, provavelmente Geraldo Alckmin, que tem posição folgadíssima nas pesquisas. É a segunda vez que Lula sacrifica Mercadante (um dos petistas mais próximos a ele): em 1994, obrigou-o a ser seu candidato a vice, numa eleição perdida - Fernando Henrique ganhou no primeiro turno - e a ficar sem mandato, desistindo de uma reeleição fácil para deputado federal. Mercadante tinha agora ótimas chances de se reeleger senador. Se perder para o governo, fica mais uma vez sem mandato.

...DE SEMPRE
Mercadante foi durante anos o principal consultor econômico de Lula. Mas não teve espaço em seu governo (Lula preferiu um médico na Fazenda e um tucano no Banco Central). Até Samuel Pinheiro Guimarães virou ministro, e Mercadante não. E ainda teve de engolir as ordens para revogar sua demissão irrevogável da liderança do governo e continuar quietinho no cargo.

SEGURA NA MÃO DE LULA
Um grupo do PMDB paulista contrário à aliança com o PSDB tenta lançar a candidatura ao governo do deputado Francisco Rossi, pró-Dilma. Quais são suas chances? Na última votação do diretório regional do PMDB, Rossi teve 73 votos. Orestes Quércia, que comanda o partido e apoia Serra, teve 600.

TEMPORADA QUENTE
O colunista Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br) teve acesso à agenda, até agora mantida em rigoroso sigilo, de Jeany Mary Corner, promotora das mais animadas festas de Brasília. Jeany Mary Corner se tornou nacionalmente conhecida durante o episódio do Mensalão do PT e de seus desdobramentos, como a República de Ribeirão - aquela casa em Brasília cujo caseiro era Francenildo Costa, o que teve o sigilo bancário violado. De acordo com Cláudio Humberto, na agenda há clientes de todos os setores: de políticos e empresários a jogadores de futebol. Em comum, têm boas contas bancárias que ninguém viola.

FESTA DO CAQUI
Lembre as notícias que você já leu sobre a Câmara Distrital de Brasília. Pois é: a própria Câmara vai eleger indiretamente o novo governador de Brasília, que completará o mandato de José Roberto Arruda, cassado, e Paulo Octavio, que renunciou. E, por favor, não creia que as coisas por lá tenham melhorado muito. O deputado federal petista Geraldo Magela, derrotado nas prévias do PT que escolheram os candidatos à eleição direta, em que será eleito o governador que comandará o Distrito Federal de 2011 a 2014, disse que "alguns setores do partido" (o seu partido, o PT) usaram abusivamente o poder econômico. O adversário do PT será Joaquim Roriz, por várias vezes governador de Brasília. Todos os envolvidos no atual escândalo já trabalharam com ele.