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Avenida do Estado está totalmente abandonada
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
19/01/2010 | 08:03
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A Avenida do Estado ou dos Estados é sinônimo de problemas para motoristas e moradores das cidades de São Paulo, São Caetano, Santo André e Mauá.

O Diário percorreu nos últimos dias o trecho da via no Grande ABC - cerca de 32 quilômetros - e constatou péssimas condições de conservação nas pistas e nas margens do Rio Tamanduateí.

Ao longo do percurso são encontrados com frequência buracos, deformidades nas pistas e entulho nas margens do rio e calçadas. Além de queixas das pessoas que moram nas proximidades, devido o mau cheiro das águas, e críticas às enchentes e alagamentos.

 

"A avenida sofre por causa da falta de investimento das três prefeituras do Grande ABC. O mais adequado seria um planejamento organizado para solucionar os problemas de sempre", disse Murilo Valle, coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Fundação Santo André.

As fortes chuvas que caíram na região desde dezembro trouxeram à tona um problema corriqueiro ao longo dos anos: o desmoronamento de encostas do rio.

Na altura do número 4.500 da via, no bairro Santa Terezinha, em Santo André, o sentido São Paulo tem um trecho de 20 metros que deslizou e deixou as grades de proteção soltas.

A Prefeitura de Santo André colocou três cavaletes no local. No período noturno, os motoristas precisam desviar dos obstáculos, e as manobras quase provocam acidentes. Não existe sinalização que avise sobre o bloqueio.

No mesmo bairro, há uma passarela de madeira que coloca os pedestres em risco. Os pregos estão enferrujados e à vista, e as tábuas apresentam vários pontos danificados. O mato também está alto.

Mesmo com apenas 600 metros da Avenida dos Estados. Mauá não mantém nenhuma política de preservação. Há entulho jogado na margem do rio, a grade de proteção foi arrancada para permitir a entrada de caminhões e a vegetação está sem poda.

Em São Caetano, buracos atrapalham a vida dos motoristas, e as enchentes no bairro Fundação deixam os moradores em pânico.

"Basta chover para eu ficar em choque. Isso não é vida", disse Benedita Boleli, 68 anos.

No trajeto da avenida que pertence à Capital, são encontrados lixo e entulho no canteiro central, na Vila Califórnia.

Estudos e projetos - A Prefeitura de Santo André informou que está fazendo um estudo para saber o custo do recapeamento do Avenida dos Estados. Segundo nota da administração municipal, ainda não há prazo para o início da execução dos serviços e os buracos são frequentemente tapados. A Prefeitura informou ainda que as margens do Tamanduateí estão sendo capinadas. Até o fim de janeiro, o serviço estará concluído e a ponte em más condições será vistoriada.

A administração de São Caetano informou que técnicos serão enviados para o local indicado pela reportagem e que a manutenção do asfalto é feita em parceria com o governo do Estado.

As prefeituras de Mauá e São Paulo não responderam aos questionamentos.

Medo das chuvas é preocupação comum
Pânico. Este é o estado em que ficam os moradores e comerciantes que vivem nas proximidades da Avenida do Estado ou dos Estados em São Paulo, São Caetano, Santo André e Mauá, quando começa a chover. A chuva não precisa ser forte para a população entrar em alerta com a situação do Rio Tamanduateí e colocar em prática planos de emergência individuais.

As táticas mais utilizadas são a mudança de móveis e mantimentos para o andar superior, a retirada dos automóveis das garagens para ruas afastadas da avenida. Além de colocar veículos em cavaletes de oficinas mecânicas e, obviamente, fechar as comportas, item básico das casas e empresas dos bairros Fundação (São Caetano), Vila Metalúrgica, Santa Terezinha (Santo André) e Vila Califórnia (São Paulo).

"Passamos 17 anos sem uma enchente por aqui, mas agora basta uma chuvinha para as águas invadirem a rua. Se chove à noite, não durmo", conta a pensionista Margarida Nascimento, 60 anos.

A idosa mora há 40 anos no bairro Fundação, em São Caetano, e já sofreu inúmeros alagamentos na sua casa, que fica Rua Major Aderbal de Oliveira,localizada a menos de 50 metros do rio.

A comerciante Viviane Martins da Gama, 38, construiu uma casa na mesma via que Margarida e, em seu primeiro ano no local, teve dois prejuízos com uma enchente.

O primeiro foi a perda total de um carro e o outro, o cancelamento da ideia de trazer à garagem de casa seu comércio, que atualmente fica na bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo.

"Quando era pequena, morei na região. E fazia muitos anos que não enchia. Mas foi só a casa ficar pronta para acontecer a tragédia. Agora basta chover para me dar enxaqueca e dor de estômago", comenta Viviane.

No bairro Santa Terezinha, em Santo André, os funcionários da oficina mecânica Interlagos já têm um ritual para não ter despesas extras com os carros dos clientes, mesmo já contando com a proteção da comporta construída no galpão. "Quando a água começa a sair pelo bueiro, a gente levanta os carros nos cavaletes", conta o mecânico Marcos Gomes, 44.

A Prefeitura de São Caetano informou que está trabalhando na construção de galerias de águas pluviais em todo o município. As obras já estão em andamento. O Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), responsável pelas obras de drenagem e manutenção do Rio Tamanduateí, não se manifestou.

Avenida tem longo histórico de queixas da população
Os problemas de buracos, desmoronamentos de encostas, deformidades nas pistas, alagamentos e enchentes na Avenida do Estado ou Estados são conhecidos de longa data dos moradores do Grande ABC. Devido às péssimas condições da via, o Diário, em 1996, criou o movimento SOS Avenida dos Estados e, em quatro meses, conseguiu 40 mil assinaturas de apoio, o que criou uma série de propostas para melhorar as condições.

"O governo e as prefeituras deveriam investir. A avenida é o cartão postal do Grande ABC, e tudo está muito feio", opina o aposentado José Vieira Cintra, 78 anos.

Na década 1970, as principais queixas da população eram o excesso de buracos e a falta de proteção lateral. Dez anos depois, foram instalados os protetores, mas a pavimentação irregular continua. Nos anos 1990, a crítica era a falta de placas de sinalização e passarelas. A partir do ano 2000, a comunicação visual foi feita, e os pedestres ganharam melhores acessos.




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