Já é até um tema incômodo, mas desde que Guel Arraes adaptou O Auto da Compadecida para a TV e posteriormente para as telonas, todo filme com sotaque nordestino – não importa o Estado em que seja ambientado, é alvo de comparação. Não foi diferente com O Homem que Desafiou o Diabo, adaptação do livro As Pelejas de Ojuara, do escritor potiguar Nei Leandro de Castro, que estréia nesta sexta-feira na região e em São Paulo.

Assim como a obra de Ariano Suassuna, a produção tem a marca do sertanejo esperto. Mas, na comparação, a trama adaptada por Moacyr Góes (também diretor) e Bráulio Tavares ganha em malícia e perde em carisma.

Não que isso seja admitido como preocupação. “O Nordeste não é algo que se possa aprisionar em uma obra”, diz Luiz Carlos Barreto, o produtor, ao lado da mulher Lucy.

O personagem principal é Zé Araújo (Marcos Palmeira), mascate que se dá mal depois que se engraça com Dualiba (Livia Falcão), filha virgem do dono da venda da cidadezinha de Jardim de Caicós, no sertão do Rio Grande do Norte. Antes doido por um rabo de saia e por sessões de bebedeira, é dominado pelo sogro e pela mulher ninfomaníaca.

Quando descobre ser alvo de chacota da cidade, rompe com o velho comportamento: abandona Dualiba e o emprego no armazém e vira Ojuara (Araújo ao contrário), um destemido sertanejo com chapéu e roupa de couro. Palmeira, que filmou em locações no Nordeste, passou calor. “Mas no fim me ajudou a incorporar o Ojuara”, acredita.