Diarinho Titulo
É mesmo a
cara da mamãe?
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
08/05/2011 | 07:00
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Quando um bebê nasce, as pessoas que o visitam na maternidade costumam falar com quem se parece. Na natureza, entretanto, nem sempre é possível dizer que o filhote é a cara da mamãe, simplesmente porque as crias de algumas espécies não se assemelham em nada com os adultos.

Os motivos são variados. Há bichos, por exemplo, que terminam o desenvolvimento após o nascimento. É o que acontece com os anfíbios: sapos, rãs e salamandras. Ao saírem dos ovos, os girinos (como os filhotinhos são conhecidos) têm apenas cabeça e cauda para nadar. As pernas crescem e o rabo desaparece com o passar dos dias, até ficarem com a aparência dos adultos.

Algo semelhante ocorre com os marsupiais, como o canguru, coala, gambá, entre outros. O canguru-vermelho, da Austrália, nasce com cerca de 3 cm, cego, sem pelos e sem os membros desenvolvidos. Arrasta-se até a bolsa - chamada marsúpio - na barriga da mãe, onde vive por um ano. Nesse período, vai ganhando as características dos pais. Na fase adulta, mede 1,4 m, em média.

OUTRA COBERTURA - Algumas espécies nascem fisicamente parecidas com os pais, porém, com cores diferentes. O filhote de anta tem pelagem marrom com listras clarinhas. A característica é uma forma de deixá-lo bem camuflado e protegido dos predadores.

A suçuarana não tem manchas como a prima onça-pintada. O mesmo não se pode dizer de suas crias. As pintinhas escuras na pelagem também servem para confundi-los com a vegetação.

E tem mais. Quase todas as penas da coruja-das-neves adulta são brancas, mas os filhotes saem dos ovos com plumagem da cor do carvão. Assim, também podem ficar bem disfarçados no ninho.

Já os bebês flamingos têm plumas branquinhas. As penas rosa-alaranjadas surgem com o passar do tempo, à medida que se alimentam de invertebrados aquáticos que, em geral, possuem caroteno. A substância é a responsável pela coloração avermelhada.

 

Fêmeas criam filhotes de outras espécies

Nem sempre os filhotes são criados pelas mães biológicas. O fato mais curioso, no entanto, é que podem ser adotados por espécies bem diferentes e com as quais não costumam se dar bem. Vira e mexe surgem casos de galinhas que cuidam de outras aves, cadelas que criam gatinhos e vice-versa.

Três filhotes de leões (foto) foram amamentados por uma cachorra após serem abandonados pela mãe em um zoológico da China, em 2009. Na realidade, os zoos chineses usam com frequência cadelas para alimentar crias rejeitadas de bichos como tigres e ursos.

Esse tipo de adoção é comum em cativeiro, mas existem casos registrados por pesquisadores. O sapeca chupim bota seus ovos no ninho de outras aves, como o tico-tico, que os choca, alimenta e cuida dos filhotinhos. Dá para acreditar?

Uma das histórias mais impressionantes é a da leoa que adota pequenos antílopes (que servem de alimento para os felinos) no Parque Nacional de Samburu, no Quênia.

 

Crias doentes são abandonadas

Quando um filhote nasce com problemas físicos ou mentais ou muito fraquinho a mãe pode abandoná-lo. Apesar de parecer estranho para os humanos, é algo natural entre os bichos. O objetivo é que os animais mais fortes e saudáveis sobrevivam para no futuro gerarem bons descendentes. Assim, a espécie tem mais chances de continuar existindo.

Na natureza, a cria rejeitada não sobrevive. Já nos zoos, é retirada da área em que os pais vivem e cuidada por funcionários do local. Alguns especialistas são contra esse procedimento.

O caso mais famoso é o do urso-polar alemão Knut. Abandonado após o nascimento, em 2006, o bicho recebeu carinho e atenção do tratador Thomas Dorflein. Knut sobreviveu e se transformou em celebridade. Entretanto, não tinha boa saúde. Morreu em março por causa de problemas no cérebro.

 

Proteção, carinho e muitas lições

O convívio com a mãe é fundamental para algumas espécies, principalmente de mamíferos e aves. Além de proteger as crias e dar carinho, as fêmeas as ensinam a procurar o alimento correto, se defender, fugir de predadores, entre outras lições. Ao observá-las, os pequenos também se transformarão em bons pais no futuro.

Por muito tempo, o leite materno é a única fonte alimentar dos mamíferos. Já as aves que pertencem ao grupo chamado nidículo, como arara, tucano, sabiá, beija-flor, nascem com olhos fechados e sem penas, por isso, precisam receber comida no bico. Essa turma só deixa o ninho após se desenvolver.

SUPERPROTETORAS - As ursas são consideradas mães muito dedicadas e preocupadas com as crias. Costumam atacar qualquer animal que se aproxime demais dos filhotes. Chegam a brigar com bichos bem maiores e mais fortes do que elas, como ursos machos.

Entre as aves, a coruja fica com o título de mãe zelosa. Tanto que deu origem à expressão ‘mãe coruja', dada às humanas que exageram no cuidado. Os intrusos também não têm moleza com o quero-quero. O pássaro dá voos rasantes na cabeça de quem considera uma ameaça aos filhotes. A cena é constantemente vista nas partidas de futebol, pois o bicho adora fazer ninhos nos gramados.

 

Saiba mais

- A aparência frágil dos filhotes, principalmente dos mamíferos, desperta a atenção das mamães. O choro também funciona como alarme para a cria dizer que está em perigo.

- Nem todos os animais dependem das mães após o nascimento. Em geral, sapos, rãs, lagartos e tartarugas botam muitos ovos e vão embora, sem ter de cuidar dos filhotes.

- Mesmo sendo muito diferente, nem sempre o filhote albino (com pele ou pelos totalmente brancos) é abandonado pela mãe.

 

Consultoria do biólogo Guilherme Domenichelli




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