Cultura & Lazer Titulo
Sacilotto e Barsotti em diálogo
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
07/03/2010 | 07:01
Compartilhar notícia


Durante décadas, a partir dos anos 1950, concretistas e neoconcretistas travaram debates fervorosos. Mais do que diferenças artísticas, os grupos tinham desavenças geopolíticas e pessoais - um era de São Paulo e outro do Rio.

Uma exposição inédita confronta obras do concretista andreense Luiz Sacilotto (1924- 2003) e do neoconcretista Hércules Barsotti, 96 anos. "A principal reflexão proposta é se realmente há diferenças entre os grupos", afirma o curador, Enock Sacramento, que por 17 anos morou em Santo André, onde foi um dos fundadores do Salão de Arte Contemporânea da cidade e manteve amizade com Sacilotto.

A mostra está no Espaço Cultural BM&F/Bovespa (Praça Antonio Prado, 48. Tel.: 2565-6826), em São Paulo, até 7 de maio, com o título Sacilotto e Barsotti - Diálogo entre o Concretismo e o Neoconcretismo. Visitação de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, com entrada franca.

Segundo Sacramento, quando os artistas "se punham a escrever artigos uns contra os outros, o eletrocardiograma subia e descia de forma impressionante". Os cariocas achavam os paulistas quadrados e ortodoxos. Já o ‘pessoal' de São Paulo dizia que o do Rio era incompetente.

"Sempre defendi que o neoconcretismo nasceu do concretismo. Aliás, este primeiro só existe no Brasil. Prefiro dizer que todos são construtivistas. Esse termo já é uma tendência mundial", entende o curador.

Toda essa briga, para Sacramento, tem seu lado positivo: "Quando há debate é que surge a luz. Hoje, a arte está muito tranquila, cada um faz sua parte e ponto final".

A exposição é formada por 12 obras de cada autor. Apesar de figurarem em grupos ‘rivais', Sacilotto e Barsotti foram amigos. Mas um não chegou a influenciar o trabalho do outro. "Eram artistas bem definidos, cada um à sua maneira. Sacilotto tinha vertentes mais numerosas e trabalhava muito o raciocínio matemático. Barsotti usava bastante a beirada dos quadros e linhas na diagonal", explica.

O andreense chegou a fazer obras figurativas no início da carreira. "Mas quando ele pintou seu primeiro quadro concreto, nunca mais fez desenho. Sacilotto foi um artista radical e fiel, pegou uma ideia e foi a fundo", comenta Sacramento.

Tão radical que se posicionou firmemente contra o golpe militar de 1964: parou de pintar. "Ele disse ‘este País não merece minha pintura'", conta o curador. Só voltou em meados dos anos 1970, no limiar da Nova República.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;