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Briga de feras no Oscar de melhor ator
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
19/02/2008 | 07:06
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Na 80ª festa do Oscar, a ser realizada no próximo domingo, a sensação é de que a estatueta de melhor ator será anunciada em tom de barbada. Se depender do banco de apostas e do retrospecto do inglês Daniel Day-Lewis, ele, que já tem um prêmio na prateleira de ator principal, deve levar mais um por Sangue Negro.

No páreo ainda estão George Clooney (Conduta de Risco) e Tommy Lee Jones (No Vale das Sombras), donos de um Oscar cada por papéis como coadjuvante e, correndo por fora, dois atores que não têm o prêmio ainda: Johnny Depp (Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet) e Viggo Mortensen (Senhores do Crime). Confira os perfis.

Daniel Day-Lewis, inglês, 50 anos

Indicado por Sangue Negro (em cartaz), de Paul Thomas Anderson.

Ganhador do Oscar de ator por Meu Pé Esquerdo, em 1990, mais indicações em 1994 (Em Nome do Pai) e 2003 (Gangues de Nova York)

A estréia de Day-Lewis no cinemão foi uma ponta no oscarizado Gandhi (1982), de Richard Attenborough. Hoje, o cinqüentão nascido em família de escritores e produtores de cinema se tornou freguês do prêmio que menos se parece com seu jeito recluso.

Day-Lewis é o sonho de todo diretor: trabalha seus personagens até o limite da exaustão e quase sempre presenteia o cineasta com interpretações do tipo ‘um espírito baixou em mim’. Por conta de seus métodos de imersão nos papéis, chegou a ser chamado de Robert De Niro inglês. Em O Último dos Moicanos (1992), construiu uma canoa, aprendeu a rastrear e a tirar pele de animais e não abandonava sua arma.

Mas isso começou a incomodá-lo quando percebeu que ficou pouco tempo ao lado da família: antes de cada papel, ele precisa ficar isolado. Em 1997, depois de filmar O Lutador, anunciou uma espécie de aposentadoria. Mudou-se para a Itália para se dedicar à carpintaria.

Mas Martin Scorsese, com quem havia trabalhado em A Era da Inocência (1993), estava determinado a tê-lo como o vilão de Gangues de Nova York (2002). O diretor inventou uma história qualquer para encontrá-lo fora do retiro. Então, cinco anos depois de ter entrado em um set, Day-Lewis voltou à velha forma: passou a afiar facas na hora do almoço e compôs o cruel Billy, o Açougueiro. Nas filmagens, teve gripe, mas recusou um casaco mais quente porque no século 19 só existiam paletós como os que ele usava.

Viggo Mortensen, norte-americano, 49 anos
 Indicado por Senhores do Crime (estréia sexta-feira, 22), de David Cronenberg. Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.

O nova-iorquino conseguiu um papel maior no cinema em 1985, em A Testemunha, de Peter Weir. Mas o ator descendente de dinamarqueses não mereceu uma segunda olhada até ser dirigido por Sean Penn em Unidos pelo Sangue (1991) e conseguir, ao lado do mesmo Penn, contracenar com Al Pacino em O Pagamento Final (1993). Nos anos seguintes, ainda continuou imerso em produções de difícil acesso ao grande público. Quando ganhou o papel do chefe da soldado de Demi Moore em Até o Limite da Honra (1997), ficou mais conhecido. Mortensen é artista completo: escreveu livro de poesias, é fotógrafo e pintor (um mural que aparece em O Crime Perfeito, em 1998, foi feito por ele). Graças à desistência de Stuart Townsend do papel de Aragorn na trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Weir, emplacou de vez no grande mercado. Antes de ganhar o papel que lhe rendeu a nomeação, trabalhou com o diretor canadense David Cronenberg em Marcas da Violência (2005).

Tommy Lee Jones, norte-americano, 61 anos

Indicado por O Vale das Sombras (em DVD), de Paul Haggis. Ganhador do Oscar de coadjuvante por O Fugitivo, em 1994. Indicado a coadjuvante em 1992 (JFK – A Pergunta que Não quer Calar)

Lee Jones é o típico Texas Ranger, aquele policial durão que resolve tudo contando em grande parte com sua intuição – fez esse papel na comédia O Homem da Casa (2005) e até Onde os Fracos Não Têm Vez (2007). Mas sua estréia, depois de terminar o curso em Harvard (onde foi colega de Al Gore), foi no água-com-açúcar Love Story (1970).

Seu cinismo típico ficou marcado em O Cliente (1994) e em O Fugitivo (1993), no papel do agente Samuel Gerard, pelo qual ganhou o Oscar, e mais tarde o repetiu em US Marshals – Os Federais (1998), além de Assassinos por Natureza (1994). Com MIB – Homens de Preto (1997) fez escada para Will Smith e agradou as crianças. Em O Vale das Sombras, que lhe credenciou para o prêmio deste ano, interpreta um pai em busca de notícias do filho, desaparecido após retornar de batalha no Iraque. Em sua carreira recente, o ator parece estar perdendo a casca dura e ganhando papéis mais versáteis. E o melhor: está se dando muito bem.

Johnny Depp, norte-americano, 44 anos

Indicado por Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Fleet Street (em cartaz), de Tim Burton. Nunca levou nenhum Oscar. Indicado em 2004 (Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra) e 2005 (Em Busca da Terra do Nunca).

 

Ele foi um dos Anjos da Lei (1987-1990), mas não se adaptou bem à figura de mocinho. Logo estava fazendo papéis excêntricos sob a batuta de John Waters. Mas foi com outro ‘esquisito’ que Depp encontrou um casamento sólido: o cineasta em questão é Tim Burton, que o escalou ao lado de Winona Ryder para Edward Mãos de Tesoura (1990) e nunca mais parou de fazê-lo: Ed Wood (1994), A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999), a refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005).

Entre um e outro filme de Burton, encarnou com perfeição o pirata carismático de Piratas do Caribe. Com Sweeney Todd, Burton lhe fez ir além. Depp, que foi roqueiro na juventude, canta pela primeira vez em cena. E se dá bem.

George Clooney, norte-americano, 46 anos

Indicado por Conduta de Risco ( em cartaz), de Tony Gilroy. Ganhador do Oscar de ator coadjuvante por Syriana em 2007, mais duas indicações em 2006 , como diretor e roteiro original por Boa Noite e Boa Sorte.

Se você admitir que assistiu ao filme de 1988 da franquia Tomates Assassinos, talvez se lembre de um ator bonitão meio perdido ali no meio: é George, o sobrinho da atriz Rosemary Clooney. Seu charme passou despercebido até que o papel de pediatra em E.R.o catapultou. Escolheu o menos óbvio e, ao lado de Quentin Tarantino, foi dirigido por Robert Rodriguez em Um Drink no Inferno (1996). Irresistível Paixão (1998) poderia ser só a oportunidade de pegar carona no sex appeal de Jennifer Lopez. Mas foi ali que começou o único casamento bem-sucedido do solteirão inveterado: com o diretor Steven Soderbergh. Os dois fizeram a trilogia da quadrilha de Danny Ocean entre 2001 e 2007, além de Solaris (2002) e O Segredo de Berlim (2006). Além de produzir quase todos esses filmes, Clooney se deu muito bem atrás das câmeras em Confissões de uma Mente Perigosa (2002) e Boa Noite e Boa Sorte (2005). Conduta de Risco não deve lhe dar mais um Oscar, mas coroa a fase de criador em outras searas da sétima arte.




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