Cultura & Lazer Titulo Estreia
Teatro de riso
nervoso e reflexivo

Cia são-bernardense é inaugurada com
adaptação de textos do Plínio Marcos

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
06/07/2013 | 07:14
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Divulgação


Plínio Marcos, as risadas no teatro, a falta de espaço para se apresentar, tudo levou à criação do Coletivo Menelão de Teatro. O grupo, que surgiu das oficinas teatrais da ONG Consorte, em São Bernardo, começou incentivado por um exercício cênico. Todos resolveram se perguntar: para quê tanto riso no teatro enquanto o que acontece na realidade, no entorno, não é tão risível assim?

A crítica ao teatro comercial foi acrescida de outras. Sem teatro para poderem se exercitar, fizeram do teatro alternativo seu espaço de apresentação. Munidos de Plínio Marcos até os dentes – fragmentos de cinco textos do dramaturgo paulistano são exibidos –, eles costuram em cena um enredo que mostra que há mais motivo para chorar do que para sorrir em 'Tá Rindo do Que?', que estreia hoje no Ponto de Cultura Consorte, em São Bernardo.

A montagem, apresentada em algumas salas do prédio comercial da ONG e na rua, garante apenas 30 lugares por sessão. O preço do ingresso fica por conta da plateia, que decide quanto pode ou quer pagar. A peça fica em cartaz em todos os fins de semana do mês. Se houver chuva, a exibição é cancelada.

“Os cenários das histórias de Plínio Marcos são do dia a dia, uma casa, a rua. A gente achou que ele casa melhor com o espaço alternativo do que com a caixa preta. Até porque ele mesmo escancara uma realidade alternativa da qual o povo muitas vezes não tem ciência de que faz parte do nosso meio”, conta o ator Raffael Santos.

Os textos de Plínio que ganham luz são: 'Quando As Máquinas Param' (1963), 'Dois Perdidos Numa Noite Suja' (1966), 'Homens de Papel' (1968), 'O Abajur Lilás' (1969) e 'Balada de Um Palhaço' (1986). A última peça serve de base para a narrativa. Menelão e Bobo Plin, os personagens da obra original, são dois palhaços que trazem à tona discussão sobre a labuta artística. Cansado dos já ultrapassados expedientes do riso, Bobo Plin deseja ser artista na essência, e confronta Menelão, que está pensando é em ganhar dinheiro.

A narrativa não linear exibe vários painéis. Um casal vive um delicado momento quando a mulher passa por um aborto; três reféns passam por apuros em um bordel; dois perdidos são assaltados; oito catadores de lixo são oprimidos após um estupro; dois palhaços vivem o fim do circo onde trabalharam.

“Não faço teatro para o povo, mas o faço em favor do povo. Faço teatro para incomodar os que estão sossegados. Só para isso faço teatro”, avisou o dramaturgo certa vez. Apesar do ouro estar entregue na frase do próprio Plínio Marcos, também é objeto de interesse do grupo entender porque até mesmo nos fortes textos dele é comum haver espaço para risos.

“Durante o processo percebemos como o teatro como entretenimento é mais interessante para o público e mais fácil para produzir, mas acontece que essa arte surgiu para mostrar a realidade, criticar os erros. Tem um texto que o Plínio deixou que diz que o público não ri de verdade, mas de nervoso, para fugir da realidade.”

Tá Rindo do Que?Teatro. Sáb. e dom., às 20h. No Ponto de Cultura Consorte – Avenida Capitão Casa, 1.493, sala 1, São Bernardo. Tel.: 4473-3960. Ingr.: pague quanto quiser. Até dia 28.




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