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Nem doença contém os objetivos de Tortorello
Por Giba Bergamim Jr.
Do Diário do Grande ABC
11/11/2004 | 10:09
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O prefeito de São Caetano, Luiz Tortorello (PTB), 67 anos, revelou nesta quarta ao Diário que está sendo submetido a um tratamento para curar "hepatite C". A informação foi dada durante entrevista exclusiva, após meses de especulação em torno de suposta doença grave que estaria acometendo o maior líder político da cidade.

Supostamente seis quilos mais magro - Tortorello afirmou que está com 65 quilos, sendo que normalmente seu peso oscila entre os 70 e 71 quilos -, ele declarou que o problema de saúde não afetará o processo de transição do governo, que será passado ao médico José Auricchio Júnior, eleito no último dia 3 de outubro com seu total apoio.

Com a mesma postura altiva, voz firme, o prefeito declarou que se dedicará nos próximos anos à eventual candidatura a deputado federal. "Mas se o cavalo passar arreiado, monto e concorro ao governo do Estado", disse.

A polêmica em torno da doença de Tortorello se disseminou na cidade, mas, até então, o prefeito não havia se posicionado oficialmente.

Para pôr fim à central de boatos, o Diário tentou desde a semana passada entrevistar Tortorello. Na última segunda-feira, o irmão e assessor especial do prefeito, Antônio de Pádua Tortorello, disse que o petebista concederia entrevista, desde que o jornal deixasse de assediar o prefeito em sua casa. Pádua marcou a entrevista para quarta-feira.

Nesta quarta, a reportagem foi recebida por Tortorello. Antes, o diretor de comunicação, Aleksandar Jovanovic, informou que apenas um jornalista faria a entrevista. O repórter Danilo Angrimani, que acompanhava a equipe, não pôde ter acesso ao gabinete do prefeito. Jovanovic também limitou o registro a apenas algumas imagens do prefeito em seu gabinete, não permitindo que o repórter-fotográfico Luciano Vicioni acompanhasse toda a entrevista.

Jovanovic informou que Tortorello só falaria sobre questões político-administrativas. A reportagem não deveria questionar o estado de saúde, pois isso poderia constranger o prefeito.

O diretor de comunicação ainda solicitou que as perguntas fossem antecipadas. A reportagem adiantou os temas (transição, futuro político, balanço administrativo) e se comprometeu a não abordar questões relacionadas à doença de Tortorello.

Respeitado o acordo, Tortorello recebeu a reportagem em seu gabinete, decorado com fotos de familiares, de seu clube de coração, o São Caetano, de diplomas e títulos a ele concedidos, além das bandeiras da cidade, do Estado de São Paulo e do Brasil. Presenciaram a conversa o seu irmão Pádua, o prefeito eleito, José Auricchio, o presidente do PPS municipal, Paulo Azevedo, Jovanovic e o comandante da Guarda Municipal, Salum Kalil Neto.

Doença - Antes que a reportagem fizesse qualquer pergunta, Tortorello se adiantou e tomou a iniciativa da entrevista, falando justamente sobre o assunto proibido.

"Vamos falar primeiro da saúde", disse Tortorello, para surpresa do repórter. "Estou muito bem, passando por um tratamento médico, em ótima recuperação", disse. Questionado sobre qual doença o acometeria, ele respondeu: "Uma hepatite CCC (repetiu três vezes a consoante C). "Mas estou muito bem. Só perdi alguns quilos por conta de uma dieta, uma reeducação alimentar."

Tortorello não revelou detalhes da doença que, segundo ele, teria sido detectada ao final do primeiro turno das eleições. Também preferiu não mencionar o nome do médico que o trata, nem os medicamentos usados e onde exatamente faz o tratamento. "São questões pessoais", afirmou, acrescentando apenas que vem se tratando "na cidade mesmo".

O prefeito declarou que a enfermidade em nada afetou suas atividades no governo, nem na campanha de Auricchio. "Estou atuando normalmente. Vistorio obras, participo das reuniões e converso sobre a transição diariamente. O Auricchio está aí (apontou para o prefeito eleito) para comprovar. Está tudo bem, passarei a administração para ele sem problema nenhum", sentenciou.

Futuro político - Para tentar ressaltar que seu problema de saúde é contornável, Tortorello reiterou intenções políticas para 2006. Mudar de partido será o passo inicial para se preparar para disputar uma vaga na Câmara Federal. Isso dependerá de uma fusão entre PPS e PDT, que vem sendo articulada por caciques nacionais das duas siglas. "A junção PPS/PDT tem tudo para acontecer. Estou disposto a sair do meu partido para entrar nesse novo grupo", declarou. Terça, a executiva nacional do PPS confirmou a possibilidade de a fusão realmente ocorrer.

Tortorello afirmou que não pretende atuar na gestão de Auricchio. Eventuais atuações em diretorias ou conselhos municipais estão descartadas, segundo ele. "Posso ajudar com idéias. Quero ficar livre para cuidar da candidatura em 2006."

O petebista declarou também que não vai indicar nenhum nome para compor a gestão Auricchio. "Quando assumi, em 1996, perguntei ao Braido (Walter Braido, prefeito sucedido por Tortorello) se ele gostaria de sugerir alguns nomes. Ele me disse: 'O novo prefeito é você'. Entendo que é assim que deve ser. Vou passar a Prefeitura para ele (Auricchio) e ele decidirá quem vai compor as diretorias."

Filhos - Ver um de seus filhos comandando a cidade após a gestão de Auricchio é algo que Tortorello almeja. "Não conversamos sobre isso ainda. Mas uma decisão de algum de meus filhos, do Marquinho (Tortorello, deputado estadual) ou do Luiz Olinto (diretor do colégio Tijucussu-Pueri Domus) de entrar na disputa, após os oito anos do Auricchio, que vai tentar a reeleição, me agradaria."

Polêmica - O prefeito afirmou que as reportagens do Diário, veiculadas entre sábado e terça, alarmaram a sua família. "Por causa dessas notícias, me ligaram pessoas do Brasil inteiro perguntando se eu estava morrendo. Isso deixou toda a minha família alarmada. Todos ficaram preocupados." No entanto, a reportagem tentou confirmar informações sobre a doença do prefeito, por meio de um telefonema, há três semanas. Por volta das 22h de uma sexta-feira, o prefeito atendeu a uma ligação do Diário, que questionou se ele realmente estava em tratamento médico. "Se depender dos meus inimigos, estarei morto amanhã", declarou na ocasião.

Superávit e cortiços - Tortorello comemorou o fato de, mais uma vez, a cidade fechar seu balanço financeiro em superávit. A previsão dele é a de fechar o ano com um balanço positivo de R$ 1,5 milhão, algo em torno de 0,3%. O prefeito declarou que os oito anos de sua administração foram uma "revolução". "São Caetano sempre priorizou as parcerias. Nunca precisou pedir um centavo emprestado. Conseguimos a qualidade do saneamento, por exemplo, com investimentos próprios."

Ele disse também que está articulando uma parceria da Prefeitura com o Santander Banespa para "acabar com os cortiços da cidade". Com a confirmação da parceria, a previsão é a de reurbanizar todos os cortiços da cidade entre o ano que vem e 2006. "Estaremos conversando sobre essa parceria nos próximos dias."

Petistas - Os 30.490 (32,18%) votos do petista Hamilton Lacerda não representaram o crescimento do partido na cidade, segundo Tortorello. José Auricchio Júnior venceu as eleições com 43.988 (46,43%) votos. "O PT só fez dois vereadores, diferentemente do nosso grupo de apoio, que ganhou as demais cadeiras (9). Acho que o Hamilton entrou na bolha do PT, que ainda tem atuação regional. Mas não acredito que isso represente um crescimento." Em 2000, Tortorello foi reeleito com 78,21% dos votos válidos (63.509) contra os 15,08% de Jair Meneghelli (PT), com 12.250 votos.




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