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Brasil tem dia mais letal um ano desde o 1º caso

Secretários de Saúde da região reforçam importância do SUS no combate à pandemia da Covid-19

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
26/02/2021 | 07:00
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Pixabay


Foi no dia 26 de fevereiro de 2020 que o governo do Estado de São Paulo confirmou o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Um paulistano de 61 anos, que tinha viajado para a Itália, e voltou ao País contaminado. Em 365 dias, o Brasil já acumula 10.390.461 casos, 251.498 mortos e teve ontem o maior número de óbitos em período de 24 horas desde o início da pandemia, com 1.582 perdas. A vacinação caminha a passos lentos e os sistemas de saúde estão sendo exigidos ao máximo. O Diário entrevistou secretários de Saúde do Grande ABC, que foram unânimes em afirmar como a pandemia reforçou, ainda mais, a importância do SUS (Sistema Único de Saúde).

Secretário de Saúde em Santo André, Márcio Chaves lembrou que, ainda em 20 de janeiro, houve um caso suspeito da doença em Santo André – o Grande ABC só viria a ter a primeira confirmação em 15 de março – e que nesse momento iniciou-se a preparação da rede para enfrentar a pandemia.

“Nosso grande desafio foi estrutural, preparar a rede para não entrarmos em colapso”, afirmou. Treinar e capacitar os funcionários para receber e atender esses pacientes; garantir leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), medicamentos, insumos, em um momento em que tudo sumia do mercado”, completou.

Chaves lamentou o avanço atual da doença, que tem levado para internação em estado grave pessoas entre 30 e 50 anos, e destaca que a rede de saúde de Santo André se fortaleceu. “Falam muito dos hospitais de campanha, mas temos toda uma rede que faz o atendimento inicial, o diagnóstico e encaminha com rapidez”, concluiu.

Secretário de Saúde de São Bernardo, Geraldo Reple pontuou que a pandemia trouxe aprendizado diário, de algo nunca antes imaginado na medicina e no mundo. “No setor público, ficou muito clara a importância do SUS como protagonista na garantia do tratamento igualitário para todos”, afirmou, destacando os investimentos feitos pela cidade na ampliação de leitos e inauguração de dois novos hospitais permanentes (Hospital de Urgência e Hospital Anchieta). Reple ressaltou que o desafio atual é implementar ações mais rápidas do que o vírus, sempre com o intuito de evitar a disseminação da doença.

A secretária de Saúde de São Caetano, Regina Maura Zetone, ressaltou a importância da ciência. “Nunca, em tão pouco tempo, descobrimos uma forma de se combater uma doença”, em referência às vacinas que foram desenvolvidas. Destacou a agilidade da cidade em criar comitê de emergência e serviços que foram destaque no País, como disque coronavírus, testagem em massa de mais de 60% da população, bloqueios sanitários, realização de inquéritos epidemiológicos, entre outras ações. “Fomos a primeira cidade da região a inaugurar ambulatório pós-Covid”, concluiu.

Para a secretária de Saúde de Diadema, Rejane Calixto, a pandemia trouxe a certeza de que é importante que o setor público esteja preparado para o enfrentamento de emergências, que podem acontecer a qualquer momento. “A ciência precisa ser valorizada, incentivada e ter investimento. O setor público, da mesma maneira, também precisa estar respaldado, do ponto de vista técnico e do financiamento do sistema, para dar uma resposta rápida e eficaz”, finalizou.

O secretário de Saúde de Ribeirão Pires, Audrei Rocha, avalia que a pandemia tanto expôs as fragilidades quanto enrijeceu o SUS, mas que prevaleceu o fortalecimento das equipes de saúde. “Ficamos honrados, por exemplo, quando conseguimos salvar vidas no nosso hospital de campanha.”

Secretária de Saúde de Rio Grande Serra</CS>, Maria José Zago destacou que a pandemia trouxe a necessidade de repensar completamente a atenção psicossocial, com tantas perdas e rupturas causada pela doença. “O SUS é a melhor assistência à saúde do nosso País e é por meio dele que chegará à vacina a todos.”

Desafio ainda é conscientizar a população a se prevenir

Há um ano, médicos e cientistas repetem que como a Covid-19 ainda não tem um medicamento comprovadamente eficaz no seu tratamento, o melhor é evitar a doença, com distanciamento físico, uso de máscara e higienização constante das mãos. No entanto, conscientizar as pessoas sobre esses cuidados ainda é um desafio, avaliou o gestor adjunto do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Erico Filev Maia.

“O maior desafio é controlar a taxa de transmissão (que ontem era de 0,91, ou seja, cada 100 pessoas contaminadas transmitem para outras 91 pessoas), o ritmo em que a doença se espalha, considerando a mobilidade da população”, afirmou. “Um aprendizado da pandemia é que a gente deve fazer de tudo para preservar a vida, e estamos lutando muito, mas o comportamento de parte da população faz com que o risco à vida seja maior”, completou.

Maia ponderou que a perspectiva de uma vacina pode ser uma das explicações para a aparente perca do medo que as pessoas têm de se contaminar, aliado ao prolongamento da pandemia, que se estende por mais tempo que a maioria das pessoas imaginava. “Isso faz com que a doença seja banalizada. É só a gente observar como na primeira onda todos estavam mais cautelosos e, agora, a gente vê as pessoas em festas, em aglomerações, em todo os lugares onde não deveriam estar”, completou.

Presidente da Associação dos Médicos Residentes da FMABC (Faculdade de Medicina do Grande ABC), Rodrigo Grizzo Barreto de Chaves também acredita que haja certo cansaço na população, que vai deixando de lado as medidas de prevenção, tanto pela duração da pandemia quanto pelos efeitos na economia do País.

Os médicos avaliam como preocupante o surgimento de novos subtipos do coronavírus, e que, embora seja necessário mais tempo para avaliar os impactos, é possível pensar em período ainda mais longo de pandemia, especialmente se eles forem menos responsivos às vacinas que já existem. “Esperamos que tanto a vacina quanto mudança no comportamento da população, nos ajudem a conter a disseminação”, afirmou Maia.

Sobre as medidas de contenção anunciadas recentemente, como toque de recolher entre 21h e 4h (São Caetano e Ribeirão Pires farão entre 23h e 5h e Mauá, entre 23h e 4h), os especialistas têm avaliação diversa. Enquanto Maia entende que qualquer iniciativa que reduza a circulação das pessoas é positiva, Chaves acredita que durante a noite a circulação é menor, e o impacto pode ser pequeno ou nulo. 

USCS participou do desenvolvimento de duas vacinas

A vacinação dos brasileiros e a esperança de que o País possa sair da pandemia de Covid-19 passam diretamente pelo Grande ABC. A USCS (Universidade Municipal de São Caetano) participou do desenvolvimento de duas vacinas: a Coronavac, parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech – que tem sido imunizante majoritário em aplicação no País –, e a vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.

A USCS foi um dos 22 centros de pesquisas do País que trabalharam na terceira e última fase de testes da vacina Coronavac. Ao todo, 12,4 mil profissionais da saúde do Brasil que atuam no atendimento a pacientes com a Covid-19 foram testados voluntariamente – cerca de 800 deles no centro clínico da USCS, localizado no Hospital São Caetano, no bairro Santo Antônio.

A universidade iniciou as testagens em voluntários no dia 31 de julho de 2020. A primeira pessoa a receber a aplicação do produto de pesquisa (vacina ou placebo) foi uma enfermeira que atua diretamente nos atendimentos de pacientes com o novo coronavírus.

O centro de pesquisa clínica da USCS também participou da testagem da vacina da Janssen. O estudo previu a participação de mais de 60 mil voluntários em todo o mundo, incluindo milhares de brasileiros. A empresa aguarda o registro da vacina nos Estados Unidos pelo FDA (Food and Drug Administration ou Administração de Alimentos e Medicamentos, em português), o que deve ocorrer nos próximos dias. O governo brasileiro estuda adquirir doses do imunizante, que ainda não foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

BALANÇO
O Grande ABC chegou ontem ao número de 130.315 casos de Covid-19 e 4.546 mortes em decorrência da doença. São Bernardo, que é a cidade com o maior número de casos (52.098), registrou o expressivo número de 1.484 infectados em 24 horas. A região tem 116.191 pessoas que já se recuperaram da doença.

No Estado de São Paulo, já são 2.014.529 casos confirmados e 58.873 óbitos. O Brasil teve ontem o maior número de mortes desde o início da pandemia, 1.582, e chegou a 251.498 vítimas fatais e 10.390.461 de pessoas infectadas.
 




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