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À espera de verba do Estado, Ribeirão Pires pode ter último dia de leitos provisórios

Sem recursos, cidade se recusa a admitir pacientes a partir de amanhã

Por Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
26/02/2021 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Ribeirão Pires vive dia D sobre a continuidade do hospital de campanha, que na quarta-feira tinha todos os 26 leitos ocupados com pacientes infectados pela Covid. A Prefeitura avisou o governo do Estado que só tem verba para manter o equipamento aberto até 10 de março e caso não receba aval hoje para a continuidade do serviço será o último dia de admissão de pacientes, já que terá de ser iniciada a desmobilização.

De acordo com Audrei Rocha, secretário de Saúde de Ribeirão Pires, caso o governo do Estado não banque a continuidade, os novos pacientes infectados pela Covid serão encaminhados à Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde) para transferência a outros hospitais administrados pelo governo estadual. “Hoje (ontem) a lotação está em 93%, mas chegamos ontem (quarta-feira) a 100%. Só baixou devido às altas médicas. Mas isso é rotativo. Se tivermos que fechar o hospital de campanha, a partir de sábado (amanhã) não poderei mais agregar pacientes. Preciso ir fazendo o desmame para entregar a estrutura até o dia 10. A partir daí, os novos casos da cidade serão passados ao Estado para que o governo sinalize onde os pacientes serão atendidos”, explica.

A situação também preocupa em outros municípios da região. Segundo a SP Covid, plataforma de monitoramento da pandemia gerida por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), da USP (Universidade de São Paulo) e do Cemeai (Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria), Santo André, São Caetano e Ribeirão Pires bateram recordes de internações na quarta-feira.

anto André somou 616 pessoas acamadas, o que representa aumento de 42,9% em comparação ao dia 11, quando o total era 431. O município está com 72,1% das vagas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ocupadas. São Caetano tem 60% dos leitos de UTI em uso e teve aumento de 47,8% de internados do dia 11 para quarta-feira, chegando a 204. Já Ribeirão Pires, no mesmo período, viu aumentar de 47 para 64 pessoas acamadas, acréscimo de 36,2%. Em São Bernardo o total de internados até quarta-feira era de 293, queda de 1,6% em relação aos dados do dia 11, quando tinha 298 pessoas internadas – ainda assim, a ocupação das UTIs está em 80%. Diadema está com 72% de seus leitos preenchidos e tinha na quarta-feira 423 pessoas em internação, aumento de 8,2% em relação ao dia 11. Mauá, que desativou o hospital de campanha em agosto, agora vê a taxa de ocupação de leitos de UTI bater em 77% nesta semana.

Questionada sobre quais medidas está tomando para que o sistema de saúde não entre em colapso, São Caetano afirmou retomar o hospital de campanha a partir de quarta-feira. O Paço de Mauá afirmou que está viabilizando a locação de leitos de UTI na rede pública para resolver a situação.

Para combater a alta nos casos Santo André adotará, a partir de amanhã, o lockdown noturno, assim como as demais cidades da região, com circulação restrita entre 21h e 4h – São Caetano e Ribeirão Pires seguirão as determinações do Estado, com restrições entre 23h e 5h; Mauá decretou entre 23h e 4h.
 

Especialistas defendem medidas rígidas

Fechamento de bares, restaurantes, casas noturnas e qualquer local que gere aumento da aglomeração de pessoas é uma das medidas que devem ser tomadas para baixar o número de casos e mortes por Covid, segundo Eduardo Alexandrino de Medeiros, presidente do departamento científico de infectologia da APM (Associação Paulista de Medicina).

“Vejo que algumas cidades, principalmente em países como Alemanha, Itália e Reino Unido, tiveram medidas muito rígidas de fechamento de bares e restaurantes para diminuir o fluxo de pessoas. É muito importante que essas medidas sejam tomadas para diminuir o número de casos”, explica. Medeiros defende que esses estabelecimentos trabalhem apenas com delivery neste momento.

O especialista defende também a não retomada das aulas presenciais neste estágio da pandemia. Para ele, o momento é de esperar, já que há grande aumento do número de casos. Medeiros ainda cita a importância de medidas de prevenção, como distanciamento, controle rigoroso do uso de máscaras por toda a população e higiene das mãos.

Mesmo com tudo isso, o médico afirma que aumentar o número de vagas para internação é essencial. Ele diz que é necessário reestudar os hospitais, avaliar convênios, mesmo com locais privados. “Muitas vezes hospitais que tenham leitos fechados (é preciso trabalhar) para que sejam reativados para responder a essa situação de aumento importante do número de casos de Covid”, comentou,

Docente do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marcelo Vilela Machado João vê solução a longo prazo com a vacinação em massa da população e cita exemplos de países como Israel e Alemanha, que estão com cobertura vacinal adiantada. Ele defende que as pessoas se informem bem a respeito, pois há muita gente com dúvidas e medo da imunização. “As pessoas me procuram com questionamentos, falam que não querem ser testes (das vacinas).”

Medeiros também defende o aumento da campanha vacinal no País. “Sabemos da escassez de vacinas. Isso dificulta bastante essa ação. Mas é importante que a gente fortaleça, especialmente na população acima de 60 anos, que é mais acometida pela doença”.
 




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