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PM e comunidade se unem em causa nobre

Capitão, educadora e líder comunitária juntam forças para afabetizar adultos em Santo André

Por Vinícius Castelli
do Diário do Grande ABC
23/08/2020 | 07:23
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Celso Luiz/DGABC


União entre a sociedade civil e a PM (Polícia Militar) tem feito a diferença na vida de moradores do Jardim Santo André. Em uma sala na 5ª Companhia do 10° Batalhão, no bairro andreense, adultos aprendem a ler ou aperfeiçoam a prática da leitura para que possam compreender e participar efetivamente dos assuntos que fazem parte da comunidade onde vivem. A ideia surgiu em uma das reuniões do Conseg (Conselho de Segurança), na qual a educadora Maria Cristina Lotto, 68 anos, notou que vários participantes tinham dificuldade para falar e até mesmo compreender os temas discutidos.

A iniciativa de Maria Cristina foi endossada pelo capitão da PM Raphael Toldo Antonagi, 36, que também participa do Conseg. Foi ele quem acionou a líder comunitária Sonia Cristina Augusto da Silva, 53, que rapidamente divulgou o serviço entre os moradores do Jardim Santo André.

O capitão explica que no 10° Batalhão há uma sala de aula boa, onde são passadas as instruções aos policiais no início de seus turnos. O trabalho, em seguida, “foi conseguir um quadro para poder escrever, caderno, lápis, borracha, apontador e massa de modelar”, explica Antonagi, que contou com ajuda da Prefeitura de Santo André para conseguir os materiais.

As aulas começaram em outubro, sempre aos sábados, com duas turmas. Uma de pessoas com algum conhecimento e outra com analfabetos. No total, eram oito alunos. Segundo Maria Cristina, o grupo que já sabia algo não durou muito, por falta de comprometimento, e a classe foi desfeita. Mas os que não sabiam ler nem escrever se empenharam.

“Começamos da estaca zero. Eles não sabiam nem o que era alfabeto. A autoestima desse pessoal foi melhorando muito. Era visível na forma de se comportarem e de se vestirem”, relata Maria Cristina, que é formada em química e está aposentada. “Gosto desta coisa de ajudar. Se eu conseguir que eles saibam escrever o nome deles e que consigam fazer as quatro operações mais simples em matemática, já vale a pena”, afirma.

Cristina Maria da Silva de Oliveira, 46, participa do curso e mergulhou de cabeça na empreitada. Ficou sabendo da oportunidade por meio da líder comunitária e não deixou a chance passar. “Quero aprender. É ruim você não saber ler, escrever, não saber fazer nada. É difícil para a gente”. Ela conta que nunca teve chance de estudar. “Meu estudo foi trabalhar e ajudar os pais. Não sei falar muito, não sei falar bonito. Falo as coisas erradas”, explica.

Pernambucana, Cristina Maria chegou a Santo André há 19 anos para morar com a irmã. Na região, trabalhava como empregada doméstica, mas perdeu o emprego após sua patroa ter sido acometida pelo mal de Alzheimer. “Não arrumei mais serviço, pois não tenho leitura. Atualmente vendo produtos de beleza destas revistinhas”, comenta.

Em março, com a chegada da pandemia da Covid-19 ao Brasil, as aulas foram suspensas, mas Cristina diz que não vê a hora que tudo se normalize para retomar o aprendizado. “Estou tentando. Quero aprender meu nome, conhecer as letras e poder ler”, afirma a pernambucana.

Sonia, que realiza trabalho comunitário há cerca de três décadas, celebra junto do capitão e da educadora a oportunidade que estes adultos estão tendo. Ela diz que os alunos não sabiam escrever o nome e agora já identificam o alfabeto. “É muito bom para eles, cria novos horizontes. Percebemos na atitude deles. Já assinam o nome e sentem orgulho. Isso fez a diferença na vida deles” garante.

O que se espera agora é que, quando a pandemia passar, letras e mais letras voltem a fazer parte dos sábados da turma. “Estou ansioso pela volta das aulas. Tanto quanto a professora”, diz o capitão.

Antonagi, que foi o elo entre todas as partes, diz estar satisfeito em poder ajudar a sociedade, mas acredita ser o maior beneficiado com tudo isso. “A maior felicidade é dar felicidade. Parece que quando a gente quer ajudar o outro, não falta oportunidade para isso. Acredito que quando a gente consegue fazer um projeto social funcionar é como um filho nosso que enche a gente de orgulho, nos impulsiona a sermos pessoas melhores”, finaliza o capitão.
 




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