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Ouvidoria da Polícia vai apurar abuso de poder
Leandro Calixto
Do Diário do Grande ABC
17/09/2005 | 07:06
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 A Ouvidoria da Polícia promete que até o início da próxima semana vai encaminhar à Corregedoria da Polícia do Estado a abertura de um inquérito para apurar as denúncias feitas pela manicure Railda Duarte Coutinho Cabral, 40 anos, de São Bernardo. Por causa de uma discussão com funcionários da Escola Estadual Ayrton Senna da Silva, no Terra Nova II, ela teria sido algemada, presa e levada de camburão com a sirene ligada até o 3º Distrito Policial na última quarta-feira. A manicure acusa policiais militares de terem agido de forma truculenta e cometido abuso de autoridade. Toda discussão ocorreu porque a filha de Railda, J.C, 14, teria sido impedida de entrar na escola por chegar atrasada.

O ouvidor Antônio Funari Filho espera receber a denúncia formal da manicure para encaminhar a ocorrência à Corregedoria. Railda disse que na segunda-feira vai formalizar a queixa. Caso seja comprovado abuso de poder por parte dos PMs Adeildo de Barros da Silva e Kléber de Oliveira, eles poderão ser suspensos e até expulsos da corporação. A expulsão, no entanto, é pouco provável, já que o delito não é considerado gravíssimo pela Polícia Militar. A apuração dos fatos denunciados pela manicure deve ser concluída em até 45 dias a contar da data de abertura do inquérito.

"Toda denúncia que chega até a Ouvidoria é devidamente apurada. Até mesmo porque somos um órgão independente. Por isso, é importante que a população denuncie quando se sentir prejudicada. Só assim, será possível diminuir os casos de abuso de poder", afirma o ouvidor Antônio Funari. Embora não queira entrar em detalhes sobre o episódio envolvendo a manicure do Grande ABC, o ouvidor achou estranho as conseqüências da prisão de Railda. "Tendo como base o teor da reportagem do jornal, acho que faltou bom senso. Um problema da área da educação não poderia terminar na delegacia", opina.

Os policiais alegaram que só prenderam a manicure porque ela não teria apresentando a carteira de identidade e ainda havia tentado sair da unidade escolar. "Não existe lei que obrigue as pessoas a andar com os documentos. Os policiais poderiam ter levado a mãe até a sua casa, já que ela mora bem próximo à escola", completa o ouvidor.

Já a Corregedoria da Polícia informou que a apuração deste caso pode ser realizada pelo comando da Polícia Militar do Grande ABC, que tem autonomia para investigar o episódio, já que todas as partes envolvidas são conhecidas. O comando da PM, por sua vez, disse que se a manicure procurar a polícia será recebida reservadamente e sua solicitação será devidamente apurada.

Volta – Um dia depois de ser impedida de entrar na EE Ayrton Senna da Silva, a aluna J.C. regressou aos estudos normalmente. Ela tem freqüentado as aulas desde quinta-feira. Ela afirma que a direção não a procurou para esclarecer o assunto. Por outro lado, ela foi obrigada a suportar calada algumas piadas sobre o episódio no qual sua mãe foi protagonista. "Teve um aluno que me disse no primeiro dia: ‘Lá vem a filha da cadeieira (sic.)", contou a estudante.

A cena em que sua mãe é levada detida dentro do camburão, segundo a adolescente, não sai de sua cabeça. "Foi muito humilhante. Eles (policiais) mandaram minha mãe calar a boca na frente de todo mundo. E disseram ainda que ela seria presa por bem ou por mal. Tudo poderia ser resolvido na conversa. Mas não, eles foram bastante agressivos", diz a estudante.

Aluna da 8ª série, J.C. divide seu tempo no colégio com a tarefa de cuidar de outros três irmãos enquanto a mãe trabalha no salão de cabeleireiros. "Como sou viúva, ela (filha) e o irmão mais velho são meu braço direito. Não tenho o que reclamar de meus filhos", enfatiza a manicure, mãe de cinco filhos.




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