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Carteira de motorista é segundo plano na região

Queda no número de novas emissões do documento é impulsionada pelo avanço dos aplicativos

Por Juliana Stern
03/09/2018 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Moradores da região têm perdido cada vez mais o interesse em tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) assim que completam os 18 anos. Dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo apontam que a emissão da primeira via do documento teve queda de 30% no Grande ABC entre 2014 e 2017 – passaram de 45.683 para 32.213. Especialistas destacam os aplicativos de transportes como um dos motivos para tal cenário.

A situação regional segue tendência observada em nível nacional. Levantamento da empresa Ipsos, com números fornecidos pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) mostra que a quantidade de emissões de CNHs no País passou de 3 milhões para 2,1 milhões no período. A queda observada nos últimos quatro anos, apesar de constante, foi mais acentuada em 2016, o que coincide com o ano em que aplicativos como Uber começaram a funcionar na região. “Não preciso de um carro, quando ônibus e trem já são o bastante para o dia a dia. Se é algum lugar diferente ou mais longe, pego um Uber. Carro seria uma dor de cabeça a mais”, considera a operadora de telemarketing e estudante de História Ingrid Gonçalves Maffi da Silva, 21 anos.

Para o professor de Engenharia Civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana) e especialista em Transportes Creso de Franco Peixoto, as novas formas de condução são um dos principais motivos pelo desinteresse em conduzir. “Formas de se locomover estão mudando e ficando mais fáceis. O metrô e trem continuam se expandindo e aplicativos de carona estão muito mais presentes”, afirma. O custo de emissão da primeira CNH e da manutenção de um carro particular também explicam essa queda. “Um carro de aplicativo chega a ser mais barato do que pegar ônibus”, acrescenta.

No Estado de São Paulo, gasta-se, em média, R$ 2.000 para a emissão da CNH categoria B, que permite conduzir carro, caminhonete, camioneta e utilitário. Sendo quase R$ 300 apenas com taxas do Detran e os exames médico e psicológico obrigatórios. “Até quero dirigir, mas agora tenho outras prioridades. Prefiro gastar meu dinheiro com um computador novo, que eu uso para o trabalho e cursinho”, diz a atendente Letícia Caroline de Sousa Leite, 21.

Para o economista da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio, abandonar o veículo próprio e depender só de transporte público e de aplicativos pode ser melhor, mas com ressalvas. “Depende do quanto a pessoa usa o carro. Tem de calcular os gastos e ver se compensa”, afirma. Para o economista, um cenário em que os aplicativos valem a pena é quando a pessoa não precisa se deslocar para muito longe no dia a dia, ou não usa o veículo com muita frequência. “Imagina comprar um produto de R$ 40 mil, deixar na garagem e só usar para passear. Não faz sentido.”

Jovens vêm a CNH como responsabilidade indesejada
Levantamento da empresa Ipsos com base nos dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) mostra que jovens entre 18 e 21 anos, idade mais comum para tirar a primeira CNH, estão perdendo a euforia de aprender a dirigir. Para o especialista em Transportes Creso de Franco Peixoto, este desinteresse é fenômeno irreversível e explicado pela falta de importância que esse público dá para o documento. “É um ponto cultural que vem crescendo. Os jovens não querem assumir essa responsabilidade.” Para a desempregada Maya dos Santos, 21, aprender a dirigir significaria mais afazeres. “Tudo eu teria que levar, trazer, comprar. Não quero essas obrigações.”

Exemplo de quem ainda sonha em aprender a dirigir como marco da vida adulta é o estagiário de Eletrônica Iago Tavares da Silva, 18, que foi aprovado no teste de direção na última quinta-feira, em Santo André. “Foi um alívio e uma realização”, diz o garoto, que usou o salário do seu primeiro emprego para pagar a carta. Para outros a vontade existe, só falta o tempo. “Não vejo a hora de tirar a carta. Não aguento mais transporte público”, diz a estudante de Direito Sumaya Cristina Cardoso, 21.




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